Fumaça em Rondônia sufoca a população e mostra a verdadeira face do agronegócio

No dia 15 de agosto, a população de Porto Velho (RO) acordou com um dos piores índices de poluição do ar do país segundo os medidores da IQAir. O agronegócio é o grande causador de queimadas e conflitos no estado em disputa de terra.

Redação RO


BRASIL – Além de todos os problemas que a fumaça traz para a nossa respiração, causou o fechamento temporário do aeroporto de Porto Velho devido a densidade da nuvem de fumaça. A mídia burguesa tem alertado sobre os riscos à saúde e como se cuidar nessa situação, porém não há um debate sobre quem é o principal causador dessa crise.

O uso do fogo nos sistemas agrícolas tradicionais é um saber ancestral e muito diferente dos incêndios criminosos que visam a grilagem. Em diversos ecossistemas, como florestas, campos, áreas úmidas e savanas, há tradições de manejo do uso do fogo para promover a fertilização da terra para novo plantio (como na roça de toco, coivara ou itinerante), para manejar pasto nativo para criação de gado e/ou para a rebrota de algumas espécies de uso extrativista.

Esse processo é parte da constituição da agrobiodiversidade ao longo do tempo, ou seja, o cultivo consciente da combinação de uma diversidade de espécies vegetais de interesse humano, seja para alimentação, criação animal, artesanato, arquitetura, medicina ou rituais.

Esse fogo manejado – realizado em sistemas tradicionais – é feito com base em regras consuetudinárias que respeitam o tempo e o lugar certos (áreas pequenas e de uso rotativo) e a forma de fazer o fogo, garantindo que ele não se alastre. Os povos e comunidades visam preservar as matas e, por isso, cuidam desse processo e estabelecem protocolos coletivos.

Os incêndios criminosos, ao contrário, têm a finalidade de devastar para consolidar a grilagem. São realizados especialmente em períodos secos e a partir de vários focos, muitas vezes usando árvores e galhos em leiras, em áreas preparadas para que o fogo se alastre. Levantamentos sobre os focos de incêndio a partir de propriedades privadas demonstram essa dinâmica criminosa que o governo do fascista Bolsonaro procurou acobertar, criminalizando os sistemas tradicionais.

Segundo dados do Projeto Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE), a situação atual dos incêndios na Amazônia, com 47,7% dos focos de incêndio registrados no país, destaca a urgência da situação. Em Rondônia, o aumento exponencial dos focos de incêndio, que saltou de 1.715 em agosto de 2023 para 1.856 já antes do fim de agosto de 2024, reflete uma escalada preocupante na devastação ambiental.

Esse crescimento acentuado é ainda mais alarmante quando se considera que o mês de setembro historicamente registra o maior número de queimadas, com 2.651 casos em 2023. Esses números não são meramente estatísticas, eles nos mostram qual a real situação do povo rondoniense enfrenta. O alto índice de focos de incêndio não é uma causalidade e sim um programa muito bem executado, por mais que o governo tente colocar a culpa na população com propagandas dizendo: “Evite queimadas e desperdícios de água, faça sua parte!”

Eleito e reeleito sob a influencia do bolsonarismo, o Governador de Rondônia, o Coronel Marcos Rocha (União Brasil), manteve a política fascista de conluio junto aos latifundiários do estado contra o meio ambiente em Rondônia. Projetos de redução de áreas de conservação ambiental como o PLC 080/2020 que ajudou os grileiros de terra e dificultou as entidades de fiscalização. Rondônia registrou um aumento de 113,7% de conflitos no campo em 2023 em comparação com o ano anterior. Esse número é o maior em sete anos, de acordo com a série histórica apontada no relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Além de fortalecer a grilagem, esse tipo de incêndio buscar limpar grandes áreas para virar pasto posteriormente. Porém, num período extremamente seco o fogo vai se alastrar facilmente, como aconteceu em Vilhena, interior de Rondônia, no dia 14 de agosto. Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo destruiu cerca de 30 hectares de vegetação por mais de cinco horas.

Por isso, é preciso defender um novo programa de sociedade que não busque acabar com as nossas florestas, denunciando o grande latifúndio que só busca se expandir, sempre visando o lucro, mesmo que isso custe cobrir um estado de fumaça. Lutemos pela reforma agrária popular e manter nossa floresta de pé.

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