Organização e ousadia garantiram conquista da sede da Casa Ieda no DF

No mês passado, a Casa Ieda Santos Delgado conquistou uma sede definitiva para atender as mulheres do Distrito Federal. Dois anos de luta constante do Movimento de Mulheres Olga Benário foram decisivos para essa vitória

Movimento de Mulheres Olga Benário | Brasília (DF)


Em outubro de 2022, na expectativa das eleições e da derrota do fascismo nas urnas, o Movimento Olga no Distrito Federal decidiu ocupar um imóvel que estava abandonado há mais de dez anos e transformá-lo em local de acolhimento para mulheres – parcela da população que mais sofreu com os retrocessos daqueles últimos quatro anos. Assim, nascia a Casa Ieda Santos Delgado, uma homenagem à militante da ALN que teve sua vida tirada por lutar pela liberdade do povo durante a ditadura militar.

A vitória eleitoral foi muito importante, mas, para derrotar o fascismo, é preciso estar continuamente em luta. Neste sentido, a Casa Ieda significou um norte para as trabalhadoras. De lá, organizamos panfletagens, o Natal Sem Fome do MLB, leituras e debates do jornal A Verdade, oficinas de elétrica, grafite, fotografia, música e teatro, aulões pré-ENEM com professores do MLC, aulas de yoga, capoeira e Krav Magá, plenárias de apresentação da Unidade Popular, festival de música e mutirões para construção de horta. Experimentávamos o poder popular e nos orgulhávamos de estar em um espaço livre da fome.

Entretanto, a mando do milionário governador Ibaneis Rocha (MDB), que nada se importa com o povo do DF (ver no site do Jornal as denúncias sobre o caos na saúde do DF), sofremos duas reintegrações banhadas à violência: gás de pimenta, intransigência policial, atropelamento, apreensão ilegal de bens e até prisão. Mas nada disso nos intimidou. Organizamos a Casa Ieda Itinerante, visitando cidades periféricas do DF, em parceria com escolas públicas, para divulgar o Movimento e levar acolhimento e informação para as mulheres. Finalmente, em 2023, ocupamos outro imóvel – afinal, o governador, após nos despejar, mandou depredar o primeiro prédio, retirando suas telhas para ficar inutilizável e virar um enorme foco de dengue.

Da nova ocupação, saímos após alguns dias, mas com um grande ato pela sede definitiva da Casa Ieda e com o compromisso de um grupo de trabalho com a Superintendência de Patrimônio da União (SPU) para viabilizar o tão sonhado espaço.

Quem luta, conquista

Neste ano, dia 27 de junho, a União cedeu um imóvel para a Casa Ieda Santos Delgado. Uma grande vitória para as mulheres na Capital do país, região que enfrenta o quinto maior índice do país de feminicídios, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, atrás de Mato Grosso, Acre, Rondônia e Tocantins.

“Foram dois anos, muitas reuniões na SPU e apoio coletivo. Quando saiu a notícia, foi muita empolgação. A gente fez a primeira ocupação com algumas militantes e fomos crescendo. Sem essa ousadia, poderíamos não ter hoje esse imóvel para colocar em prática nossos planos de organizar mais e mais mulheres, pelos nossos direitos e pelo nosso objetivo maior que é o socialismo”, diz Thaís Oliveira, coordenadora do Movimento Olga Benario no DF.

Com o imóvel definitivo da Casa Ieda, temos novos desafios: abrir suas portas para todas as mulheres que desejam lutar; criar uma grande rede de apoio com psicólogas, advogadas, assistentes sociais e outras profissionais voluntárias; fazer formações, atividades de finanças e eventos artísticos e culturais. Outro desafio será a reforma, pois o imóvel estava fechado há muito tempo, se deteriorando. Precisamos fazer mais mutirões e campanhas de financiamento e doação de mobília e eletrodomésticos. São desafios grandes, mas que se apequenam quando vemos o quanto já foi feito, quantas vidas já foram salvas ou mudadas nesses 13 anos de existência do Movimento Olga no Brasil.

Dia 24 de agosto será nosso Ato de Inauguração. Momento para celebramos e reafirmarmos que esta conquista é um importante passo para fortalecer o grau de organização e luta das mulheres.

Transformar a dor em luta

A essência do sistema em que vivemos, o capitalismo, é o abismo social. Um punhado de bilionários, de um lado e, de outro, milhões de pessoas sobrevivendo com baixos salários, jornadas exaustivas de trabalho, fome e miséria. Quando se é mulher e pobre, somam-se a dupla jornada de trabalho, salários ainda menores e as mais diversas violências.

Com toda essa situação, não nos resta outra opção que não seja a luta. Esse sistema perverso e desumano precisa acabar. Foi justamente para isso que o Movimento Olga foi criado, para ser uma ferramenta de libertação, com a clara convicção de que a verdadeira emancipação da mulher só será possível com a vitória do socialismo e temos pressa!

Desde 2016, o Movimento Olga iniciou uma nova etapa da luta feminista em nosso país, realizando ocupações de mulheres. Já organizamos mais de 20 Casas, distribuídas por todas as regiões do país. Se os governos se omitem em enfrentar a urgente e persistente questão da violência de gênero, façamos nós as alternativas. Sem recursos, mas com muito convencimento e ousadia, ocupamos, revitalizamos e transformamos imóveis abandonados – que não cumpriam qualquer função social –, em grandes exemplos de poder popular, resistência e organização coletiva. A partir daí, mais e mais companheiras se organizam e novos núcleos de base do Movimento surgem.

Organize sua revolta! Lute com o Movimento Olga Benario!

Matéria publicada na edição nº 297 do jornal A Verdade

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