Antagonizar com a imprensa é um erro, analisa cientista político sobre eleições

Por Francisco Costa

Durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), houve um aumento considerável de ataques contra a imprensa. O movimento se tornou prática, inclusive, entre alguns políticos alinhados com o ex-chefe do Executivo. No pleito deste ano, também tiveram candidatos que preferiram não conversar com jornalistas, o que não foi positivo para o projeto eleitoral. Mas o resultado desse comportamento, avalia o professor e cientista político Marcos Marinho, é um erro para o próprio segmento.

O cientista político observa que existem candidatos que se apoiam nas redes sociais para esnobar as mídias tradicionais. Segundo ele, isso “não faz sentido nenhum”, sobretudo para quem vai disputar um cargo majoritário, como prefeito, governador ou presidente.

“É você abrir mão de um espaço que já tem uma audiência consolidada que pode te colocar em outros círculos sociais que talvez você não tenha acesso”, observa. “Então, quando um candidato menospreza o espaço da mídia tradicional, ele está simplesmente negando a possibilidade de conversar com pessoas que não estão na bolha dele.”

Neste ano, em Aparecida de Goiânia, o candidato Professor Alcides (PL) saiu na dianteira nas pesquisas. Contudo, uma estratégia do marketing fez com que ele não participasse de sabatinas e debates no primeiro turno, assim tomando uma “virada” nas urnas. Na segunda etapa, o próprio postulante ao Executivo aparecidense entendeu a situação como equívoco. Já era tarde.

O professor Marcos Marinho ressalta que, mesmo com presença nas redes sociais, é comum que a pessoa não tenha a mesma audiência das mídias tradicionais. “Se eu vejo um grande jornalista entrevistando o meu candidato ou um político que eu simpatizo, e ele sai bem e a conversa é boa, então já existe uma predisposição para a gente sentir que há ali uma validação. A própria mídia tradicional, os jornais, as sabatinas, elas legitimam o candidato.”

Para o cientista político, a presença do postulante a cargo eletivo na mídia, se bem construída, com uma fala propositiva e que vai ao encontro do que quer ouvir o eleitor, garante reconhecimento, pois o veículo de comunicação traz o peso de uma chancela. “Isso dá validação.”

Ainda de acordo com ele, a comunicação, principalmente a política, faz sentido na cabeça do eleitor pela somatória dessas mensagens que chegam de vários canais. “Negar a força da imprensa, da mídia tradicional, é estupidez. É não entender o processo da comunicação”, diz e reforça: “Ignorar os meios tradicionais de comunicação é falta de conhecimento, é falta de entendimento do processo de comunicação política.”

Institucionalização da violência contra jornalistas

Relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgado em 2023 revela que, de 2019 a 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas. Em análise mais ampla, no primeiro ano daquela gestão, de modo geral – não somente o ex-presidente –, foram 208 casos de violência contra os profissionais da imprensa, 54,07% a mais do que os 135 episódios de 2018.

Já em 2020, foram 428, o que significou um aumento de 105,77%, se comparado com 2019. Em 2021, foram 430 ocorrências – um novo recorde –, enquanto em 2022, ano eleitoral, 376, uma pequena queda. Os dados do relatório incluem ameaças, hostilizações e intimidações, além de agressões físicas, verbais, ataques virtuais, cerceamentos à liberdade de imprensa por ações judiciais, impedimentos ao exercício profissional etc. (Especial para O Hoje)

 

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