Refúgio dos Anjos: o recanto LGBTQIA+ no centro do Guamá

O público LGBTQIA+ em Belém sofre com a carência de espaços seguros de entretenimento e interação ainda em 2024, com a ascensão e queda de espaços conhecidos e frequentados que foram fechando, se reduzindo e perdendo espaço, um por um…. menos um.No coração do bairro do Guamá, um bar se manteve e se mantém em pé, com um público cativo e uma comunidade própria que se construiu e continua a se construir com o público queer de todas as gerações, um verdadeiro refúgio: o Refúgio dos Anjos. Aberto em 13 de setembro de 1996, período em que quase não existiam espaços para o público em Belém, o bar para “entendidos” nasceu no quintal de uma casa, construído e idealizado pelos irmãos Ângela e Expedito Quaresma. Conteúdo relacionadoBoyceta: entenda o que é a nova identidade transParlamento da Tailândia aprova o casamento LGBT+ no paísEvento “Ninho de Cobra” celebra a cultura LGBT+ AmazônicaFoi aí que nasceu o famoso Bar da Ângela, como é conhecido pelos frequentadores. Batizado inicialmente de “Arte de Pecar”, que remetia ao “pecado da homossexualidade” e à beleza da arte, o bar buscava criar o ambiente seguro dos sonhos para um grupo que, à época, não tinha onde ser livre.”Tinha feito uma viagem para a Europa, lá passei um tempo trabalhando e quando cheguei em Belém resolvi montar um bar que fosse aconchegante e acessível para a população LGBTQIAPN+. Como gostaria que fosse se procurasse um local pra frequentar, cerveja gelada e barata e que tocasse de tudo um pouco”, conta a proprietária, Ângela, que até hoje, quase 28 anos depois, continua a gerenciar o bar com a esposa, Márcia Sabino.Com o boca a boca, o bar cresceu e se tornou um point GLS (a sigla utilizada na época) conhecido. Infelizmente, também por quem não deveria. 

Assim como aconteceu (e acontece) em diversos outros lugares, o Arte de Pecar começou a sofrer com batidas policiais recorrentes e com o preconceito. O nome, também, passou a ser associado à prostituição, quando o bar foi renomeado para o que se mantém até hoje: Refúgio dos Anjos.O bar segue aberto aos fins de semana. Um espaço de acolhimento e felicidade, com churrasquinho aos domingos. 

História de amor

O bar também construiu uma parceria de longa data e um amor de décadas. Foi no bar Refúgio dos Anjos que Ângela conheceu a esposa, Márcia Sabino.Márcia, que já era frequentadora do bar há algum tempo, se tornou, há 15 anos, parte ativa da história do lugar que continua a mudar a vida de gerações de pessoas queer de Belém.

“Somos um casal homoafetivo que tem filhos adotivos e que ainda enfrenta muitos preconceitos carregados de julgamentos, que expressam absoluta ignorância sobre as famílias formadas por um casal LGBT. Juntas há 15 anos e vivendo cada dia renovando esse sentimento lindo e verdadeiro que existe entre nós”, disse Márcia. As duas são mães de Adriane e João Felipe, de 17 e 16 anos, e administram juntas o bar.Espaço de luta e resistênciaPara Ângela, o bar já vai além de um espaço de lazer e entretenimento, e se tornou um espaço e uma ferramenta de cidadania para a população LGBTQIAP+ de Belém. “Acredito que uma das fórmulas de sucesso para o Bar resistir a tanto tempo é o fato de ser além de um bar, de ser esse espaço de acolhimento que a população reconhece, vai e participa”.Quer ver mais notícias? Acesse nosso canal no WhatsAppNos mais de 27 anos de história, o bar já abrigou oficinas, rodas de conversa, minicursos, exibições de filmes e mais, todos visando fortalecer a luta por direitos.

Ela ressalta que não basta apenas estar na ativa, mas que é importante estar na ativa onde está, em um bairro de periferia, um espaço de luta e resistência. “Já somos muito desprezados, invisibilizados, agredidos e adoecidos pela sociedade LGBTQIfóbica, daí precisamos, entre nós, nos acolhermos e respeitarmos”.

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