Pressão geopolítica e climática marcam negociações do G-20 no Rio

O G-20 no Rio de Janeiro enfrenta desafios nas negociações finais. Os membros europeus do G-7 pressionam o Brasil a incluir em seu comunicado uma condenação aos ataques russos à infraestrutura de energia da Ucrânia. Esse ataque ocorreu depois que os diplomatas do G-20 fecharam o rascunho do texto, e os países europeus alegam que o cenário geopolítico foi alterado.

Além disso, o Reino Unido e a França manifestaram descontentamento com a redação atual do documento, que trata de questões climáticas. A forma como o G-20 abordará a guerra na Ucrânia tem gerado divisões entre os países. França e Reino Unido defendem a inclusão de um trecho semelhante ao de 2022, na Cúpula de Bali, que condena a agressão russa. O Brasil, por sua vez, tem tentado evitar que a menção à Ucrânia cause um efeito colateral de incluir também a guerra em Gaza, o que complicaria ainda mais as negociações.

O governo brasileiro argumenta que adicionar uma crítica aos ataques à infraestrutura ucraniana poderia resultar em um pedido por parte da Rússia e dos países árabes para incluir uma menção aos ataques em Gaza. A palavra “guerra” não aparece no documento final, sendo substituída por “conflito”. A situação ainda está em aberto, com o Reino Unido, China, Argentina e Estados Unidos aguardando a aprovação de seus respectivos governos.

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Keir Starmer, premiê britânico, chegou ao Rio com uma advertência: se o G-20 não reforçar seu apoio à Ucrânia, enfrentará “consequências inimagináveis”. Ele destacou que a segurança é prioridade para seu governo. Contudo, a posição da França é mais cautelosa. Fontes do Palácio do Eliseu indicaram que a França busca retomar o tom de condenação à agressão russa, mas esse tom foi abandonado no ano anterior, em Nova Délhi, na Índia. No Rio, o texto atual é mais suave e busca um equilíbrio.

O Brasil tenta, portanto, evitar um cenário de maior polarização, onde a menção aos ataques russos possa ser contraposta a críticas ao comportamento de Israel em Gaza. Atualmente, o rascunho do documento inclui parágrafos separados sobre cada conflito e reforça os princípios da Carta das Nações Unidas.

Esse impasse geopolítico é apenas uma das questões em disputa. No âmbito climático, os países desenvolvidos exigem mais comprometimento dos emergentes, como Brasil e China, na descarbonização global. Também cobram que as nações em desenvolvimento apresentem metas mais ambiciosas. Até agora, não houve acordo sobre a forma de financiamento climático, com os europeus insistindo em que os países em desenvolvimento compartilhem o ônus dessa transição.

Enquanto isso, a Argentina representa outra fonte de tensão nas negociações. O presidente Javier Milei tem resistido a temas como a taxação de grandes fortunas e a igualdade de gênero. A cúpula busca um consenso que permita à Argentina assinar o documento final, mas a posição de Milei ainda é incerta. Diplomatas do Brasil tentam convencer os argentinos de que o isolamento político seria uma estratégia prejudicial, dado o peso do consenso entre os países do G-20.

Se não houver acordo, uma alternativa seria um comunicado fragmentado, no qual cada país indicaria os pontos com os quais discorda. No entanto, esse tipo de documento seria considerado um fracasso diplomático, prejudicando a imagem do evento. As negociações seguem intensas e, apesar das divergências, o Brasil e os outros países tentam encontrar um terreno comum para o G-20.

O conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia tem sido o principal ponto de divergência nas discussões do G-20. A pressão dos países europeus é intensa, mas a postura cautelosa do Brasil tenta manter o equilíbrio, evitando aprofundar a divisão entre os membros do grupo.

Com o apoio de aliados e a negociação constante, o governo brasileiro tenta costurar uma solução que permita avançar em temas chave sem comprometer a unidade do G-20. O resultado da cúpula, marcada para terça-feira, 19, ainda é incerto, e o caminho até o consenso é longo. As negociações climáticas e comerciais também permanecem como pontos de tensão, exigindo mais tempo e diálogo para encontrar um equilíbrio entre as demandas dos países ricos e os interesses dos países emergentes e em desenvolvimento.

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