Plano de assassinatos políticos amplia obstáculo do projeto de anistia

O atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, com a explosão de bombas, na noite de quarta-feira (13), impactou o País de diversas formas. Nos bastidores da política nacional, o comentário, logo após o ocorrido, era que um dos principais impactos, do ponto de vista político, estava relacionado ao projeto de lei que dá anistia aos condenados pelos ataques do dia 8 de janeiro.

Nos dias seguintes, a reportagem mostrou a avaliação de cientistas políticos sobre o assunto. Um dos consultados foi Luiz Signates, doutor em Ciências da Comunicação e especialista em Políticas Públicas. Para ele, o atentado em Brasília colocou a “pá de cal” que faltava no projeto da anistia em tramitação no Congresso.

Mesmo isolado e individual, o ato possui um valor simbólico que não tem como ser ignorado, avaliou o professor. “O contexto do ódio bolsonarista ao Supremo Tribunal Federal (STF) é um sintoma de algo muito mais grave, que é a sanha fascista que a extrema-direita tem assumido no mundo e, no Brasil, a partir do bolsonarismo. Ficou mais do que evidente que se trata de uma vertente a ser combatida com rigor, sob pena de perdermos o tecido político, já frágil, que sustenta a democracia brasileira.”

Segundo ele, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com base em suas últimas declarações – pacifistas e apaziguadoras -, já percebeu que a postura que passou a vida alimentando não o levará a lugar nenhum, senão ao cárcere. “Essa mudança dele também é sintoma de que talvez o Brasil esteja enfim virando a página do golpismo. Resta agora apenas o Judiciário funcionar, de forma exemplar, para que essa questão se consolide”, diz.

Como se não bastasse o atentado recente, menos de uma semana depois a história ganhou um novo capítulo. O fato novo ampliou significativamente as preocupações dos bolsonaristas que esperavam  que o projeto da anistia não sofresse impactos. 

Leia mais: Documentos revelam planos golpistas com assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes

Na última terça-feira, 19, foi a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação que trouxe à tona um plano que, se confirmado, representa uma ameaça direta às instituições democráticas brasileiras. A investigação aponta para uma trama que envolvia o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF, reforçando as suspeitas sobre articulações golpistas no período pós-eleitoral de 2022.

Os alvos da operação incluem nomes próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre os presos estão o general reformado Mario Fernandes, ex-assessor da Presidência durante o governo Bolsonaro, e três militares com formação em Forças Especiais, os chamados “kids pretos”. O grupo é acusado de planejar ações contra as autoridades máximas do país, como assassinatos por envenenamento e atentados a bomba, com o objetivo de impor uma ruptura institucional.

A descoberta dos planos ocorreu durante a análise de materiais apreendidos em outra investigação, a Operação Tempus Veritatis, iniciada em fevereiro deste ano. Documentos encontrados pela PF detalham o planejamento do suposto golpe, dividido em cinco fases, incluindo a criação de um “gabinete de crise” que assumiria o controle político do país. A complexidade do plano indica um nível elevado de organização e reforça os indícios de que parte da cúpula militar e política, próxima a Bolsonaro, esteve envolvida.

A tentativa de golpe de Estado não é apenas uma ameaça à integridade física de autoridades de alto escalão; é um ataque ao coração do sistema democrático. Ainda que o relator do projeto de anistia na Câmara dos Deputados, Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), tenha suavizado a situação ao afirmar que tentaram “jogar no colo da direita” o ataque a bomba ao STF, o caso da última terça tirou, por completo, o sono daqueles que mantém viva a esperança de anistia. Com isso, a leitura nos bastidores da política nacional é só uma: o que já era difícil, se tornou, minimamente, três vezes mais. (Especial para O Hoje)

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