Senado pode ser menos receptivo a Lula que na era Pacheco

O Senado Federal, apesar de eventuais divergências, foi receptivo ao governo Lula (PT) durante a gestão do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que termina no próximo mês. O mesmo pode não se repetir com Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Apesar do próprio Alcolumbre não ter estranhamento com o governo, ele deve montar uma chapa muito mais plural que a de Pacheco. O mineiro derrotou, em 2023, o candidato do PL, Rogério Marinho (PL-RN), deixando o partido sem espaços na Casa Alta do Congresso.

Alcolumbre, por sua vez, contou com o apoio do PL e deverá distribuir espaços na chapa. Não só na mesa diretora, mas em comissões, encerrando o isolamento da legenda de Jair Bolsonaro (PL) neste biênio que passou.

Doutor em Ciências da Comunicação e especialista em Políticas Públicas, o professor Luiz Signates observa que as relações do governo com o Senado não podem ser reduzidas à pessoa do novo presidente da casa. Reforça, ainda, que além do apoio do PL, Alcolumbre também tem o apoio do PT para a sucessão de Pacheco.

“Mas, sem dúvida, novas dificuldades devem ser postas a Lula em seu mandato. Alcolumbre tem tradição governista, mas parece menos disposto a conter a oposição do que foi Pacheco. É possível, então, que as relações se invertam e Lula tenha mais facilidade com a Câmara do que com o Senado, a partir de então.” Na Câmara, o favorito é Hugo Motta (Republicanos-PB), tido como conciliador.

Ainda conforme Signates, tudo vai depender do desempenho político e de imagem que o governo Lula produzirá, ao longo de 2025, “pois o olho dos parlamentares já está fixado nas eleições do próximo ano”. “A oposição joga pesado no desgaste de Lula e do governo, já trabalhando como certa a candidatura à reeleição do presidente e, apesar de não ter candidato, pois Bolsonaro está inelegível de forma irremediável, deverá produzir enfrentamentos cada vez mais violentos.” Ele finaliza dizendo que Alcolumbre deve pender para o lado que estiver ganhando.

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Mestre e doutorando em Ciência Política, o professor Guilherme Carvalho, lembra que Alcolumbre disputará a reeleição em 2026. Dessa forma, contará com o governo e com recursos maciços. “Então, ele deve oscilar entre parceria com o governo e ‘faca na garganta’ por mais espaços para ele e aliados para garantir reeleição. Não só cargos, mas recursos.”  

Para ele, isso é um ponto de atenção. Além disso, acredita que se trata de alguém mais fisiológico, parecido com o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Apesar de mais moderado nas exigências.”

Vice-líder

Vice-líder do governo no Senado, Jorge Kajuru (PSB) diz que a expectativa do governo é que a gestão de Alcolumbre seja como em 2019/2020, colocando matérias importantes para votação. “O governo espera uma postura correta. Mas há medo, que ele coloque em votação pautas para anular a inelegibilidade de Bolsonaro, impeachments [de ministros do STF] sem motivo…”

Outra preocupação são as comissões, visto que ele colocou nomes da oposição em algumas delas. “Se houvesse uma democracia de verdade e não essa polarização, tudo bem, seria justo dividir. Mas não existe. Um lado é o lado ‘Trump’, enquanto o outro é democrático.” 

Kajuru será o líder da bancada do PSB até o fim do mandato. Ele também diz que solicitou as comissões de Ciência e Tecnologia e a de Democracia para o partido dele. 

Chapa

É preciso dizer que a chapa ao Senado vai muito além da presidência. São eles, os 1º e 2º vice-presidentes; 1º, 2º, 3º e 4º secretários; além dos suplentes.

Os dois primeiros substituem o presidente em situação de ausência ou em caso de impedimento. Conforme apurado pela imprensa nacional, são cotados, respectivamente, para a 1ª e 2ª vice-presidência, os senadores Eduardo Gomes (PL-TO) e Humberto Costa (PT-PE).

Já o 1º secretário é o responsável pela listagem dos resultados de votações, leitura de correspondências oficiais e também pelos documentos relativos às sessões. Ele ainda vistoria as atividades administrativas da Casa. Uma das possibilidades é a senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB).

O 2º secretário, que pode ser Confúcio Moura (MDB-RO), lavra as atas das sessões secretas. Ele também lê e assina o documento depois do 1º secretário.

Os outros dois, 3º e 4º secretários, são responsáveis pelas chamadas dos senadores. Eles também contam votos e auxiliam o presidente em apurações de eleições. Ainda não há nome ventilado para o terceiro, mas o quarto pode ser o senador Dr. Hiran (PP-RR).

Por fim, os suplentes substituem aqueles secretários que estiverem ausentes ou impedidos.

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