PSDB pode dificultar fusão por lutar pela permanência de identidade

As articulações e discussões em torno da fusão do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) têm movimentado a política brasileira nos últimos meses. A sigla, que protagonizou, junto ao Partido dos Trabalhadores (PT), grande parte das disputas presidenciais da nova República e estava no topo da relevância partidária há três décadas, encolheu aos poucos ao ponto de sua sobrevivência política depender de uma fusão com outro partido.

No comando das negociações da sigla, junto a outras lideranças tucanas, o presidente nacional do PSDB e ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, não quer abrir mão da identidade do partido. Recentemente, em entrevista à revista IstoÉ, Perillo deixou claro que irá lutar pela permanência do legado do PSDB. “O primeiro ponto que coloco é que o PSDB não é um partido qualquer. O PSDB não está à venda. Eu disse na semana passada e vou continuar insistindo nisso: o PSDB vai continuar, vai continuar porque ele é importante para o Brasil”.

Para Marconi, ser incorporado a outro partido significaria “perder a essência” tucana. “Não é possível a incorporação porque boa parte das nossas lideranças, os nossos fundadores, os nossos líderes, não concordam com incorporação, porque a incorporação significa perder toda a nossa essência. Significa a gente aderir a outro partido e deixar de existir”, disse o mandatário da sigla.

De fato, o PSDB marcou época na política brasileira. Além de ter presidido o Brasil, na figura de Fernando Henrique Cardoso, os tucanos venceram todas as eleições para o governo de São Paulo entre 1994 e 2018. Porém, é necessário visualizar que no cenário atual o partido possui pouca relevância política e, além de tudo, está estigmatizado.

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Anteriormente à polarização protagonizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o PSDB era quem chefiava a oposição às gestões petistas. Não é exagero dizer que o partido passou por uma crise de identidade. A crescente exponencial do bolsonarismo no Brasil tirou dos tucanos o protagonismo de oposição a Lula e à esquerda. Nas eleições de 2018, João Dória venceu a disputa pelo governo de São Paulo por Bolsonaro – o termo “bolsodoria” é relembrado até os dias atuais -, porém, logo pulou do barco de apoiadores ao ex-presidente.

O PSDB – que nasceu de uma dissidência da ala mais à esquerda do, na época, PMDB – perdeu suas raízes ideológicas e na tentativa de se fortalecer como um partido mais ao centro, viu outras legendas, já consolidadas e chefiadas por figuras do Centrão, dominarem o cenário. Restou o estigma de uma legenda que se apequenou.

O encolhimento dos tucanos levou a preocupação atual dos dirigentes da sigla: atingir a cláusula de barreira. A norma impõe critérios, baseado nos desempenhos em eleições federais, para definir quais partidos terão direito a recursos do fundo partidário e tempo nas rádios e TV’s nos programas eleitorais gratuitos.

Para conter o processo de enfraquecimento, o PSDB buscará aliança com outro partido. No entanto, a estratégia de manter viva a marca tucana não parece a mais viável politicamente, dado o desgaste da sigla. O partido depende mais das legendas interessadas em incorporá-lo do que o contrário. É difícil imaginar um cenário em que as siglas abram mão de suas identidades para atender ao PSDB, já que, atualmente, ser associado à sigla não representa mais a grandeza de outros tempos. (Especial para O Hoje)

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