Pássaros utilizam biofluorescência para atrair fêmeas – 25/02/2025 – Ciência


Poses elaboradas, tufos de penas e passos extravagantes. Machos da aves-do-paraíso têm muitas maneiras de cortejar uma possível companheira.

Mas agora, ao examinar espécimes no Museu Americano de História Natural, em Nova York (Estados Unidos), os cientistas descobriram o que pode ser mais uma ferramenta no arsenal desses pássaros: a fotoluminescência.

Às vezes chamado de biofluorescência em seres vivos, esse fenômeno ocorre quando um objeto absorve comprimentos de onda de luz de alta energia e os reemite como comprimentos de onda de energia mais baixa.

A biofluorescência já foi observada em várias espécies de peixes, anfíbios e até mamíferos, de morcegos a vombates.

Curiosamente, as aves permanecem pouco estudadas em relação a esse tópico. Até agora, ninguém havia procurado pela propriedade brilhante nas aves-do-paraíso, que são nativas da Austrália, Indonésia e Nova Guiné e famosas por suas elaboradas exibições de acasalamento.

Em um estudo publicado no último dia 12 no periódico Royal Society Open Science, pesquisadores analisaram espécimes mantidos no Museu Americano de História Natural, em Nova York, e encontraram evidências de biofluorescência em 37 das 45 espécies de aves-do-paraíso.

“O que elas estão fazendo é pegar essa cor UV, que não conseguem ver, e reemitindo em um comprimento de onda que é visível para seus olhos”, disse Rene Martin, autor principal do estudo e biólogo da Universidade de Nebraska-Lincoln. “No caso delas, é uma cor verde brilhante e verde-amarela.”

Em resumo, a biofluorescência potencializa uma cor brilhante para torná-la ainda mais brilhante.

De todas as espécies de aves-do-paraíso, três gêneros (Lycocorax, Manucodia e Phonygammus) não mostraram evidências de biofluorescência.

Isso, segundo Martin, pode estar ligado ao fato de esses pássaros terem uma tendência a ser muito mais monogâmicos, o que significaria que há menos necessidade de exibições elaboradas e competição entre os machos.

Além disso, como os pesquisadores encontraram biofluorescência no ifrit de capa azul, que é considerada a única espécie irmã das aves-do-paraíso, o cenário mais provável é que todos esses animais descendam de um ancestral comum que tinha desenvolvido marcações biofluorescentes. Os três gêneros que não possuem mais isso, então, devem ter perdido a característica em algum momento.

Estudos anteriores descobriram que muitas espécies de aves-do-paraíso evoluíram outra peculiaridade de cor —penas ultraescuras que absorvem quase todos os comprimentos de onda da luz que as atingem.

Os cientistas descobriram que muitas dessas aves parecem ter seções de biofluorescência situadas perto ou enquadradas pelo ultraescuro. Essa justaposição provavelmente realça toda a exibição, o que pode sinalizar para as fêmeas que o macho tem boa qualidade de reprodução.

Fêmeas de muitas espécies de aves-do-paraíso também exibem plumagem biofluorescente, contudo os padrões femininos eram muito mais discretos, segundo Martin. Na maioria dessas espécies, quem escolhe os parceiros são elas, reforçando a ideia de que os machos utilizam o brilho para seleção sexual.

Às vezes, os machos também exibem suas cores como uma forma de estabelecer uma hierarquia de dominância. Em outras espécies, como cobras, os cientistas dizem acreditar que a biofluorescência serve como uma forma de se camuflar com os brilhantes fundos florestais. Portanto, é bastante provável que a coloração sirva para mais de um propósito.

Embora possa parecer óbvio que a biofluorescência tenha evoluído muitas vezes no reino animal com um propósito, os cientistas alertam contra essa suposição. Afinal, os dentes humanos fluorescem sob luz ultravioleta, mas isso não parece nos ajudar de forma mensurável. Alguns até argumentariam que dentes brilhantes são uma desvantagem.

Para provar a função, os cientistas observam um conjunto de cinco critérios. Essa lista inclui se o habitat de um animal tem níveis naturalmente disponíveis das comprimentos de onda de luz conhecidos por serem absorvidos, ou se os olhos de um animal provavelmente são capazes de ver os comprimentos de onda que são reemitidos.

“Parece que as aves-do-paraíso atendem a quatro dos cinco critérios para a função visual”, afirmou a zoóloga Linda Reinhold, da Universidade James Cook, na Austrália.

Mas o quinto critério, que avalia se o comportamento de um animal muda como resultado da biofluorescência, ainda precisa ser testado para as aves-do-paraíso. E, é claro, tentar observar pássaros exigentes em habitats remotos cheios de variáveis incontroláveis pode significar que esse teste não será feito tão cedo.

Estudar os pássaros pessoalmente provavelmente teria outros benefícios. “Em seu habitat natural esses pássaros provavelmente serão ainda mais fluorescentes do que nos museus”, disse Reinhold.



Source link

Adicionar aos favoritos o Link permanente.