Lula critica Trump e alerta sobre aumento do protecionismo – 26/02/2025 – Mundo


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta quarta-feira (26), negociações nas relações internacionais “com base na lei do mais forte”, escalada protecionista e recursos ao unilateralismo, referências à medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump —o republicano, no entanto, não foi mencionado diretamente pelo petista.

Lula discursou para negociadores (chamados sherpas) do Brics (bloco originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, recentemente ampliado para incluir Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã).

“Negociar com base na lei do mais forte é um atalho perigoso para a instabilidade e para a guerra”, disse Lula. “O recurso ao unilateralismo solapa a ordem internacional. Quem aposta no caos e na imprevisibilidade se afasta dos compromissos coletivos que a humanidade precisa urgentemente assumir”, afirmou o presidente.

“A atual escalada protecionista na área do comércio e investimentos reforça a importância de medidas que busquem superar os entraves da nossa integração econômica. Aumentar as opções de pagamento significa reduzir vulnerabilidade e custos”, afirmou ainda Lula.

Trump já ameaçou impor sobretaxa a produtos dos países do Brics caso o grupo tente enfraquecer o dólar com o desenvolvimento de uma moeda comum ou esforços para enfraquecer o dólar, a moeda padrão do comércio internacional. O Itamaraty também nega que debates sobre uma moeda comum estejam na mesa, mas reforça a necessidade de aprofundar mecanismos que reduzam custos e priorizem moedas locais nas transações entre membros do bloco, em detrimento, portanto, do dólar.

“A Presidência brasileira está comprometida com o desenvolvimento de plataformas de pagamentos completamente voluntárias, acessíveis, transparentes e seguras”, disse o presidente nesta quarta. “Precisamos de soluções que diversifiquem e agreguem valor à produção de países em desenvolvimento.”

A crítica velada a Trump também foi feita quando Lula tratou do tema da saúde, um dos pilares da presidência brasileira do Brics. Nos primeiros dias de volta à Casa Branca, Trump anunciou a saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS) além de ter sido, durante o primeiro mandato criticado pela sua resposta à pandemia da Covid-19.

“A ausência de acordo no tratado sobre pandemias, mesmo após a Covid-19 e a pandemia mpox, atesta a falta de coesão da comunidade internacional diante de graves ameaças. Sabotar os trabalhos da OMS é um erro com serias consequências”, afirmou Lula.

Nesta terça-feira (25), o Brasil iniciou as atividades principais da presidência rotativa anual do bloco em um momento de reviravoltas e novas pressões na geopolítica. A abertura ocorreu de manhã, no Palácio do Itamaraty, com declarações do ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e presença dos negociadores.

Este é o primeiro ano em que o Brics conta com 11 membros plenos: Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul, além de Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia, Indonésia, Irã e Arábia Saudita —que, no entanto, ainda não finalizou os trâmites formais para entrada no bloco, mas é considerada um integrante pleno.

O cenário geopolítico tenso após o retorno do presidente Donald Trump à Casa Branca nos Estados Unidos adiciona um componente político nas discussões do grupo —algo que o Itamaraty rejeita, reforçando que as pautas da presidência brasileira do Brics serão cooperação em saúde, financiamento e mudanças climáticas, comércio e inteligência artificial, além do fortalecimento da governança do bloco.

“Políticas protecionistas, fragmentação do comércio, barreiras não econômicas e a reconfiguração das cadeias de suprimentos ameaçam aprofundar as desigualdades globais. O Brics deve resistir a essa fragmentação e defender um sistema de comércio multilateral aberto, justo e equilibrado. Um sistema que atenda às necessidades do Sul Global e promova uma ordem econômica genuinamente multipolar”, afirmou Vieira nesta terça.

O assunto da moeda comum, no entanto, é mencionado por líderes dos países do Brics já há algum tempo. No fim de 2023, Lula foi um dos que defendeu a criação da moeda.

“A criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimentos entre os membros do Brics aumenta as nossas opções de pagamento e reduz as nossas vulnerabilidades”, disse o presidente brasileiro em discurso na sessão plenária de abertura da reunião de cúpula do Brics daquele ano, realizada em Johanesburgo, na África do Sul.

Em 2024, na cúpula de Kazan, na Rússia, por outro lado, a declaração final do evento não menciona esforços por uma moeda comum, embora preveja o aumento do uso de moedas locais e da atuação do Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como banco do Brics e chefiado pela ex-presidente Dilma Rousseff.

A reforma da governança global e o fortalecimento do Brics é outro fator tratado com importância pela presidência brasileira do bloco. “A resposta mais efetiva para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo”, disse o ministro brasileiro.

“Um sistema global reequilibrado deve repousar sobre uma base mais sólida de justiça e representação. Nenhuma base desse tipo pode ser construída sem as vozes do Brics. Este grupo incorpora a aspiração do Sul Global. Este Brics expandido carrega a promessa de um Sul Global que não é mais apenas um participante nos assuntos globais, mas uma força influente e construtiva na formação da ordem internacional”, afirmou Vieira.

A cúpula com os líderes do países do Brics está agendada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro.



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