O maior complexo habitacional da América Latina – 01/03/2025 – Andanças na metrópole


O conjunto habitacional da Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, deixou de ser um ambiente desfigurado e um gigantesco bairro dormitório, como era nos anos 1980. Hoje é uma região com boa estrutura de comércio e serviços, shoppings, escolas técnicas e equipamentos de saúde

Foi concebido para ser um grande conjunto periférico e monofuncional destinado à classe trabalhadora paulistana. Trata-se do maior complexo habitacional da América Latina, composto por 14 conjuntos de casas e prédios populares e mais de 40 mil unidades habitacionais. A Cidade Tiradentes também é conhecida por ser o berço do estilo musical chamado de “funk ostentação”.

O historiador e professor Márcio Reis, de 49 anos, escreveu um TCC (trabalho de conclusão de curso) na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) batizado de “Formação do Bairro Cidade Tiradentes”, no qual conta a história do lugar, que começa em 1895.

Foi nessa ocasião que um empresário e político chamado coronel Antônio Proost Rodovalho (1838-1913) comprou terras devolutas na região e instalou a fazenda Santa Etelvina, nome dado em homenagem à sua mulher e também à santa padroeira dos maquinistas de trem na Inglaterra.

Nascido em Santos, Rodovalho foi um dos homens mais poderosos de seu tempo em São Paulo. Era amigo pessoal de dom Pedro 2º. Quando vinha para a cidade, o imperador ficava hospedado na cada de Rodovalho, no bairro da Penha. Foi presidente da Câmara no Império e na República.

Foi fundador da Associação Comercial e Agrícola de São Paulo (atual Associação Comercial de São Paulo) e da empresa Melhoramentos. Também criou a primeira fábrica de cimento no Brasil e produzia cal em Caieiras. Era proprietário de duas linhas férreas, uma que ligava onde hoje é o metrô Penha até o centro do bairro e outra de Guaianases até o que viria a ser a Cidade Tiradentes.

Nas suas indústrias não trabalhavam escravos, mas na sua casa havia escravidão doméstica. Quem habitava inicialmente as moradias do bairro eram trabalhadores das suas empresas, italianos, espanhóis e também alemães e muitos negros.

Quando a fazenda foi desativada em 1905, os trabalhadores passaram a morar na região e no entorno e o lugar passou a se chamar Vila Santa Etelvina. Era um lugar tenso e violento e servia basicamente à agricultura. Em certa ocasião, conta Reis, um trabalhador chamado Vanuchi deu uma facada em um espanhol por causa da divisão de uma melancia.

Na década de 1980 foi aberta uma primeira licitação para fazer a terraplanagem do terreno e instalar a Cohab Santa Etelvina. Em 1981 houve outra licitação para a construção de casas e prédios. Em abril de 1984, quando o lugar ainda era considerado zona rural, o prefeito Mário Covas fundou a Cohab Tiradentes, concebida como um gigantesco lugar para dormir.

Atualmente não é mais assim e esse estigma foi eliminado. A região é próspera. Hoje o bairro tem três parques (Ciência, Consciência Negra e do Rodeio), além da instalações culturais, como o Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes e a Fábrica de Cultura Cidade Tiradentes,

Na década de 1980, lembra Reis não tinha nada no bairro e para pegar um ônibus precisava andar dois quilômetros. O transporte ainda hoje é o principal problema, diz o historiador. O bairro só tem uma entrada e uma saída, a antiga estrada Iguatemi, hoje avenida Ragueb Chohfi.

Para ligar a cidade Tiradentes a Guaianases são longos quilômetros, um percurso que demora no mínimo uma hora nos horários de pico. O transporte sobre trilhos mais próximo do complexo habitacional fica em Guaianases. Existe uma grande expectativa de que seja instalado um monotrilho no bairro, mas é uma dessas obras que nunca saem do papel.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Source link

Adicionar aos favoritos o Link permanente.