Tenista brasileiro faz história ao se assumir gay e celebra repercussão


Pouco depois de postar uma selfie com seu namorado nas redes sociais, João Lucas Reis da Silva teve uma das melhores semanas de sua carreira nas quadras de tênis. Talvez tenha sido coincidência, e talvez os dois eventos fossem totalmente desconectados, mas o atleta se sentiu rejuvenescido ao conquistar a vitória na Copa Procópio em dezembro, encerrando 2024 em alta.

Alguns dias antes do título, o brasileiro havia compartilhado uma simples mensagem de aniversário para seu namorado no Instagram, escrevendo: “Te amo muito”. A resposta foi avassaladora.

Pessoas de todo o mundo começaram a entrar em contato com o tenista, agradecendo pelo que ele havia feito e enviando seu apoio. “Foi uma repercussão que eu não esperava”, ele conta à CNN.

Jogando na Copa Procópio em São Paulo naquela mesma semana, o atleta de 24 anos explica como a reação “me deu força” ao entrar em quadra. Para o tênis, a aparentemente inocente postagem no Instagram foi revolucionária, com João Lucas amplamente noticiado como o primeiro jogador masculino em atividade a se assumir gay.

Vários ex-atletas, incluindo os americanos Brian Vahaly e Bobby Blair, se assumiram após o fim de suas carreiras, mas esportistas gays têm sido curiosamente ausentes do tênis masculino. Em contraste, alguns dos maiores ícones do tênis feminino — Billie Jean King e Martina Navratilova, por exemplo — são membros de alto perfil da comunidade LGBTQIA+, enquanto a atual número 12 do mundo, Daria Kasatkina, se assumiu em 2022.

“Acho que nossa sociedade aceita duas garotas juntas [mais] facilmente do que dois caras juntos”, disse Kasatkina em um episódio recente do Fantastic Tennis Podcast quando questionada sobre por que há tão poucos tenistas masculinos assumidamente gays.

“Acho que esse é o principal problema. Por causa dos estereótipos de que o homem tem que ser masculino e isso e aquilo, isso impediu muitos caras de se assumirem.”

Em uma entrevista à ATP no ano passado, Vahaly disse que era “muito comum usar linguagem homofóbica” como tenista masculino no Tour no início dos anos 2000, o que por sua vez tornava “um pouco desconfortável” para pessoas gays como ele. Ele acrescentou, no entanto, que “nunca achou o Tour abertamente homofóbico”.

Quanto a João Lucas, ele não tem certeza exata do porquê existem mais jogadoras assumidamente gays no tênis feminino. Contudo, ele aponta para a falta de referências gays no masculino e também recorda suas próprias ansiedades em relação a discutir sua sexualidade, mesmo com pessoas próximas.

“Com meus amigos, meus amigos do tênis que estavam comigo nos treinos e vestiários, todos os dias nós confidenciamos sobre problemas”, diz Reis da Silva. “Se algo mudasse, eu me sentiria sozinho porque não há ninguém lá. Se der errado, o que posso fazer? Só tenho que aceitar que as pessoas não me aceitam. Eu tinha medo disso.”

Mas então um dia, eu pensei: ‘Ok, tenho que contar às pessoas porque não posso mais viver assim, não posso não falar com meus pais.’

João Lucas Reis da Silva, tenista

Quando se assumiu para sua família e amigos aos 18 anos, João Lucas experimentou um alívio instantâneo. “Senti como se tivesse tirado uma pedra enorme dos meus ombros”, diz ele. “Eu tinha que contar a alguém… Quando fiz isso, foi realmente bom. A sensação, acordar no dia seguinte, foi perfeita. E tive sorte que meus pais lidaram bem com isso. Nem todos têm isso.”

O brasileiro está atualmente classificado como número 423 do mundo, aspirando conseguir pontos suficientes para jogar o qualifying de um evento Grand Slam ainda este ano. Sua vitória na Copa Procópio lhe garantiu uma vaga no qualifying do Rio Open — o maior torneio da ATP Tour na América do Sul — mas foi derrotado na primeira rodada por Tseng Chun-hsin.

Apesar de uma sequência de derrotas antes do Rio Open, João Lucas tem estado satisfeito com seu jogo, confiante de que seus resultados melhorarão com o tempo. Ele tem pela frente uma série de torneios Challenger pela América do Sul — na Argentina, Chile e de volta ao Brasil.

“Eu gosto de continuar competindo”, diz ele. “Nestes momentos em que estou me sentindo bem, preciso desse ritmo, preciso jogar o máximo de partidas possível agora. Acho que é ótimo para mim.”

Reis da Silva identifica sua resistência — sua capacidade de suportar partidas longas e rallies prolongados — como um de seus pontos fortes, junto com um backhand poderoso e uma devolução de saque agressiva.

Atualmente, ele está acostumado a ter o apoio de seu namorado, Guilherme Sampaio Ricardo, ao lado da quadra nos torneios. O casal está namorando há dois anos e frequentemente viaja para eventos juntos, desde que Ricardo consiga conciliar com seu trabalho como ator e modelo.

Reis da Silva descreve a postagem no Instagram em dezembro como uma decisão do momento, uma forma simples de demonstrar seu amor pelo namorado. Seu impacto e alcance foram totalmente inesperados, com o atleta logo recebendo uma enxurrada de mensagens de novos fãs ao redor do mundo.

“Me senti muito bem”, diz ele. “Senti que as pessoas estavam ali por mim, me apoiando, e foi uma sensação incrível… Não recebi quase nada de ruim, nada de insultos que eu achei que poderia acontecer, mas não aconteceu. Por parte dos fãs de tênis, foi mais amor, mais apoio. Tipo: ‘Nós te vemos, queremos você no topo’.”

O mais gratificante, no entanto, foi a reação de seus colegas tenistas. “Não mudou nada”, acrescenta João Lucas, “e isso foi o melhor para mim.”

Não mudar nada é exatamente o que o brasileiro quer agora, relutante em adotar uma nova abordagem radical para o tênis e para a vida simplesmente por causa de uma selfie que compartilhou online. Ele é, antes de tudo, um tenista, e isso era verdade tanto antes quanto depois de o mundo tomar conhecimento de sua sexualidade. O fato de ele agora ser visto por alguns como um modelo para tenistas gays é apenas uma feliz coincidência.

“Vou continuar fazendo a mesma coisa”, diz João Lucas.

“Acordo amanhã às 8h e vou para a quadra tentar ser meu melhor jogador e a melhor pessoa. Se as pessoas olharem para mim e se inspirarem com o que fiz e com quem eu sou, eu adoraria saber e adoro ver isso. Mas realmente não quero manter isso como minha responsabilidade. Minha responsabilidade, para mim, é fazer o melhor trabalho que posso fazer em quadra. É isso que estou buscando, é isso que estou perseguindo.”





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