Goiás tem baixa procura por vacina contra febre amarela em crianças

A cobertura vacinal contra a febre amarela em crianças menores de 1 ano de idade em Goiás está abaixo do recomendado, atingindo apenas 72,77% em 2024, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO). O percentual está distante da meta de 95% estabelecida pelo Ministério da Saúde, o que acende um alerta para a possibilidade de novos surtos da doença.

Em 2022, a cobertura vacinal no estado foi de 63,68%, subindo para 67,57% em 2023 e alcançando os atuais 72,77% em 2024. A febre amarela é uma doença viral transmitida por mosquitos silvestres, como os gêneros Haemagogus e Sabethes, e pode causar complicações graves, como insuficiência hepática, hemorragias e até a morte. 

Segundo a médica infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia, Dra. Marina Roriz, a doença estava erradicada por anos no Brasil devido à vacinação em massa, mas a queda na cobertura vacinal aumenta o risco de uma nova epidemia.

“A febre amarela pode evoluir rapidamente para quadros graves. Muitos pacientes acometidos apresentam sintomas severos e podem chegar a óbito. O nosso apelo é para que retomemos os níveis de vacinação que tínhamos anteriormente.”

Embora Goiás não registre casos desde 2017, o Brasil já contabiliza 45 casos e 21 óbitos em 2025, com registros em São Paulo, Minas Gerais, Tocantins e Pará. A proximidade com áreas de mata e a alta circulação de pessoas elevam o risco da reintrodução do vírus no estado.

Sintomas e prevenção

Os sintomas iniciais do vírus incluem febre, dor no corpo, mal-estar e dores musculares. Em casos graves, pode ocorrer icterícia, caracterizada pela coloração amarelada da pele, devido à inflamação no fígado. Pacientes também podem apresentar hemorragias internas, insuficiência renal e hepática, e em muitos casos, a doença pode ser fatal.

A melhor forma de prevenção é a vacina, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). A imunização é altamente eficaz e protege por toda a vida. Para as crianças, a primeira dose deve ser aplicada aos 9 meses e um reforço aos 4 anos de idade. 

Já os adultos que não foram vacinados anteriormente devem receber uma dose única. A vacina contra a febre amarela faz parte do calendário básico de imunização e é indicada para pessoas de 9 meses a 59 anos de idade.

Medidas para aumentar a cobertura

A baixa adesão à vacinação contra a doença preocupa os especialistas porque compromete a proteção coletiva. Para reverter esse cenário, a SES-GO está promovendo campanhas informativas, mutirões de vacinação e parcerias com escolas para conscientizar pais e responsáveis. A estratégia inclui também a ampliação dos horários de atendimento em postos de saúde para facilitar o acesso à vacina.

Um fator que pode estar influenciando na baixa cobertura vacinal é a circulação de informações falsas sobre a vacina. Estudos comprovam a segurança e eficácia da imunização contra a febre amarela, e especialistas alertam que os riscos da doença são muito maiores do que possíveis efeitos colaterais da vacina, que geralmente são leves e passageiros.

A preocupação com a doença infecciosa, não se limita apenas às áreas rurais, local que pode ser transmitida por mosquitos típicos de áreas de mata. Comum nos centros urbanos, o Aedes aegypti, conhecido por transmitir dengue, zika e chikungunya, também pode ser vetor do vírus da febre amarela, o que aumenta as chances de um surto urbano caso o vírus volte a circular no estado.

“Se começarmos a ter casos, já temos o vetor presente, o que pode levar a uma grande quantidade de infecções”, ressalta a especialista. O combate ao mosquito é outra medida fundamental para evitar a propagação da doença. A população deve eliminar criadouros, evitando água parada em recipientes e quintais.

Para evitar a reintrodução do vírus no estado, a SES-GO tem intensificado a vigilância epidemiológica, monitorando macacos silvestres, que são as sentinelas naturais da doença. Quando esses animais adoecem ou morrem em grande número, isso pode ser um indicativo da circulação do vírus em determinada região, permitindo que as autoridades de saúde tomem medidas preventivas rapidamente.

A SES-GO pede que toda a população verifique a caderneta de vacinação e, caso necessário, procure uma unidade de saúde para atualizar as vacinas. 

Aumento de mortes pela doença alerta autoridades no Brasil

O Brasil enfrenta um aumento preocupante no número de mortes por febre amarela, impulsionado pela baixa adesão à vacinação. Números mais alarmantes estão situados na região de Campinas (SP), onde oito pessoas perderam a vida, incluindo um homem de 61 anos que não havia se vacinado. As cidades mais afetadas são Campinas, Socorro, Amparo, Pedreira, Tuiuti e Valinhos, onde a doença tem se espalhado de forma alarmante.

A baixa cobertura vacinal contribui diretamente para esse cenário preocupante. A febre amarela é uma doença grave, transmitida por mosquitos, e pode levar à morte em sua forma mais severa. Roriz alerta para a necessidade de ampliar os índices de imunização. “A queda na vacinação faz com que estejamos à beira de uma nova epidemia. O vírus continua circulando, e a população precisa estar protegida”, enfatiza a especialista.

Crescimento da doença nas Américas

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) emitiu um alerta epidemiológico sobre o aumento de casos de febre amarela na América do Sul. O crescimento foi notado desde o final de 2024 e se intensificou nas primeiras semanas de 2025. No total, 61 casos foram confirmados no último ano, resultando em 30 mortes, ultrapassando os 58 casos registrados entre 2022 e 2023, que causaram 28 óbitos.

Somente em janeiro de 2025, já foram notificados mais 17 casos, com sete mortes. Além do Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru também enfrentam a disseminação do vírus. Um fato preocupante é que a febre amarela tem avançado para áreas fora das zonas tradicionalmente afetadas, como São Paulo, no Brasil, e Tolima, na Colômbia.

A única forma eficaz de prevenção é a vacinação. A vacina contra a febre amarela está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e faz parte do calendário de imunização. Em Goiás, a cobertura vacinal para crianças menores de 1 ano tem apresentado uma melhora progressiva, mas ainda está abaixo da meta. 

Autoridades de saúde reforçam a necessidade de ampliar a vacinação e combater a desinformação. A SES-GO tem promovido mutirões e campanhas educativas para conscientizar a população sobre a importância da imunização. Além disso, estratégias como ampliação do horário de funcionamento dos postos de vacinação e visitas a comunidades rurais estão sendo intensificadas. 

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