Com aceno pró-anistia Caiado cava apoio dos bolsonaristas

Poucas pautas intensificam mais a polarização política no país como a anistia aos presos pelos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023. O tema, que é encarado como prioridade dos políticos e do eleitorado à direita, voltou aos holofotes do debate público, em meio às manifestações do último fim de semana. 

Pré-candidato à Presidência da República, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) se manifestou a favor da anistia. Caiado, que possui rusgas públicas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principal figura na luta por anistia pelo 8 de janeiro, tratou do tema em suas redes sociais. 

“Quero dizer que não apenas sou a favor da anistia aos manifestantes de 8 de janeiro, como fui o primeiro a defendê-la”, disse o governador, em um trecho da publicação. Caiado resgatou um corte de sua entrevista para a GloboNews, que foi ao ar em fevereiro de 2024 – pouco mais de um mês após as manifestações antidemocráticas. 

“Defendi que deveríamos fazer agora como JK [Juscelino Kubitschek, ex-presidente] fez. Depois de realmente sofrer uma tentativa de golpe, Juscelino, ao invés de incendiar ainda mais o país, concedeu anistia e foi governar. As penas de até 17 anos de prisão aos manifestantes são excessivas. E o Brasil precisa deixar essa discussão inócua para trás e enfrentar a violência, combater a inflação que assombra quem vai ao supermercado e construir vida melhor para os brasileiros”, concluiu o governador. 

A declaração de Caiado sobre o tema foi vista como um aceno do governador aos eleitores da direita mais fieis ao bolsonarismo. Buscando viabilizar seu nome para a disputa pelo Planalto em 2026, a candidatura do governador dificilmente será endossada por Bolsonaro. Porém, o chefe do Executivo goiano não perde a oportunidade de tentar angariar território no eleitorado do ex-presidente. 

Como era de se esperar, Caiado não participou do ato no Rio de Janeiro. O evento reuniu, além de Bolsonaro, lideranças políticas ligadas ao ex-chefe do Executivo. Pouco mais de 18 mil apoiadores, segundo um levantamento feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), com auxílio de fotos aéreas analisadas via software de inteligência artificial. Bolsonaro e sua cúpula projetavam “1 milhão nas ruas” – como era o slogan que convocava apoiadores para a manifestação.

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Provável sucessor

Com Caiado fora do páreo – e apenas tentando converter eleitores de Bolsonaro ao seu projeto político -, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já era o favorito, agora desponta de vez para suceder o ex-presidente, inelegível até 2030. 

Nos bastidores, o entendimento é que Bolsonaro irá repetir a estratégia de Lula em 2018: manter a candidatura até o vencimento do prazo de registro das chapas, e a partir dali, colocar Tarcísio como seu nome de confiança. Enquanto isso, Caiado seguirá se colocando como um candidato da direita, buscando vencer as divergências internas do seu partido e trabalhando para conquistar os eleitores da oposição ao atual governo. (Especial para O Hoje)

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