Prefeito de BH, Fuad Noman morre 84 dias após tomar posse

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), 77, morreu nesta quarta-feira (26). A informação foi confirmada pela Prefeitura da capital mineira. Ele estava internado desde 3 de janeiro no Hospital Mater Dei, quando deu entrada com um quadro de insuficiência respiratória aguda.Em outubro, Fuad havia se tornado o político mais velho a vencer uma eleição para prefeito de Belo Horizonte. Desde o pleito, foi internado ao menos quatro vezes. Ele deixa a esposa, Mônica, dois filhos e quatro netos.Leia tambémPassageiros reclamam de voos cancelados no aeroporto de BelémPrefeito de BH é internado com insuficiência respiratóriaFuad é o segundo prefeito de Belo Horizonte a morrer no cargo. O primeiro foi o empresário Américo Rennê Giannetti, que tomou posse em 1951 e morreu em 1954.Com a morte, o vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil), que estava como prefeito interino, assume a gestão da capital mineira pelos próximos quatro anos.Quer ler mais notícias do Brasil e do mundo? Acesse o canal do DOL no WhatsApp!Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte lamentou a morte de Fuad. “Em 2022, assumiu o cargo de prefeito da capital mineira, e desde então conduziu a cidade com serenidade, firmeza e espírito público. Fuad era conhecido por seu trato gentil, sua capacidade de escuta e seu amor por Belo Horizonte. Um homem público íntegro, cuja história se confunde com o desenvolvimento da nossa cidade. Neste momento de dor, nos solidarizamos com os familiares, amigos e todos os cidadãos belo-horizontinos que perdem não apenas um líder, mas um exemplo de ser humano. A cidade se despede com gratidão e reverência.”Em julho, o prefeito anunciou que havia sido diagnosticado com um linfoma não Hodgkin e começou o tratamento ao mesmo tempo em que acumulava o cargo de prefeito e estava em pré-campanha para a reeleição.”Digo a vocês com tranquilidade e convicção que me sinto ainda mais forte para terminar as obras contra as enchentes em Belo Horizonte e com mais energia para continuar cobrando das empresas de ônibus que melhorem o serviço na cidade”, afirmou o prefeito na ocasião.Em outubro, próximo do segundo turno, ele revelou que havia sido liberado das sessões de quimioterapia e que o câncer estava em remissão.As complicações decorrentes do tratamento levaram a consecutivas internações de Fuad e o impediram de estar presente na diplomação e na posse, no dia 1º de janeiro. O prefeito participou de forma remota, de máscara, ao lado da esposa.A medida seguiu uma recomendação médica de que o chefe do Executivo da capital mineira evitasse locais com grande concentração de pessoas por causa de sua baixa imunidade. Sua aparição no vídeo indicava uma saúde já fragilizada.Coube ao vice-prefeito eleito, Álvaro Damião, que estava presente na cerimônia, ler o discurso de posse do prefeito.”Muita gente tem me perguntado o porquê de estar aqui, um homem de 77 anos disputar uma pesada eleição em vez de curtir os netos, ficar com a família no sítio ou viajar. Nos últimos meses, tive que ser hospitalizado, o que aumentou a curiosidade de amigos. A resposta é muito simples, estou aqui por muito amor a essa cidade e a sua gente”, afirmou o prefeito, em texto lido pelo vice.Ao fim do discurso, Damião chorou quando leu um trecho em que o prefeito agradeceu aos médicos e à sua família.Fuad, um economista e servidor de carreira do Banco Central, também ocupou cargos na Casa Civil da Presidência da República, na segunda gestão Fernando Henrique Cardoso, e em secretarias do governo de Minas Gerais —nas gestões Aécio Neves e Antonio Anastasia— e na Prefeitura de Belo Horizonte.Elogiado por sua capacidade técnica nos bastidores, assumiu a gestão da capital mineira em 2022, quando o então prefeito Alexandre Kalil (à época no PSD) deixou o cargo para a disputa do governo estadual, em que foi derrotado por Romeu Zema (Novo).A gestão do economista à frente do município foi marcada pela relação tensa com o Legislativo. A Câmara Municipal chegou a instaurar CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar contratos de serviços da prefeitura, como o transporte público e a limpeza da Lagoa da Pampulha, um dos cartões-postais de Belo Horizonte.Já na campanha, ligou sua imagem às obras em andamento na cidade e usava como trunfo a estatística de que, durante sua gestão, nenhuma pessoa havia morrido em decorrência das enchentes em BH —um problema histórico da cidade, que voltaria a registrar mortes no fim de 2024.Apesar de ser a continuidade da gestão de uma mesma chapa, as características de Fuad estavam distantes das de Kalil, de perfil mais polêmico e midiático. Por isso, quando resolveu concorrer à reeleição, teve de reverter um desconhecimento junto a mais da metade da população da capital mineira.Com um dos maiores tempos de propaganda partidária entre os dez candidatos, ele foi bem-sucedido ao colar a imagem nas obras na cidade. Também teve no uso do suspensório, sempre presente durante suas agendas, uma marca de sua imagem.No segundo turno, quando venceu o deputado estadual Bruno Engler (PL) por 53% a 46%, transmitiu o perfil de alguém conciliador, que teria diálogo com políticos todas as vertentes, do governo Zema ao presidente Lula (PT).Na época, ele declarou que sua conquista representou a vitória do amor, do trabalho e do consenso na capital mineira.Fuad também escreveu três livros de ficção. Um deles, “Cobiça”, publicado em 2020, foi alvo de opositores na reta final da campanha, que chamaram o livro de uma obra erótica que fazia apologia ao estupro de uma adolescente. A Justiça Eleitoral derrubou as veiculações da peça na TV e nas redes sociais.Após a eleição, Fuad disse à Folha de S.Paulo que sua prioridade seria reduzir as mortes do anel rodoviário, uma das principais vias de Belo Horizonte, e formular um contrato de transporte público mais moderno.Cronologia da saúde de Fuad Noman29.mar.22 – Assume como prefeito de Belo Horizonte após a renúncia de Alexandre Kalil (na época no PSD);4.jul.24 – Anuncia que foi diagnosticado com um câncer do tipo linfoma não Hodgkin, mas que manteria sua pré-candidatura diante do prognóstico de sucesso do tratamento;20.jul.24 – É lançado oficialmente pelo PSD como candidato à reeleição;6.out.24 – Com 26,54% dos votos, avança ao segundo turno das eleições em Belo Horizonte, atrás de Bruno Engler (PL), que teve 34,38%;15.out.24 – Anuncia durante sabatina Folha/UOL que foi liberado da rotina de tratamentos contra o câncer, que estava em remissão;27.out.24 – É reeleito em segundo turno em Belo Horizonte, com 53,73% dos votos;23 .nov.24 – É internado com dores nas pernas, efeito colateral do tratamento contra o câncer. Cinco dias depois, recebe alta;10.dez.24 – Volta a ser internado, desta vez com um quadro de pneumonia;15.dez.24 – Recebe alta e segue à frente da Prefeitura de BH trabalhando de casa;19.dez.24 – É internado na UTI com quadro de diarreia e desidratação e apresenta sangramento intestinal;23.dez.24 – Deixa o hospital e continua com o tratamento fisioterápico e acompanhamento médico em casa;1º.jan.25 – Toma posse de forma remota, de máscara, ao lado da esposa, Mônica Drummond. O vice-prefeito eleito, Álvaro Damião (União Brasil), lê o discurso de posse diante da dificuldade de fala de Fuad;3.jan.25 – Volta a ser internado na UTI para tratar de uma insuficiência respiratória aguda, com assistência ventilatória;4.jan.25 – Licencia-se do cargo de prefeito por 15 dias. Damião assume o posto;5.jan.25 – É extubado e apresenta melhora em exames, segundo hospital;9.jan.25 – Volta a ser intubado, ainda na UTI, e passa por traqueostomia para facilitar a respiração;29.jan.25 – Recebe alta da UTI e segue tratamento em âmbito hospitalar. Exames reafirmam quadro de remissão do câncer;até 17.mar.25 – Boletins médicos divulgados indicam melhora progressiva do processo de retirada de ventilação mecânica. Licença do cargo de prefeito é renovada a cada 15 dias;24.mar.25 – Passa a receber alimentação intravenosa;25.mar.25 – Sofre uma parada cardiorrespiratória às 22h e é reanimado na UTI. Situação é considerada “bastante grave”;26.mar.25 – Morte é anunciada pela prefeitura pouco antes de meio-dia.
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