Em primeiro lugar, é evidente que esse texto está recheado de spoilers —não aceito reclamações, pois o aviso está dado! Em segundo lugar: menina, que babado essa terceira temporada de “The White Lotus”, hein? Passada em um resort de luxo na Tailândia, a série da HBO tem caprichado nos fetiches peculiares e situações sexuais constrangedoras.
Tudo começou quando Chloe (Charlotte Le Bon), uma bela modelo que namora o calvo trambiqueiro Gary (Jon Gries), consegue dar uma escapulida para ir à Full Moon Party —festa que existe na vida real e acontece na ilha tailandesa de Koh Phangan. Ela leva uma amiga e dois homens na aventura embalada por drogas sintéticas.
Depois da balada, a anfitriã promove uma baguncinha no iate do marido. Saxon (Patrick Schwarzenegger), um hetero top almofadinha que adora mostrar como é machão, troca um beijo de língua com o confuso e inexperiente Lochlan (Sam Nivola). A questão é que os dois são irmãos. E não para por aí: aos poucos é revelado que enquanto transava com Chloe, Lochlan tocou uma punheta para o irmão, que via tudo excitado ao lado deles.
Transtornados, os dois tentam bloquear as memórias daquela noite, mas as duas mulheres não pretendem deixá-los enterrar esse momento. Enquanto Lochlan se enfia num monastério para evitar o assunto, Saxon tem que encarar a realidade que elas lhe contam.
“Não tem droga no mundo que me faria dar uns amassos no meu irmão”, diz Chelsea (Aimee Lou Wood), não permitindo que ele culpe substâncias pelo seu potencial tesão mal resolvido por homens de família. É uma fala e tanto, que demonstra por que os diálogos de “The White Lotus” estão entre os melhores da TV contemporânea.
A jornada de desconstrução da masculinidade forjada em pornografia e whey protein de Saxon não para por aí. Ao ficar sabendo da escapulida da namorada, Gary pede a ela que convença o playboy a transar com ela em sua frente. A justificativa é que, quando criança, os pais de Gary transavam com a porta aberta e ele via tudo acontecer, e esse trauma evoluiu para o fetiche de cuckolding.
O episódio terminou com um Saxon chocado e desconfortável. Para o espectador ficou a dúvida de se aquilo era um desejo de Gary mesmo ou apenas mais uma de suas armações para conseguir dinheiro. Porém, a história toda mostra que, em alguns casos, a relação com a sexualidade é bastante ambígua, circulando entre o estranhamento, o constrangimento e a excitação. A única que parece realmente confortável nesse universo é Chloe, que paira acima dos traumas alheios, buscando apenas diversão.
Falando em constrangimento, a cena mais esquisita não envolve os irmãos, nem Chloe. Trata-se de uma conversa entre os amigos (também trambiqueiros) Rick (Walton Goggins) e Frank (Sam Rockwell) em um bar de Bancoc.
Durante um longo monólogo diante de um Rick incrédulo, Frank conta por que largou a bebida e a vida de farras. Ele comeu muitas mulheres, até que entrou em crise com o vazio de sua alma e percebeu que queria era ser comido por mulheres. E por homens.
Mas isso não bastava: ele queria ser uma mulher asiática sendo comida por ele mesmo. Por isso, ele contratava prostitutas para assistirem enquanto homens o penetravam. Por algum motivo, ele concluiu que a abstinência alcoólica e o budismo eram a forma de escapar desse ciclo sem fim de prazer e ânsia que nunca o preenchiam.
Foi uma crítica mordaz à relação dos ocidentais (principalmente dos homens) com a sexualidade. A busca por prazer infinito e a objetificação dos corpos (e da própria subjetividade) das mulheres asiáticas ficam ainda mais claras quando, pouco depois, Frank não resiste a um uísque, dois uísques, sabe-se lá mais quantos uísques e acaba voltando ao seu samsara –conceito do budismo que denota o ciclo infinito e em geral muito sofrido da existência. E foi nesse ponto que a HBO entregou a tão aguardada cena de orgia.
Por aqui, ficamos no aguardo do último episódio, para ver onde aquela suruba vai dar. Além disso, queremos saber se Saxon, Chloe e Gary vão brincar com os desejos da nação corna ou se vai ficar tudo no campo da imaginação.