Morre Delfim Netto, agente da ditadura

Morto hoje (12/8), o economista Delfim Netto foi ministro da Fazenda durante a ditadura militar, nos governos dos generais fascistas Arthur Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Além de ter sido um dos signatários do AI-5, Netto foi responsável por uma política econômico de arrocho salarial contra os trabalhadores

Guilherme Arruda | São Paulo (SP)


Hoje (12/8), morreu em São Paulo o economista Delfim Netto, que foi ministro da Fazenda de 1967 a 1974 durante a ditadura militar, na presidência dos generais fascistas Arthur Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici.

Cúmplice dos desaparecimentos e assassinatos de opositores e comunistas durante o regime ditatorial, Netto foi um dos signatários do Ato Institucional n° 5 (AI-5). Decretado em dezembro de 1968 pelo governo, o AI-5 endureceu a política repressiva da ditadura ao suspender o direito ao habeas corpus e dar à presidência a prerrogativa de fechar o Congresso Nacional, suspender os direitos políticos dos cidadãos e censurar a imprensa. Durante a deliberação sobre a assinatura do ato, Netto disse ao general-presidente Costa e Silva: “Eu estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente”.

Centenas de lutadores pela democracia e o socialismo, como Amaro Luiz de Carvalho e Manoel Lisboa, foram mortos sob a vigência dessa medida arbitrária. Após a redemocratização, Netto não se arrependeu da cumplicidade com esses crimes: em 2022, disse ao Estadão que “assinaria de novo” o AI-5.

No ministério da Fazenda, Netto foi responsável por uma política econômica anti-operária, expressa em sua frase “crescer o bolo, para depois dividi-lo”. Sob sua orientação, a ditadura militar contraiu uma dívida externa gigantesca com os bancos internacionais para supostamente estimular a economia do Brasil e ao mesmo tempo arrochava os salários dos trabalhadores, prometendo que o crescimento econômico melhoraria suas condições de vida por si só.

A “divisão do bolo” prometida por Delfim Netto nunca veio: após sua passagem pelo ministério, o Brasil estava completamente endividado com o setor financeiro internacional e os trabalhadores brasileiros viviam um dos períodos de maior miséria de sua história. Na década de 1970, as favelas passaram por um crescimento explosivo nas periferias das grandes cidades, já que os trabalhadores do campo foram estimulados a buscar empregos industriais nos centros urbanos, onde encontraram baixos salários, péssimas condições de vida e nenhuma política de moradia.

As expressões de insatisfação com a política de arrocho salarial de Netto e da ditadura eram reprimidas com grande violência autorizada pelo AI-5, como no caso do assassinato do operário Manoel Fiel Filho em 1975. O economista voltaria a ser ministro da ditadura no governo do general João Figueiredo, quando assumiu as pastas da Agricultura e do Planejamento.

Após o anúncio da morte de Delfim Netto, figuras do Governo Federal, como o presidente Lula (PT) e o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), foram a público lamentar seu falecimento, apresentando-o como um “grande economista” e um “desenvolvimentista”. Por sua vez, movimentos de luta por memória, verdade e justiça criticaram essas falas, por estimularem o esquecimento do papel de Netto na ditadura militar que deixou milhares de vítimas entre mortos, desaparecidos, torturados e presos.

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