Sangue doado, vidas mudadas: a surpreendente trajetória de uma heroína anônima

Moradora do Tocantins na época em que fez seu cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), a Vanessa Silva Rodrigues, de 37 anos, é um exemplo de solidariedade. Ela compartilhou sua experiência sobre o processo que culminou na doação, realizada em abril de 2023.

“Foi em 2020, durante uma ação de doação de sangue na minha cidade. A Igreja Adventista organizava eventos como esse com um ônibus de coleta. Fui ao centro cedo, por volta das 5h, e aproveitei para fazer meu cadastro no Redome. Nem imaginava que um dia seria chamada”, conta.

Três anos depois, em maio de 2023, Vanessa recebeu a ligação que mudaria sua vida e a de outra pessoa. “Quando me ligaram, pensei que fosse trote, porque era um número com DDD 021. Mas depois que explicaram o processo e o impacto que isso teria na vida de alguém, aceitei sem hesitar. Já era doadora de sangue, então não vi razão para recusar.”

Vanessa explica que todo o processo foi conduzido com cuidado e organização. “Eles me enviaram para Fortaleza para exames. Passei três dias lá, tudo custeado pelo Redome. Apesar de inicialmente a doação ser planejada para a veia do braço, como minhas veias não eram calibrosas, optaram pela coleta via veia femoral. Foi um procedimento tranquilo, e no dia 18 de abril de 2023, consegui realizar a doação.”

Sobre a importância de doar, Vanessa é enfática. “Fazer o bem sem olhar a quem é o que nos move. Muitas pessoas só querem ajudar quem conhecem ou familiares. Mas a gente nunca sabe o dia de amanhã. Podemos ser a resposta de uma oração de uma família em desespero.”

A autônoma agora se dedica a conscientizar outras pessoas sobre a importância de ser doador. “Onde vou, incentivo todos a se cadastrarem, doarem sangue, plaquetas. É muito gratificante saber que você pode salvar uma vida. Quando vejo alguém dizendo que se cadastrou por minha causa, fico muito feliz. Somos escolhidos para esse propósito.”

Para ela, o gesto de doar não tem preço. “Demorou três anos para me chamarem, mas pode levar mais tempo para outros. O importante é fazer o cadastro. Saber que posso ter salvado uma vida é a maior recompensa.”

Visando incentivar a doação de medula, o Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi – HGG, em parceria com a Rede Estadual de Serviços Hemoterápicos- Rede Hermo, realizou nesta quarta-feira (12) mais uma edição do projeto Saúde na Praça que ocorre desde 2017, este ano com o foco na ‘Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea’. 

A Diretora Geral da Rede Hemo, Denyse Silva Goulart, destacou a importância das parcerias estabelecidas pelo Hemocentro para engajar mais pessoas na doação de sangue, plaquetas e medula óssea, com ênfase na mobilização para doação de medula óssea . De acordo com Goulart, o Hemocentro tem se dedicado a desmistificar os processos de doação, um trabalho essencial para salvar vidas não apenas no tratamento de doenças crônicas, mas também em cirurgias e transplantes.

“A nossa missão é engajar o público, especialmente os jovens, para que se tornem doadores de medula óssea”, afirmou a diretora. 

Ela destacou que, embora Goiás seja referência no Centro-Oeste com mais de 250 mil pessoas cadastradas como doadoras de medula, a região ainda enfrenta desafios, especialmente com a falta de diversidade genética no banco de dados. “A maioria dos cadastrados são pessoas brancas e pardas, e o desafio está em incluir mais doadores negros, indígenas e de outras etnias, já que a compatibilidade genética é essencial para o sucesso do transplante”, explicou.

Segundo Goulart, o Hemocentro busca reduzir o tempo de espera para transplantes de medula óssea, que atualmente conta com cerca de 650 pessoas aguardando tratamento em todo o Brasil. O cadastro para doação de medula óssea é simples: pessoas de 18 a 35 anos, com boa saúde e sem histórico de doenças graves, podem se inscrever. Após o cadastro, é coletada uma amostra de sangue, e caso a pessoa seja compatível com alguém que precise do transplante, ela é contatada para realizar a doação.

Goulart compartilhou ainda um dado positivo em 2024, 16 pessoas que se cadastraram na Rede Hemo realizaram transplantes de medula, um número que evidencia o impacto positivo da campanha.

“Ao incentivar a doação de medula óssea, estamos não apenas salvando vidas, mas também plantando boas sementes de solidariedade na sociedade”, concluiu a diretora, reforçando o convite para que mais jovens participem das campanhas e ajudem a salvar vidas.

Goiás é referência no cadastro de doadores de Medula

O Dr. Adriano de Moraes Arantes, coordenador do serviço de transplante de medula óssea do Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG), destacou a relevância de levar o tema da doação de medula óssea para o público.  O médico ressaltou que, ao disseminar informações sobre o transplante, é possível aumentar a conscientização sobre sua importância e incentivar as pessoas a se tornarem doadoras.

“É fundamental que a população compreenda que a doação de medula óssea é um ato simples, mas de extrema importância, não só para salvar vidas, mas para garantir que o Brasil continue sendo um dos líderes mundiais em doação de medula”, afirmou o Dr. Adriano. 

O Brasil ocupa atualmente o terceiro lugar no mundo em número de registros de doadores, com mais de 25 milhões de pessoas cadastradas. O médico também destacou que, anualmente, no mês de setembro, o país celebra o Dia Internacional do Doador de Medula Óssea, um marco importante para valorizar essa causa.

Segundo o médico, o processo de doação começa com um cadastro simples, no qual a pessoa doa uma amostra de sangue, sem compromisso imediato de doar a medula. O objetivo é formar um banco de dados atualizado, já que os registros podem expirar com o tempo, especialmente entre doadores mais velhos. Dr. Adriano explicou que o Brasil prioriza doadores entre 18 e 35 anos, mas o cadastro permanece válido até os 60 anos.

“Manter esse registro atualizado é essencial para garantir que, quando um paciente precisar de uma medula óssea compatível, o doador possa ser localizado de maneira eficiente”, afirmou o especialista.

O coordenador ainda abordou a questão das informações errôneas e o medo das pessoas em relação à doação. Ele ressaltou que a disseminação de fake news é um obstáculo que precisa ser combatido com informações claras e precisas. “É importante que a população saiba que o processo é seguro e que a doação de medula óssea salva vidas. Combater a desinformação é essencial para o sucesso dessa campanha”, concluiu Dr. Adriano

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