Cancelamentos em Paraty e mais notícias literárias – 27/02/2025 – Ilustrada

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Encomendada há 40 anos pelo próprio Frans Krajcberg, sua biografia —que tem como subtítulo “A Natureza como Cultura”— chega agora ao público pelas mãos de um amigo do artista, o escritor e ambientalista João Meirelles.

Krajcberg, como aponta o repórter João Perassolo, entrou para a história como um representante da arte ecológica e uma voz contra o desmatamento.

Ele costumava se embrenhar na floresta amazônica em busca de materiais para os seus trabalhos. Em suas mãos, troncos carbonizados, cipós retorcidos e cascas de árvores se tornavam esculturas que denunciavam o extermínio de recursos naturais.

Seus quase cem anos de vida como artista e ativista são resgatados no livro. Um dos maiores desafios da escrita da biografia foi, segundo Meirelles, o fato de Krajcberg inventar histórias sobre sua vida quando lhe convinha.

“Ele era um ficcionista”, afirma o biógrafo, acrescentando que considera essas mentiras algo “plenamente aceitável” considerando-se os traumas sofridos por seu protagonista, um judeu errante que perdeu quase toda a sua família na Segunda Guerra .

Após testemunhar horrores que o homem infligiu ao próprio homem, não surpreende que Krajcberg afirmasse gostar mais de árvores do que de pessoas.

Acabou de Chegar

“Coisas Importantes Também Serão Esquecidas” (Companhia das Letras, R$ 89,90, 224 págs., R$ 44,90, ebook) narra os vaivéns emocionais da atriz Martha Nowill, que vivenciou uma gestação de gêmeos durante a pandemia. À repórter especial Anna Virginia Balloussier, a autora diz esperar que seu livro em formato de diário vá além do público feminino. Para ela, a obra não é só sobre maternidade, “é isso e muito mais”.

“A Fábrica” (trad. Jefferson José Teixeira, Todavia, R$ 71,90, 144 págs., R$ 54,90, ebook), de Hiroko Oyamada, relata o dia a dia maçante de três funcionários em uma misteriosa fábrica. A narrativa conquista à medida que se torna mais e mais estranha. “Você termina e quer reler. E reler”, afirma a crítica Camila von Holdefer.

“Mar da Tranquilidade” (trad. Débora Landsberg, Intrínseca, R$ 79,90, 272 págs., R$ 54,90, ebook) mergulha na hipótese de que a realidade é uma simulação e busca alegria e a beleza em meio às catástrofes do mundo. Para a crítica Ligia Gonçalves Diniz, o livro de Emily St. John Mandel, a mesma autora de “Estação Onze”, é “um elogio à ficção”.

E mais

Cinco anos antes do lançamento de “O Conto da Aia”, de Margaret Atwood, Margaret O’Donnell publicou “The Beehive”. Ambos os livros tratam de regimes totalitários que têm as mulheres como suas principais vítimas. O Painel das Letras conta que a editora Vestígio traz o livro de O’Donnell para o Brasil ainda neste ano, com o título “A Colmeia”.

A menopausa e o adeus ao período fértil tem chamado a atenção do mercado editorial e gerado diversos livros que buscam oferecer novas perspectivas sobre o assunto. Entre tantos autores, de leigos a especialistas, a repórter Teté Ribeiro destaca a atriz Naomi Watts e seu “Vou Te Contar: Tudo o que Queria que Tivessem Me Falado sobre a Menopausa” (trad. Carolina Simmer, BestSeller, R$ 69,90, 250 págs.), que com tom informal e confessional amarra informações científicas e conselhos.

“Sexo e Desorganização” (Ubu, R$ 69,90, 240 págs.), da psicanalista americana Jamie Webster, explora diferentes aspectos do sexo que vão além do prazer carnal. Segundo a autora, o sexo é democrático e as tentativas controlá-lo são instrumentalizadas por forças antidemocráticas. Em entrevista à repórter Bárbara Blum, ela disse ver esforços como os do presidente americano, Donald Trump, que ataca as minorias, como uma espécie de “efeito rebote” dos 50 anos de avanço nos direitos sexuais e reprodutivos.

Além dos Livros

Em 12 de agosto de 2022, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie foi atacado enquanto dava uma palestra em um anfiteatro no norte do estado de Nova York. Esfaqueado várias vezes, o autor perdeu o olho direito e os movimentos da mão esquerda, mas sobreviveu. Seu agressor, Hadi Matar, foi declarado culpado de tentativa de assassinato e de agressão na semana passada pela Justiça americana. Ele pode ser condenado a até 25 anos de prisão.

Após o anúncio das datas da Flip, pousadas em Paraty cancelaram e aumentaram o valor de reservas que já tinham sido feitas para o período em que acontecerá a festa literária, quando são praticados preços de alta temporada. Um dos estabelecimentos afirmou que os hóspedes já estavam avisados sobre a possibilidade de alteração de valor e que a Flip descumpriu o combinado de avisar a pousada sobre as datas do evento com antecedência. A festa, por sua vez, afirma que as duas possíveis datas para a realização de sua 23ª edição foram divulgadas em novembro passado.

O centenário de Marcos Rey trouxe à memória grandes obras do autor, como as que fizeram parte da coleção Vaga-Lume, que marcou a adolescência de muitos brasileiros. Mas, diz o jornalista Carlos Maranhão, é uma pena que o escritor tenha deixado de ser lembrado pela sua produção para adultos, que inclui obras como “Ópera de Sabão”, “O Último Mamífero do Martinelli” e “Memórias de um Gigolô”.