HECAR realiza 177 cirurgias para fissura labiopalatina em um ano

A fissura labiopalatina é uma malformação congênita que ocorre quando os processos faciais não se fundem corretamente durante a gestação. Essa condição afeta aproximadamente uma a cada 650 crianças, causando uma abertura no lábio ou no palato (céu da boca), o que pode gerar complicações na alimentação, na respiração, no crescimento facial e no desenvolvimento da fala e da audição. Além disso, pode impactar a aparência física e exigir um tratamento multidisciplinar para a reabilitação do paciente.

O cirurgião-dentista e especialista em bucomaxilofacial do HU-Univasf, Pedro Henrique Lopes, explica que as fissuras podem ser incompletas, atingindo apenas parte do lábio, ou completas, envolvendo tanto o lábio quanto o céu da boca. Além disso, podem se manifestar de forma unilateral ou bilateral. A condição tem origem multifatorial, combinando aspectos genéticos e ambientais, como o consumo de álcool, cigarro e determinados medicamentos durante o primeiro trimestre da gestação. “A ação destes fatores ambientais depende de uma predisposição genética do embrião”, ressalta Ana Cristina Coelho, fonoaudióloga responsável pelo Ambulatório de Fissura Labiopalatina do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB).

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que uma em cada 650 crianças brasileiras nasce com fissura labiopalatina. No Brasil, o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad) tem se destacado na reabilitação desses pacientes, tendo realizado 177 cirurgias plásticas e bucomaxilofaciais somente no último ano. O hospital também contabilizou aproximadamente 5,4 mil procedimentos em 2023, incluindo consultas especializadas e atendimentos de pequeno porte, e já ultrapassou a marca de 8 mil procedimentos em 2024.

A assistência aos pacientes ocorre no Centro de Reabilitação de Fissuras Labiopalatinas (Cerfis), um serviço de alta complexidade vinculado ao Hecad. O supervisor do Cerfis, cirurgião bucomaxilofacial Leonardo Andrade, destaca que cerca de 3 mil pessoas estão atualmente em tratamento no centro. Graças às melhorias estruturais e à ampliação da equipe especializada, o tempo de espera para cirurgias eletivas foi significativamente reduzido. “Há pouco mais de dois anos, os pacientes aguardavam mais de 19 meses pela cirurgia. Atualmente, aqueles em boas condições de saúde esperam menos de um mês pelo procedimento”, enfatiza.

O Cerfis é o único serviço especializado em fissuras labiopalatinas no Estado, atendendo pacientes da capital, de municípios goianos e até de outros estados. Além das cirurgias, o centro oferece exames, consultas, tratamento odontológico e acompanhamento multiprofissional com psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas e assistentes sociais. Um diferencial importante do atendimento é a oferta gratuita de aparelhos ortodônticos para os pacientes que necessitam.

Leonardo Andrade atribui o avanço nos atendimentos à modernização do Cerfis, que foi transferido do Hospital Materno-Infantil para o Hecad em fevereiro de 2022. “Hoje temos oito odontólogos especializados, garantindo um atendimento odontológico completo”, exemplifica.

O supervisor também ressalta o impacto social e emocional do trabalho desenvolvido. “Para nós é uma satisfação atuar na transformação física e emocional da pessoa com fissura labiopalatina. É maravilhoso ver a criança reabilitada, indo para a escola, com os pais felizes”, afirma.

O tratamento precoce é essencial para garantir melhores resultados. Andrade reforça que a assistência ao bebê com fenda labial e palatal deve começar o quanto antes. “É importante que o tratamento, de longa duração, seja realizado no tempo correto, para que a criança consiga se alimentar, falar e crescer com saúde e autoestima”, pontua. As cirurgias iniciais costumam ocorrer entre o terceiro mês e o primeiro ano de vida do bebê.

Um exemplo de sucesso no tratamento precoce é o caso de Lorenzo Ramos, de 7 anos, que iniciou o acompanhamento no Cerfis com apenas sete dias de vida. Sua mãe, Nayane Ramos Mendes, buscou ajuda logo após o nascimento, recebendo orientação sobre amamentação e cuidados específicos. Desde então, Lorenzo passou por cinco cirurgias e se prepara para iniciar o uso de aparelho ortodôntico. No futuro, ainda deverá realizar mais três ou quatro procedimentos cirúrgicos para a correção completa da fissura.

“As pessoas olhavam torto, haviam pessoas da minha família que disseram que não tinha coragem de olhar para ele. Essa frase me doeu muito, nunca vou me esquecer, onde eu queria acolhimento foi onde ouvi coisas que doeram muito.”, desabafa a mãe de Lorenzo.

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