[OPINIÃO] Oportunidades em meio à incerteza: o venture capital brasileiro em perspectiva

No panorama nacional, destaque para Santa Catarina, onde foram investidos R$ 2 bilhões no setor de TI entre 2024 e o início de 2025 – isso representa quase 20% de todo o volume de venture capital no país. / Imagem: DALL-E/SC Inova


[18.03.2025]

Por Marina Leite, Head de RI & Business Development na Invisto

Nos últimos dias, os números sobre a captação das empresas de tecnologia catarinenses em 2024 e no início de 2025 foram divulgados — e revelam um dado relevante.

Enquanto muitos investidores ainda hesitam diante de juros elevados e incertezas macroeconômicas, as startups seguem em ritmo acelerado, provando que inovação e crescimento não dependem de cenário ideal. Em um ambiente onde o capital se torna mais seletivo, quem sabe identificar as oportunidades certas pode estar diante de um dos momentos mais estratégicos para investir.

É nesse contexto que o ecossistema de startups da região Sul do Brasil tem chamado a atenção. Em 2024, o Brasil recebeu US$ 2,3 bilhões em investimentos de venture capital, um montante que, mesmo abaixo dos picos históricos, mostra um mercado em recuperação e com grandes oportunidades. Para efeito de comparação, esse valor supera os EUR 1,127 bilhão investidos na Itália e está significativamente acima dos EUR 886 milhões captados em Portugal no mesmo período.

Dentro desse cenário, precisamos destacar o estado de Santa Catarina: foram R$ 2 bilhões investidos no setor de tecnologia entre 2024 e o início de 2025, representando cerca de 20% de todo o volume de venture capital investido no Brasil. O estado também registrou um crescimento de 5,7% em 2024, liderando o ranking nacional.

Florianópolis, consolidada como um dos principais pólos de inovação do país, tem sido protagonista nesse movimento.

Atualmente, 25% do PIB da cidade já vem da tecnologia, com um faturamento do setor que atingiu R$ 12 bilhões em 2023. Além disso, a capital catarinense apresenta a maior densidade de empresas de tecnologia por habitante no Brasil, com 7,4 negócios tech para cada 1.000 moradores, superando grandes metrópoles como São Paulo e Curitiba.

Esse avanço reflete diretamente no dinamismo do setor de tecnologia, que tem atraído aportes significativos. Empresas como Asaas, Paytrack e outras startups locais captaram investimentos expressivos no último ano. Santa Catarina já se consolidou como um dos principais hubs de inovação do país, com um ecossistema forte e bem estruturado. 

Essa tendência positiva também é observada em outros estados do Sul. Com um ambiente favorável ao empreendedorismo e investimentos crescentes, regiões como Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul se destacam não apenas pela quantidade de startups em ascensão, mas também pela robustez de seus modelos de negócio. Neste contexto, o Venture Capital assume um papel decisivo ao financiar soluções inovadoras e acelerar o desenvolvimento econômico regional. 

Mesmo com desafios internos, o Brasil tem atraído o olhar de investidores internacionais. Renato Ejnisman, vice-presidente de atacado do Santander Brasil, observou que há uma mudança perceptível no humor do investidor estrangeiro. Fatores como a atratividade dos preços dos ativos brasileiros e a diminuição do risco cambial contribuem para esse cenário mais favorável.

Esse é um momento de dicotomia onde o ambiente ainda é desafiador para investidores, mas extremamente fértil para boas oportunidades. Empresas em estágio de crescimento buscam capital em condições mais alinhadas à realidade, com valuations mais justos e um racional de alocação que pode proporcionar retornos expressivos no médio e longo prazo.

O cenário abre uma janela única e estratégica para investidores que buscam diversificar além do CDI e aproveitar a maturação de startups promissoras, já que historicamente, os melhores investimentos são feitos justamente nos momentos de retração, quando poucos estão dispostos a assumir o risco.

Essa visão tem sido um pilar essencial na estruturação da estratégia de fundraising do novo fundo na Invisto e podemos acompanhar como o cenário atual apresenta não apenas desafios, mas um momento propício para investir de forma estratégica e diversificada. Em vez de simplesmente se resguardar no CDI, é hora de olhar para o venture capital como uma alternativa de geração de valor, aproveitando valuations ajustados e startups com grande potencial de crescimento.

A instabilidade econômica não deve ser um impeditivo para quem busca construir um portfólio sólido, pelo contrário, são nesses momentos que surgem as melhores oportunidades. Startups bem posicionadas continuam a crescer, independentemente do cenário macroeconômico, já que vemos a inovação e o empreendedorismo operando em ciclos próprios.

Diversificar além do CDI e direcionar capital para ativos de alto crescimento é uma estratégia essencial para capturar essa janela de oportunidade que o venture capital oferece.

O ecossistema de inovação brasileiro oferece um terreno fértil para investimentos estratégicos em venture capital. A região Sul, com seu ecossistema ressonante, forte crescimento econômico e crescente interesse estrangeiro, posiciona-se como um dos melhores destinos para investimentos em capital de risco no Brasil, e os investidores que souberem identificar bons negócios agora poderão colher retornos expressivos no futuro. No entanto, capturar essas oportunidades exige capital paciente – aquele que compreende que retornos expressivos são construídos ao longo do tempo, acompanhando o desenvolvimento e a consolidação das empresas investidas.

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