Parlamento alemão está mais velho e menos diverso – 25/03/2025 – Mundo


Os 630 deputados eleitos para compor o novo Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) tomaram posse nesta terça-feira (25) em Berlim, na Alemanha.

Caberá à nova legislatura escolher, por votação, quem será o próximo chanceler federal do país e líder da coalizão de governo que substituirá o social-democrata Olaf Scholz no comando da terceira maior economia do mundo.

O provável novo primeiro-ministro, Friedrich Merz, da aliança conservadora pela CDU (União Democrata Cristã) e a CSU (União Social Cristã), tenta no momento formar uma coalizão de governo com o SPD (Partido Social Democrata) de Scholz. Os termos do acordo ainda estão em negociação, mas a expectativa é que ele seja concluído até a Páscoa, no mais tardar. Até lá, Scholz e sua equipe de ministros continuam governando interinamente.

No Bundestag, a sessão inaugural é tradicionalmente aberta pelo deputado mais longevo da Casa. Desta vez, o papel coube a Gregor Gysi, 77. Advogado do leste alemão, ele deu seus primeiros passos na política em 1989, quando o regime da antiga Alemanha Oriental começou a ruir. Homem forte do partido A Esquerda, ele foi eleito para o Bundestag em 1990, logo após a reunificação alemã, e mantém cadeira cativa no Parlamento desde 2005.

Do outro lado da pirâmide demográfica do Parlamento está o também esquerdista Lukas Hoss, 23. Eleito pelo distrito bávaro ultraconservador de Passau, é o mais jovem deputado da Alemanha e quer atuar nos próximos quatro anos principalmente no combate à pobreza. Filho de mãe solo, Hoss já anunciou que pretende doar € 8,5 mil (cerca de R$ 48 mil) dos € 11 mil (R$ 62 mil) do salário de deputado a pessoas carentes, projetos sociais e ao partido A Esquerda.

“Os partidos deveriam se ocupar dos problemas concretos das pessoas. Hoje, eles são salários, preços e uma infraestrutura sucateada. Há muito o que fazer”, diz Hoss à DW.

Hoss faz parte do grupo de 46 jovens deputados –isto é, eleitos com até 30 anos– que querem ajudar a definir os rumos políticos da Alemanha. Em termos relativos, essa bancada jovem representa 7,5% do Parlamento –ligeiro aumento em relação aos 6,5% eleitos em 2021, mas ainda longe dos 12,7% de jovens que de fato compõem a sociedade alemã.

Para Hoss, não há dúvidas de que um Bundestag mais jovem tomaria outras decisões. “Existe essa ideia de que a gente primeiro deveria deixar os ‘mais velhos’ fazerem as coisas, e que nós, os jovens, ainda não sabemos muita coisa. Não acho isso bom. Quem pode trazer à tona os temas dos jovens melhor do que nós mesmos?”

Representação feminina no Bundestag diminui

Além dos jovens, mulheres também estão sub-representadas no Bundestag, exercendo pouco menos de um terço dos mandatos. A bancada feminina encolheu, passando de cerca de 36% para 32,5%. Uma das explicações para isso é o bom desempenho nas urnas dos partidos CSU e Alternativa para a Alemanha (AfD), que não têm cota mínima para candidatas mulheres. No caso da AfD, que fez campanha com Alice Weidel, a bancada feminina não chega a 12%.

Para a cientista política Ursula Münch, diretora da Academia para Formação Política em Tutzing, na Baviera, a explicação para a baixa representação de mulheres é outra: “O problema começa com o fato de que há poucas mulheres nos partidos políticos.”

Mas o Parlamento não tem o dever de espelhar fielmente a sociedade, afirma Münch: “Representação quer dizer abordar as questões em nome de outras pessoas.”

Muitos juristas, poucos representantes da classe trabalhadora

No Parlamento, os deputados têm que representar também a classe trabalhadora –composta na Alemanha por quem exerce trabalhos braçais ou manuais e que não tem nível superior.

Em 1949, na primeira legislatura da Alemanha Ocidental do pós-guerra, 18% dos deputados pertenciam à classe trabalhadora. Hoje, esse número caiu para 3%. Por outro lado, um em cada cinco deputados é formado em direito; outros 17% exerciam profissões ligadas à administração de empresas.

Para Münch, isso tem a ver com a organização do trabalho dentro dos partidos. “Muitos cronogramas partidários são planejados pensando em acadêmicos, que têm uma agenda mais flexível. Essas pessoas podem ficar em home office; uma vendedora ou caixa de supermercado, não.”

Segundo a cientista política, essa dinâmica leva à ascensão nos partidos daqueles que marcam mais presença, não necessariamente de quem tem as melhores ideias.

Münch defende que os partidos precisam tentar recrutar mais trabalhadores. Ela cita como exemplo o caso do SPD, que, ao defender a educação como instrumento de ascensão social, acabou se distanciando do seu eleitorado tradicional. “Isso funcionou muito bem no final dos anos 1960, 1970. E fez do SPD hoje um partido de acadêmicos, de professores, de funcionários públicos, juristas e ONGs. Mas já não é mais um partido dos trabalhadores.”

Poucos representantes ligados à comunidade imigrante

A 21ª legislatura do Bundestag não é só mais masculina e mais acadêmica; é também relativamente pouco diversa do ponto de vista étnico. Ao menos 73 deputados (11,6%) são filhos de migrantes ou migraram eles mesmos para a Alemanha, segundo levantamento do Mediendienst Integration, uma ONG que informa sobre migração e discriminação na Alemanha.

Esse grupo também está sub-representado no Parlamento. Na Alemanha, o percentual de pessoas com histórico de migração (migrantes e filhos de migrantes) é de quase 30%. Mas mesmo considerando apenas aqueles que têm direito a votar –ou seja, aqueles com cidadania alemã–, esse percentual ainda é de 14,4%.

Presidente do Conselho Nacional de Migração e Integração, Didem Laçin Karabulut alerta que o déficit de representação no Parlamento só aumenta: “Alguns grupos em nossa sociedade têm sistematicamente piores chances de representação política. Isso é um déficit democrático estrutural. Uma democracia só pode ser forte se todas as pessoas forem igualmente envolvidas, independente de origem, sexo e status social.”

Em termos proporcionais, a maior bancada de deputados com histórico de migração é a do Partido Verde –um em cada cinco. Não é à toa que o político e filho de imigrantes turcos Cem Özdemir foi, em 1994, um dos três primeiros deputados com histórico de migração a fazer parte do Parlamento.

Já na AfD, deputados com histórico de migração são apenas 5,9% —o menor número entre os partidos.

Principalmente migrantes e mulheres estiveram e estão em desvantagem quando o assunto é participação no poder, diz o cientista político Andreas Wüst, da Universidade de Munique. “Vemos não só no Bundestag, mas também nos estados e no nível municipal, que é mais difícil para uma pessoa com histórico de migração se tornar deputada em partidos de direita do que em partidos de esquerda. E em todos os partidos, vemos mandatos mais curtos no Parlamento e menores taxas de reeleição.”

Racismo e guinada à direita desencorajam participação política

Segundo Wüst, embora cada vez mais pessoas com histórico de migração ousem fazer carreira na política, hostilidades racistas –até mesmo no Parlamento– ainda desencorajam muitos.

Diante da guinada à direita na política alemã com o fortalecimento da AfD, muitas dessas pessoas estariam agora se perguntando se a situação política e o clima social ainda permitem que elas se identifiquem com o país. “Isso pode suscitar questionamentos. E quem não se identifica não se envolve”, analisa Wüst, acrescentando que esse desencanto vale tanto para pessoas da comunidade migrante quanto para o resto da sociedade.



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