Antiviral previne óbito por Ebola em até 100% em primatas – 27/03/2025 – Equilíbrio e Saúde


O Ebola é um dos vírus mais letais conhecidos, com taxas de mortalidade que podem chegar a 90% em surtos. Altamente contagioso, um dos maiores desafios em locais onde é endêmico é controlar a transmissão e, assim, reduzir o número de mortes.

Um novo antiviral desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences apresentou uma taxa de eficácia na prevenção de até 100% das mortes em macacos rhesus e de 80% em macacos-cinomolgos (um tipo de macaco asiático).

Os resultados do estudo, conduzido por pesquisadores do Laboratório Nacional de Galveston e do departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade Médica do Texas, em Galveston (EUA), em parceria com o laboratório americano, foram divulgados no dia 14 deste mês na revista especializada Science Advances.

Para avaliar a eficácia da droga, os cientistas analisaram cinco cinomolgos e cinco rhesus que receberam o medicamento por dez dias, sendo a primeira dose até 24 horas após a infecção. Um macaco-cinomolgo e dois macacos rhesus foram utilizados como controle.

Os macacos foram infectados com uma variante do Ebola conhecida como Makona, que é altamente infecciosa. As descobertas revelaram que o uso da droga nas primeiras horas após a exposição ao vírus retardou a replicação viral impedindo a febre hemorrágica associada à inflamação descontrolada que caracteriza a doença.

Batizado de obeldesivir (ODV), o antiviral atua inibindo a enzima RNA polimerase do vírus, interferindo na sua replicação no organismo. Segundo Thomas Geisbert, professor do departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade Médica do Texas e autor correspondente do estudo, o curso da doença em cinomolgos é mais rápido do que em macacos rhesus, por isso a sua eficácia foi reduzida nos primeiros.

Os macacos tratados com a droga também apresentaram uma redução na presença de citocinas e outras moléculas associadas à inflamação generalizada do organismo, reduzindo a possibilidade das chamadas “tempestades de citocina”, muitas vezes associadas ao aumento da gravidade da doença e morte.

Os pesquisadores verificaram a presença de anticorpos específicos contra o vírus no sangue dos macacos até 14 dias após a infecção, indicando a formação de uma resposta imune contra o Ebola, o que gera um potencial da droga não apenas para tratamento contra mortes, mas também de imunidade contra o vírus.

“A análise do plasma confirmou que os animais tratados com ODV geralmente apresentam uma redução de citocinas pró-inflamatórias e marcadores de coagulação, sugerindo que o tratamento oferece a possibilidade do desenvolvimento de uma imunidade adaptativa enquanto mitiga a inflamação excessiva, potencialmente prevenindo desfechos fatais”, diz o artigo.

A vantagem do antiviral, dizem os autores, é sua administração, distribuição e armazenagem facilitada pelo fato de ser um comprimido oral, tornando o seu uso em áreas rurais endêmicas de Ebola muito mais simples do que injeções intravenosas —como, por exemplo, o remdesivir, também utilizado no combate à Covid— até para prevenção dos profissionais de saúde durante surtos.

“Embora tenha havido um progresso tremendo na última década nos tratamentos contra o Ebola e outros filovírus, como anticorpos monoclonais e antivirais como remdesivir, todos eles requerem administração intravenosa, que pode ser um desafio em locais com poucos recursos. Além disso, quase ninguém gosta de receber injeções, enquanto a maioria das pessoas prefere tomar comprimidos”, disse o pesquisador.

De acordo com ele, a Gilead começou estudos com o obeldesivir ainda em 2022 contra o Sars-CoV-2. A equipe da Universidade do Texas realizou o primeiro estudo em animais para tratamento do Ebola no início de 2023.

Agora, a expectativa é conduzir novos estudos para avaliar a dosagem, a duração do tratamento e até quanto tempo após a exposição a administração do antiviral pode reduzir a replicação viral, como hoje é feito para prevenção do HIV/Aids, dizem os autores. Isso pode ajudar a conter os surtos da doença, como o ocorrido na África Ocidental entre 2013 e 2016, quando mais de 11 mil pessoas morreram.

Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores destacam que ainda são necessários ensaios em humanos antes que o medicamento possa ser aprovado para uso amplo. Além disso, a descoberta de atuação do obelsidivir contra outros filovírus, além do seu potencial inicial contra o Sars-CoV-2, pode permitir a investigação se a droga é eficaz também contra outros vírus que causam doenças em humanos, tornando-se assim um potencial candidato no combate a futuras pandemias, afirma Geisbert.



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