Mulher, não se cale! Lute!

Precisamos nos unir a outras mulheres da classe trabalhadora, que enfrentam os mesmos problemas que nós, e lutar para mudar essa situação. Transformar nossos problemas em denúncias contra esse sistema que nos massacra e oprime, o capitalismo.

Carol Vigliar | São Paulo


MULHERES – A matéria “Mais de um milhão de mulheres sofreram violência em 2023”, na edição 296 do jornal A Verdade trouxe dados a respeito do aumento no registro de todos os casos de violência contra as mulheres no Brasil e mostrou que, em 2023, mais de um milhão de casos foram registrados no país. Em relação à violência doméstica, foram registrados mais de 258 mil casos e, destes, mais de 2.700 tentativas de feminicídio. Dados subnotificados, como sabemos.

Mas o que mais chama atenção são os casos de feminicídio: em 2023, uma média de quatro mulheres por dia perderam suas vidas por serem mulheres, o maior número desde que o crime passou a ser tipificado. Os casos de abuso sexual também revoltam: foram mais de 72 mil casos denunciados, um a cada seis minutos; 240 diariamente. Mais de 60% destes ocorreram com crianças menores de 13 anos.

Todos os dados mostram que a violência aumentou. Mas, infelizmente, sabemos que esses números não expressam toda a violência que mulheres e crianças estão submetidas. Muitas mulheres não denunciam seus agressores e passam toda uma vida reféns de abusos e torturas. Muitas demoram para perceber que chantagem, humilhação, controle do dinheiro e dos horários, por exemplo, também são formas de violência. Com as crianças é ainda pior. Muitos casos só são conhecidos após muitos anos ou, às vezes, nunca.

Em uma roda realizada na Casa Laudelina de Campos Melo, em São Paulo, uma trabalhadora relatou que, após anos de violência, com queimaduras, mordidas, chutes e socos, quando decidiu fugir com seus filhos para não morrer, foi à delegacia, mas lá questionaram se ela realmente teria coragem para fazer aquilo.

São inúmeros os casos de mulheres que relatam sofrer mais violência ao chamarem a polícia. Ao chegar com uma mulher, atendida pela Ocupação Helenira Preta, em Mauá, presenciei a escrivã da delegacia gritar com mãe e filha que foram buscar ajuda, dizendo que elas deveriam ir primeiro ao IML e só depois à Delegacia. Os casos de omissão e violência dentro das delegacias são muitos. 

Além disso, sabemos que os serviços são insuficientes e pouco conhecidos pelas mulheres. As próprias Delegacias de Atendimento à Mulher (Deams), são insuficientes: das 568 existentes no país, apenas 10% funcionam 24 horas e aos finais de semana.

Como agir?

Os dados realmente são de indignar. Todas as mulheres conhecem outra que já passou por alguma violência. As delegacias, muitas vezes, não parecem ambientes seguros. Então, como agir?

Quando as mulheres se unem e se organizam são uma força poderosa! A saída para a violência passa por aí: organização e luta. No final da década de 1990, o movimento feminista paulistano se mobilizou por mais políticas públicas de proteção às mulheres e conquistou o primeiro espaço público do país que presta esse tipo de atendimento, a Casa Eliane de Grammond, hoje infelizmente privatizada pela gestão do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).

As mulheres também foram protagonistas nas lutas pela redução da jornada de trabalho, nas lutas contra a fome e a carestia e nos movimentos que derrubaram a ditadura militar no Brasil. Os movimentos de mulheres no nosso país garantiram todos os direitos que temos hoje, demonstrando que a luta vale a pena e que podemos arrancar ainda mais conquistas.

É por isso que o Movimento de Mulheres Olga Benario organiza no país todo ocupações e redes de apoio para mulheres em situação de violência. Não apenas para ofertar serviços que o Estado omisso não oferece, mas principalmente para organizar mulheres. Além da violência doméstica, sofremos outras inúmeras violências. Ou aluguel e comida caros não são formas de nos violentar? Não conseguir comprar roupas de frio e calçados adequados para nossos filhos também não são expressões de violência?

Por isso, precisamos nos unir a outras mulheres da classe trabalhadora, que enfrentam os mesmos problemas que nós, e lutar para mudar essa situação. Transformar nossos problemas em denúncias contra esse sistema que nos massacra e oprime, o capitalismo. Começar conquistando um centro contra a violência ou iluminação adequada nos bairros e dar continuidade à luta para mudar esse sistema de morte, organizar todo o nosso povo para construir o socialismo! Por isso, mulher, não se cale! Lute!

Matéria publicada na edição nº 298

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