“Caro é projeto não executado”, diz Cássio Taniguchi sobre os 10 anos do Plamus.

“Se nada for feito com relação à mobilidade urbana, a região da Grande Florianópolis vai parar”. A opinião é do engenheiro Cássio Taniguchi, ex-superintendente da Região Metropolitana da Grande Florianópolis. Taniguchi foi o responsável pela elaboração do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (Plamus), que completa 10 anos em 2024.

Uma reunião ampliada da Bancada da Grande Florianópolis da Assembleia Legislativa reuniu, na noite de quinta-feira, dia 14, especialistas para avaliar a situação atual do Plamus, por que não avançou de acordo com as etapas previstas e o que a Alesc pode articular para retomada da sua implantação.

O debate foi proposto pelo coordenador da bancada, deputado Marquito (Psol). “O Plamus é um instrumento que foi construído com muita qualidade, mas um problema de governança e de gestão não garantiram a sua execução”, opinou.

O Plamus foi elaborado em 2014 com financiamento do BNDES. Foi uma iniciativa do governo do Estado com apoio das prefeituras da região para promover a integração urbana nas cidades que integram a Grande Florianópolis. Além do transporte coletivo com corredor exclusivo para ônibus de trânsito rápido, o projeto também previa ciclovias, calçadas, integração intermunicipal das linhas de ônibus e outros modais de mobilidade urbana.

“O plano previa a implantação de um sistema integrado de transportes para que as pessoas tivessem condições de acessar a capital, que concentra 60% dos empregos na região metropolitana. Era um projeto que exigiria um investimento que dependeria fundamentalmente da prioridade de governo, e isso parece não ter acontecido”, disse Taniguchi.

Para o professor Werner Kraus, do Observatório de Mobilidade Urbana da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as cidades da Grande Florianópolis cresceram de forma rápida e necessitam de um transporte público de qualidade e atrativo para a população.

“A região metropolitana está requerendo há muito tempo um transporte de alta capacidade, veloz, com qualidade, que integre efetivamente os municípios. As pessoas moram em um lugar, trabalham em outro e hoje o transporte público não é atraente para fazer esses percursos. Se o Plamus tivesse sido implantado naquela época, teríamos hoje um sistema estruturador de transporte, como tem nas grandes cidades”, defendeu.

Além de Marquito, compõem a Bancada da Grande Florianópolis os deputados Camilo Martins (Podemos), Sérgio Guimarães (União) e Sergio Motta (Republicanos).

REDUÇÃO DA VELOCIDADE NAS VIAS URBANAS
Ação defendida pelos especialistas, a começar pelo engenheiro Cássio Taniguchi, que fez uma apresentação do Plamus apontando o crescimento da população nesses 10 anos do projeto. “O BNDES financiou o projeto em 2014 por R$ 10 milhões, hoje esse valor estaria em cerca de R$ 18 milhões”, disse ao iniciar sua fala destacando; “Caro é projeto adiado. Até quando?”.

Quanto à população, mostrou que em 2014 os habitantes da Região Metropolitana de Florianópolis somavam 959 mil, hoje esse número saltou para 1.190, um crescimento de 24%. Palhoça foi o município que mais cresceu, em uma década 48%, seguido de São José 20%, e Florianópolis 19%.

Ao defender o transporte coletivo para reduzir o número de veículos nas avenidas e melhorar a mobilidade urbana, Taniguchi disse que o transporte público deve ser competitivo e atraente. “O automóvel é um bicho espaçoso demais”, exibindo em uma lâmina da sua apresentação: Transporte Público x Transporte Individual: “75 pessoas transportadas por 60 carros cabem em um ônibus​”.

“E por que o Plamus parou por 10 anos”, pergunta o professor, respondendo: “O governo do Estado não se interessou e o projeto não foi executado, depois de a parte mais difícil ter caminhado como foi conversar com prefeitos e câmara de vereadores a se integrarem ao projeto”.

“Aí, peguei o boné e fui embora. Faltou vontade política”, lamentou, pois, segundo ele, hoje poderíamos ter boas calçadas, transporte público eficiente, só para citar alguns exemplos.

Tanichughi, ao responder as respostas da plateia sobre a falta de competitividade do transporte coletivo frente ao individual, disse que a frota deveria ser de qualidade, com ar condicionado, acessibilidade no acesso a idosos e pessoas com mobilidade reduzida e deficientes, principalmente. “Temos que ter um bom sistema, mas sou contra o ônibus executivo com tarifa maior. Isso limita as pessoas. O transporte tem que ser universal, e não seletivo”.

O professor também, a exemplo dos demais palestrantes, defendeu a redução drástica da velocidade nas vias urbanas pra diminuir, especialmente, os acidentes de trânsito; “Deveria começar com 60 km e depois baixar para 40 km”, sugere.

Segundo o engenheiro, a frota de automóveis em Florianópolis chega a 208 mil veículos; mais 60 mil motocicletas, ou seja, 268 mil transportes individuais motorizados.

“Além de espaçoso, o automóvel é o maior poluidor do planeta”.

Fotos: Vicente Schmitt / Agência AL
Textos: Daniela Legas/ Agência AL e Sibyla Loureiro

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