Evandro Teixeira: um legado em imagens da história do Brasil

Evandro Teixeira, um ícone do fotojornalismo brasileiro, faleceu no dia 4 de novembro, no Rio de Janeiro. Ele tinha 88 anos. O fotógrafo foi internado na Clínica São Vicente, localizada na Gávea, na Zona Sul da cidade. A causa de sua morte foi falência múltipla de órgãos, resultado de complicações de uma pneumonia.

Ele deixa a esposa, Marli, com quem foi casada por 60 anos, duas filhas e três netas. O corpo de Evandro será velado na Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio, em uma cerimônia aberta ao público, no dia 5 de novembro, das 9h às 12h.

Evandro Teixeira nasceu na Bahia, em 1935. Ele deixou Irajuba, um pequeno povoado a 307 quilômetros de Salvador, em busca de oportunidades no campo da fotografia. Na juventude, fez um curso de fotografia à distância. Em 1957, chegou ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para trabalhar no Diário da Noite. Logo depois, foi convidado a integrar a equipe do Jornal do Brasil, onde há 47 anos se torna uma referência no fotojornalismo.

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Durante quase 70 anos de carreira, Evandro registrou eventos que marcaram a segunda metade do século 20. Ele capturou imagens históricas do Brasil e de outros países. Seu trabalho incluiu registros do golpe militar de 1964 e da ocupação do Forte de Copacabana em 1º de abril daquele ano.

Com a câmera oculta, ele se disfarçou de oficial sem farda, acompanhado por um amigo que era militar. “Bati continência, falei que era o capitão tal – já não me lembro mais o nome (risos)”, conto em entrevista ao g1, realizada em setembro de 2023. Ele conseguiu uma foto poética que foi capa do Jornal do Brasil no dia seguinte , mostrando militares em contraluz sob a chuva.

Evandro tinha o hábito de esconder o filme da câmera. “Tirei o filme da câmera, botei na meia. Na saída, tive que mostrar a câmera, mas já estava com o filme escondido”, lembrou. Essa estratégia era para evitar a apreensão do rolo e garantir a preservação das fotos.

As lentes de Evandro foram essenciais para registrar a luta contra os horrores da ditadura militar no Brasil. Uma de suas imagens mais conhecidas retrata a Passeata dos 100 Mil, em 1968, na Cinelândia. “Estava lotado e eu nunca vi tanta gente. Aquela faixa de ‘Abaixo a ditadura, o povo no poder’ me chamou a atenção”, recordou.

Em um dia caótico no Centro do Rio, Evandro capturou a cena de um estudante caído, perseguido por dois policiais. “Ele soltou um gemido alto e ficou estirado no chão. Os policiais procuraram levantá-lo. Eu tirei mais uma foto e saí correndo porque eles vieram a me perseguir”, disse ao g1 no ano passado.

Outra cena marcante ocorreu na Candelária, onde ele registrou a repressão policial com agentes montados a cavalo.

Em setembro de 1973, Evandro voltou sua câmera para o golpe militar no Chile, que foi descoberto na morte do presidente Salvador Allende. Durante sua estadia, fez fotos que se trouxeram documentos históricos. Ele registrou eventos no Estádio Nacional, onde documentou a violação dos direitos humanos. Também capturou imagens do adeus ao poeta Pablo Neruda, um ícone da esquerda chilena.

Além de documentar momentos marcantes, Evandro também eternizou imagens de figuras como Pelé e Ayrton Senna. Ele acompanhou visitas de personalidades como a Rainha Elizabeth e o papai João Paulo II. O fotógrafo também registrou cenas de fome e pobreza, bem como as festividades do carnaval.

Evandro reuniu suas obras em livros que refletem seu orgulho e dedicação à fotografia. Ele deixou um legado visual inestimável. Em vida, recebeu uma honraria especial: uma poesia escrita por Carlos Drummond de Andrade, um admirador de seu trabalho.

A carreira de Evandro Teixeira se destaca não apenas pela quantidade de fotos, mas pela profundidade e importância de cada uma. Ele se tornou um testemunho visual da história do Brasil e da luta por liberdade e justiça.

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