Sucessão rural e agregação de valor

Por Ivan Ramos, diretor executivo FECOAGRO

Uma das principais preocupações das lideranças e autoridades no setor agropecuário no momento tem sido a sucessão nas propriedades agrícolas e a rentabilidade na atividade. Em pequenas propriedades, a situação tende a ser mais grave. A pouca terra para o cultivo faz com que os jovens saiam do campo para buscar outras alternativas de renda nas cidades. A modernidade vendida pela mídia acaba seduzindo os jovens por algum tempo, na esperança de dias melhores. Com isso, as propriedades acabam ficando sem sucessores com o passar dos anos. Os resultados, no entanto, não são tão positivos como se espera. A vida na cidade não é tão fácil como parece. Nas periferias das cidades, há muito mais miséria do que no campo.

Mas ainda há uma luz no fim do túnel. Parece que os jovens estão se dando conta disso. É expressivo o número de jovens que saem para estudar nas cidades e voltam para o campo para dar continuidade às atividades dos seus pais. E o que é mais importante: ampliando o uso de tecnologias, diversificando as atividades e buscando mais produtividade e renda. A diversificação, especialmente nas pequenas propriedades, é fundamental para melhorar o padrão de vida no meio rural. À medida que as tecnologias chegam ao campo, tanto nas atividades produtivas quanto nas comunicações pelas redes sociais, há estímulo para os jovens ficarem no interior. Mas o poder público precisa fazer sua parte no processo. Conectividade e energia de qualidade são fundamentais para que as novas tecnologias sejam aplicadas. 

As entidades do agro de SC, em parceria com o Canal Rural, têm se esforçado para sensibilizar as autoridades e o público rural de que precisamos acompanhar as novidades tecnológicas que estão surgindo e que chegam com muito mais rapidez no meio urbano. O Fórum SC e o Agro 5.0, realizado recentemente em Criciúma, colocou em discussão a conectividade e seus avanços para o futuro no campo. Uma iniciativa para estimular a discussão de um tema que não tem volta e que certamente também chegará ao meio rural. Foi discutida presencialmente e em nível nacional pela televisão a inteligência artificial. O advento das novas tecnologias na conectividade já está aí. Pode parecer um bicho-papão para quem não convive com elas, mas precisa ser discutida e implementada. Foi um passo importante para ressaltar aos homens do campo que precisam aderir às novas tecnologias para não ficar para trás, pois a fila está andando e quem não acompanhar ficará na estrada. 

O fórum proporcionou também uma visão daquilo que está sendo feito no campo em uma pequena propriedade com sucesso. A visita técnica organizada pela Epagri na propriedade da família Dagostin, no interior de Criciúma, mostrou que, mesmo em pequenas áreas, é possível alcançar resultados positivos. A sucessão familiar está presente nessa propriedade, pois já são quatro gerações na atividade. Além da preocupação com a sucessão, também está presente na família Dagostin a agregação de valor aos produtos. Produtores de bananas há mais de 100 anos, conseguiram passar dos bisavós, para avós, para pais e para o filho, já com planejamento para o neto, que está estudando agronomia como o pai e deve voltar à propriedade para dar continuidade ao negócio no campo. Além de acompanhar os avanços tecnológicos no cultivo da banana, a implantação do processamento do produto industrializado no campo conquistou mercados nos grandes centros urbanos. 

O exemplo da família Dagostin deve ser inspiração para outros agricultores de que, mesmo em pequena área, é possível agregar valor, praticar a sucessão no campo e viver bem. Apesar dos avanços verificados na propriedade e propagados pelo Canal Rural pelo país afora, através da televisão, ficou mais uma vez evidenciado que a conectividade no campo é precária. O sinal de internet disponível no local era deficiente. Mais uma prova de que o poder público precisa estar mais presente, oferecendo infraestrutura para o desenvolvimento. Em um local bem próximo de um dos centros urbanos importantes do sul do estado, a uma distância de 10 km do centro de Criciúma, o sinal de internet era inexistente. Como avançar em uma agroindústria no campo quando se tem dificuldades de comunicação? Como acessar os mercados e as novas tecnologias sem comunicação? Mesmo assim, a perseverança da família Dagostin, agora liderada pelo neto, Jefferson Dagostin, mostrou que é possível viver melhor no meio rural. Basta que os sucessores procurem alternativas e diversifiquem as atividades. A família tem a banana como principal atividade, mas também cultiva cereais e pratica pecuária. Com pouco mais de 30 hectares de área, conseguem ser empresários rurais de sucesso. Espera-se que a iniciativa dos Dagostin sirva de exemplo para outros agricultores catarinenses na sucessão no campo e na agregação de valor aos seus produtos. Pense nisso! 

Fonte: Fecoagro 

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