Projeto social histórico em SP, Interferência luta para não fechar as portas

Fundada pelo escritor Ferréz há quase duas décadas, a ONG Interferência atua no bairro do Capão Redondo, na Zona Sul da capital paulista, acolhendo crianças e adolescentes. Campanha de solidariedade busca impedir que seu trabalho de solidariedade popular seja interrompido pela venda de sua sede

Gustavo Coruja | São Paulo (SP)


Para quem anda sempre ao lado do povo, não é raro ver, mesmo em meio às situações mais extremas de pobreza e abandono do Estado burguês, a classe trabalhadora se unindo para promover ações da mais profunda solidariedade com o objetivo de garantir a dignidade que os ricos tentam tirar dos mais pobres.

Um importante exemplo dessa solidariedade é a ONG Interferência, um projeto social localizado no Jardim ​Comercial, no Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo. Fundada pelo escritor Ferréz em 2009, a organização começou como uma ​biblioteca comunitária. Aquilo que nasceria de uma ação espontânea para difundir mais cultura na periferia logo também atenderia outras necessidades e se tornaria referência na região. A partir do sentimento de indignação com o sofrimento e a carestia do povo, o projeto foi crescendo e se expandiu a ponto de, atualmente, garantir cestas básicas, cursos e assistência social para 120 famílias e oferecer três refeições diárias para mais de 80 crianças.

“A nossa ‘interferência’, do nome do projeto, é dar uma chance de eles serem crianças. Muitas vezes é tirar do trabalho na rua, dar uma infância mesmo”, explica Rafael, um dos funcionários mais antigos do projeto, em entrevista ao jornal A Verdade.

Casa atende crianças e famílias

Ao longo dos anos, a Interferência passou por três casas diferentes. Recentemente, o projeto chegou ao atual espaço que, por ser bastante amplo, com cerca de 400 m², é ideal para a realização de diversas atividades práticas pelas crianças e possibilita que se garanta uma estrutura adequada para as pessoas atendidas pelo projeto.

“Nós estamos desde 2023 aqui. Hoje a gente tem espaço para piso tátil, banheiro acessível com cadeiras de rodas, colocamos corrimão, grades, isso é o que torna a casa mais acessível para as crianças. A gente fez todas as melhorias para que eles tivessem um conforto, todo espaço é pensado para eles”, conta Rafael.

Neste ano, apesar da importância do projeto no Capão Redondo, o proprietário do imóvel onde ele funciona o pôs à venda, colocando todo o trabalho da Interferência em risco. Agora que a residência já foi toda adaptada, inclusive com mecanismos de acessibilidade para as crianças, a mudança de espaço ficaria inviável.

Na luta contra o tempo, os voluntários da Interferência iniciaram uma campanha para tentar angariar fundos que permitam a compra do espaço e consequentemente a continuidade das atividades. Nesse momento, apenas a solidariedade pode garantir que essa ação de tamanha empatia para com o povo, em especial a juventude, siga de pé.

Todos os que se organizam em prol das causas populares sabem como é recorrente a dificuldade de encontrar espaços para atuar, ambientes para realizar reuniões, guardar materiais, acolher pessoas, etc. Essa situação é especialmente comum em São Paulo, a maior cidade da América Latina e a mais rica do Brasil, que foi tomada pela especulação imobiliária e por construtoras que negam aos trabalhadores os espaços que podem oferecer lazer, cultura, educação e outros direitos.

Por isso, a luta pelos territórios tem uma enorme importância no país, que nunca passou por uma reforma agrária ou uma reforma urbana. Essas lutas são fundamentais para que o que já foi conquistado seja mantido e para que as terras e as cidades brasileiras passem a estar a serviço do povo, e não do dinheiro e do egoísmo burguês.

Solidariedade popular

Na condição de um jornal dos trabalhadores na luta pelo socialismo, o jornal A Verdade busca sempre promover o fortalecimento dos laços de solidariedade entre o povo trabalhador. Em seu artigo “A Moral Comunista”, publicado no Brasil na revista teórica Problemas, o dirigente bolchevique Kolbanoski destaca: Qualidades de caráter tais como a honestidade, a sinceridade, a dedicação, a coragem, a energia e a solidariedade entre camaradas, a dedicação à causa da libertação dos trabalhadores e muitas outras qualidades morais, [devem ser desenvolvidas e fortalecidas] entre os massas trabalhadoras; embora a burguesia tenha brutalmente espezinhado esses princípios morais e empestado a atmosfera social com o egoísmo, a extorsão, a hipocrisia e outros sentimentos.”

Por isso, o jornal A Verdade se soma à campanha em defesa da Interferência, reconhecendo o projeto como fundamental para a difusão cultural e integração social da juventude periférica na cidade de São Paulo. Entendemos que ele serve de exemplo por sua capacidade de acolhimento e organização popular, em sua luta para que dezenas de jovens e famílias tenham condições de acessar cultura, conhecimento e recursos que são negados aos filhos da classe trabalhadora. A união popular será fundamental para vencer esta batalha.

Só o povo salva o povo!

Apoie a campanha do projeto Interferência: https://apoia.se/interferenciacasa

Adicionar aos favoritos o Link permanente.