24,3% dos adultos são obesos no Brasil, diz pesquisa

Um estudo publicado na revista científica The Lancet e apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem com obesidade, ou seja, 1 a cada 8, são obesas. No Brasil, essa proporção já é de 1 pessoa com a doença a cada 4, em relação ao público adulto, de acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023, do Ministério da Saúde. Os dados mostram ainda que, 24,3% dos adultos no Brasil, são obesos. 

Segundo a nutricionista Samantha Araújo, a origem dessa condição é multifatorial, envolvendo diversas causas que frequentemente atuam em conjunto. Entre as principais causas estão os hábitos de vida inadequados, como uma alimentação desbalanceada, o sedentarismo, o estresse crônico e distúrbios do sono. “Esses fatores contribuem significativamente para o aumento da gordura corporal ao longo do tempo”, explica Samantha. Além disso, desequilíbrios hormonais, disbiose intestinal, polimorfismos genéticos e outros fatores também desempenham papeis importantes na etiologia da obesidade.

A obesidade não é apenas uma questão estética, mas um problema que afeta profundamente o funcionamento do organismo. Ela impacta a liberação de substâncias inflamatórias, hormônios e neurotransmissores, favorecendo o desenvolvimento de condições como doenças cardiocirculatórias, diabetes, demência, câncer, depressão e problemas articulares.

A prevenção da condição, conforme ressalta Samantha Araújo, está intrinsecamente ligada ao estilo de vida. Cultivar hábitos alimentares saudáveis é crucial, optando por uma dieta baseada em alimentos in natura ou minimamente processados, como hortaliças, frutas, sementes, grãos integrais, especiarias e temperos naturais. Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, que são ricos em energia, açúcar, gorduras e aditivos artificiais, também é fundamental.

Além da alimentação, a prática regular de exercícios físicos, o controle do estresse, a garantia de um sono de qualidade e em quantidade suficiente são medidas essenciais na prevenção da obesidade. “Adotar um estilo de vida saudável desde cedo pode reduzir significativamente o risco de desenvolver obesidade e suas complicações associadas”, orienta Samantha.

Tratamento Individualizado e Multifatorial da Obesidade

No combate à obesidade, a nutricionista Samantha destaca a importância de abordagens personalizadas, reconhecendo que suas causas são multifatoriais. O acúmulo de gordura decorre principalmente do desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto metabólico, mas compreender os gatilhos individuais é crucial para o tratamento eficaz.

“É fundamental considerar o que levou o indivíduo ao consumo excessivo de calorias e ao quadro de obesidade”, explica Samantha. Para isso, intervenções que combinam reeducação alimentar, acompanhamento psicológico para modificar comportamentos alimentares disfuncionais, e ajustes no estilo de vida são essenciais. A profissional ressalta a importância de um plano alimentar calculado individualmente e o papel da conscientização emocional na mudança de hábitos.

Além da alimentação, ajustes no ciclo circadiano, gestão do estresse, prática de exercícios orientada por profissionais, e correção de deficiências nutricionais ou desequilíbrios hormonais são fundamentais no tratamento. Samantha alerta para a influência do ambiente social e econômico na disponibilidade e escolha dos alimentos, destacando que fatores como nível educacional e renda podem impactar significativamente os índices de obesidade.

“É crucial entender que a obesidade é uma doença que requer abordagem multidisciplinar”, enfatiza Samantha. “Pessoas com obesidade enfrentam estigma e isolamento, mas é possível restabelecer a saúde e a qualidade de vida com suporte adequado.”

Cirurgia Bariátrica

Nos últimos anos, a cirurgia bariátrica tem se destacado como uma intervenção eficaz para o tratamento da obesidade severa e suas comorbidades associadas. De acordo com o cirurgião bariátrico e metabólico, Paulo Reis, atualmente existem três principais tipos de cirurgias realizadas mundialmente, cada uma com suas características e indicações específicas.

O procedimento mais comum é o sleeve gástrico, também conhecido como gastrectomia vertical. Esta técnica consiste na redução do estômago, sem intervenção no intestino, focando exclusivamente na modificação da capacidade gástrica do paciente.

Outra opção amplamente utilizada é o bypass gástrico, que combina a redução do estômago com um desvio intestinal. Neste caso, parte do estômago é grampeada, criando um pequeno reservatório, e o intestino é conectado diretamente a essa nova bolsa gástrica, promovendo uma menor absorção de nutrientes.

Menos comum, porém igualmente eficaz, é o duodenal switch, que combina aspectos do sleeve com um desvio intestinal no duodeno, a primeira porção do intestino delgado. Este procedimento visa tanto à redução da capacidade gástrica quanto à limitação da absorção de calorias e nutrientes.

Cuidados e Critérios de Indicação

Tecnicamente, segundo o especialista, as cirurgias são realizadas predominantemente por laparoscopia ou robótica, minimizando os riscos e facilitando a recuperação do paciente. A anestesia geral é utilizada, e equipamentos modernos são empregados para assegurar uma intervenção minimamente invasiva.

O cirurgião explica que o principal critério para indicação de cirurgia bariátrica é o Índice de Massa Corporal (IMC). Um IMC igual ou superior a 35, acompanhado de comorbidades relacionadas à obesidade, ou um IMC superior a 40, são os parâmetros recomendados pelo Conselho Federal de Medicina para considerar a intervenção cirúrgica. Além do IMC, a presença de estigma pela obesidade também pode ser considerada na decisão pelo procedimento.

Avaliação Pré-Operatória

O processo de avaliação inclui uma consulta inicial com o cirurgião, seguida de uma série de exames abrangentes. São realizados exames de sangue completos, avaliação da função renal, hepática, pancreática, além de exames cardiológicos detalhados como teste ergométrico. Exames complementares como ultrassonografia e endoscopia são essenciais para uma avaliação completa do estado de saúde do paciente e para determinar o risco cirúrgico.

A cirurgia bariátrica representa uma importante ferramenta no tratamento da obesidade mórbida, oferecendo não apenas a perda de peso significativa, mas também melhorias na qualidade de vida e na saúde geral do paciente. Com a orientação adequada e uma avaliação criteriosa, os pacientes podem alcançar resultados positivos e duradouros através desses procedimentos cirúrgicos avançados.

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