Os riscos da lipoaspiração fora do ambiente hospitalar

Após mais um falecimento registrado durante uma lipoaspiração realizada em condições inadequadas, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Goiás (SBCP-GO) divulgou uma nota oficial alertando sobre os riscos associados a esse tipo de procedimento. O incidente ocorreu no dia 26 de novembro, em São Paulo, onde uma mulher de 31 anos perdeu a vida após complicações durante a cirurgia. 

A lipoaspiração é um procedimento destinado à remoção de gordura localizada em áreas específicas do corpo, é especialmente indicada para indivíduos que apresentam acúmulo de gordura em determinadas regiões. É fundamental esclarecer que a lipoaspiração não se destina ao tratamento da obesidade ou à perda de peso, o foco principal desse procedimento estético é promover a autoestima e a satisfação com a silhueta corporal. 

A técnica envolve o uso de tecnologia avançada, que utiliza diferentes tipos de cânulas, cada uma com características específicas de diâmetro, comprimento, curvatura e orifícios de extração, conectadas a um dispositivo de sucção.

De acordo com a SBCP-GO, a lipoaspiração é um procedimento invasivo que requer cuidados extremos. “A lipoaspiração é um procedimento invasivo, que deve ser conduzido com extremo cuidado em ambiente hospitalar, equipado com infraestrutura adequada e recursos de suporte à vida, para minimizar os riscos de complicações graves, incluindo hemorragias, infecções e problemas anestésicos”, destaca a nota.

A entidade enfatiza que técnicas como minilipo, hidrolipo e MELA não possuem comprovação científica quanto à sua segurança, representando um perigo à vida dos pacientes. A realização desses procedimentos em consultórios ou clínicas que não possuem a infraestrutura adequada contraria as normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), além de colocar em risco a vida dos pacientes e comprometer a qualidade dos resultados obtidos.

O cirurgião plástico Dr. Pablo Rassi Florêncio, explica que existem intercorrências que podem acontecer em qualquer tipo de procedimento que, quando feito em um ambiente adequado, tem maior capacidade de sanar intercorrências de forma mais eficaz.

“Intoxicações por anestésico local, alguma reação, às vezes anafilática, tudo isso aí pode acontecer em qualquer tipo de procedimento, contudo, se feito em ambiente adequado, é possível fazer um melhor controle dessas situações”.

O cirurgião plástico explica que a realização do procedimento em um ambiente adequado, tem maior capacidade de sanar intercorrências. Foto: Arquivo Pessoal

Ambiente inadequado

Além disso, a SBCP-GO destaca o aumento de denúncias relacionadas à prática de lipoaspirações em ambientes inadequados e realizadas por profissionais sem a formação apropriada, que muitas vezes atuam de maneira itinerante, dificultando a fiscalização e elevando os riscos.

“Recomendamos que os pacientes busquem sempre profissionais qualificados, devidamente registrados na SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e realizem seus procedimentos em locais que sigam rigorosamente os protocolos de segurança e higiene. Nossa prioridade é garantir que os pacientes tenham acesso a um tratamento ético, responsável e com os mais altos padrões de segurança “.

Pablo, por sua vez, afirma a importância de procurar por profissionais que possuem treinamento e habilitação, que realizem um preparo nutricional, garantindo a realização de um procedimento com mais segurança.

“Fazer esses procedimentos com não médicos ou até mesmo com médicos que não são da área especialistas aumenta as chances de ter um resultado de pior qualidade, mas também com maior risco também do próprio procedimento. A preparação e a análise da paciente no pré-operatório com uma consulta feita adequadamente, também nos prepara melhor para os procedimentos”. 

Ele alerta que mesmo em procedimentos que são feitos apenas com anestesia local, para se ter controle da dor é necessário o uso de anestésicos locais e a introdução desse medicamento pode provocar intoxicações por eles ou até mesmo às vezes dentro de um vaso.

“Pode gerar algumas reações que um ambiente adequado e médicos bem treinados vão poder fazer um controle dessa situação de maneira mais eficiente. Essa é uma das grandes importâncias, fora a questão de treinamento para o ato em si”, finaliza.

Os riscos e complicações de procedimento inadequados 

Neste ano, um caso que repercutiu em Goiânia, foi a morte de Fábia Portilho, que segundo informações do Boletim de Ocorrência (BO), a empresária faleceu após ter realizado uma mamoplastia e uma lipoaspiração. A família dela registrou a ocorrência na Polícia Civil (PC) no dia 8 de maio. Ainda de acordo com o BO, a jovem se submeteu às cirurgias no dia 3. Os familiares relataram que ela havia recebido alta no dia 5, mas retornou ao hospital na manhã do dia 7, devido a dores abdominais.

Conforme o que foi informado pelos parentes à polícia, Fábia gritava de dor e, mesmo assim, os médicos de plantão, assim como o responsável pela cirurgia, não a examinaram nem solicitaram uma tomografia. 

“Ela só tomou as bolsas de sangue e, quando houve a troca de plantão, a médica viu que era uma infecção grave e disse que a Fábia precisava de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”, afirmou a prima, Mariana Batista.

Mariana mencionou que, durante a noite, as equipes do hospital comunicaram que não havia UTI disponível e nem equipamento para a realização da tomografia. 

Outro caso que ganhou destaque na capital, em 2023, foi a morte da jovem Dayana Loy de Oliveira Freire, de 25 anos, após a realização de uma cirurgia plástica, que ocasionou um tromboembolismo pulmonar, uma complicação causada pela obstrução das artérias dos pulmões por coágulos. A moça que residia em Itaberaí, na parte noroeste do estado, decidiu vir à capital para realizar o seu sonho de passar por uma lipoaspiração. Após receber anestesia, durante o procedimento cirúrgico sofreu uma parada cardiorrespiratória e veio a óbito.  

Um relatório enviado na época pelo cirurgião, para os seus familiares, informou que a equipe médica tentou reanimar a jovem por um período de três horas. O documento também detalhou que a complicação ocorreu no momento em que estavam fechando os orifícios resultantes da lipoaspiração. “Foi observado bradicardia”, que se refere a um ritmo cardíaco irregular ou lento, geralmente com menos de 60 batimentos por minuto. (Especial para O Hoje)

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