“Se queremos um ecossistema mais forte, precisamos acolher, treinar e valorizar as diferenças”

A produtora de eventos Thiara Galdino, que deixou os medos de lado em plena pandemia para se assumir como mulher trans, é uma das personalidades mais premiadas do ecossistema nacional de startups em 2024. 

Nesta entrevista, ela reforça a importância da inclusão e da diversidade para o desenvolvimento do setor de tecnologia. / Foto: Divulgação

 
[FLORIANÓPOLIS, 12.12.2024]
Por Fabrício Umpierres, editor –
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Um ecossistema de inovação não se desenvolve sem eventos. E tampouco sem diversidade. Em meio a dezenas de meetups, summits, talks e oportunidades de conexão no setor de tecnologia, um nome tem sido quase onipresente na organização e nos bastidores de eventos em Santa Catarina: o da empreendedora e produtora Thiara (Thithi) Galdino, sócia da Vanthi Eventos e que hoje soma múltiplas funções. 

Desde 2019 imersa no ecossistema de tecnologia catarinense, Thiara decidiu, no período de isolamento da pandemia, se assumir como mulher trans em meio a uma equipe de 100 pessoas, um momento que marcaria para sempre sua trajetória. Até então, recorda, “vivia uma personagem que disfarçava os medos que levava dentro de mim”. 

Cinco anos depois, Thiara é um dos nomes de destaque do ecossistema de inovação do país: além de líder de Comunidade INOVATIVA 2023, foi articuladora do Road Show do INOVA STARTUPS, do Sebrae, é também diretora de Operação do Operação do Comitê Latino Americano de Eventos de Inovação e conquistou recentemente o cargo de CEO do CWB STARTUPS 2025, evento de inovação que é referência no ecossistema tech de Curitiba (PR).

Aos cargos, soma-se dois títulos conquistados neste dezembro de 2024 – Líder de Diversidade e Inclusão no Startup Awards/ABStartups e vencedora do prêmio Transformadora de Startups, no Digital Startup Awards, promovido pelo Instituto de Transformação Digital. Nas palavras dela, esses reconhecimentos representam “existência, respeito e fortalecimento para minha vida”.  

Neste papo com o SC Inova, Thiara compartilha o que representa essa trajetória, como ela vem impactando o setor tech por meio de eventos e conexões e, acima de tudo, ressalta como a diversidade e a inclusão não podem ser uma “cota” no ecossistema, mas um propósito real a ser aplicado.

SC Inova: O que estas premiações representam pro teu propósito, pra comunidade e pro próprio ecossistema de tecnologia, que ainda debate pouco o movimento da diversidade?

Thiara Galdino: As premiações representam existência, respeito e fortalecimento para minha vida, meu profissional e para todos os movimentos que eu me proponho a fortalecer, participar e acompanhar. Para mim, esses prêmios são muito mais do que um reconhecimento individual, mas confesso que não tem explicação a sensação de ler o meu nome na tela, mas muito mais do que o nome lá, eles são uma validação de tudo que eu venho trabalhando e os resultados que eu estou alcançando dentro da comunidade.

Além dos resultados na comunidade de inovação, as premiações reforçam a importância de trazer comunidades diversas para dentro dos ambientes de inovação e tecnologia, que apesar de ser extremamente inovador e disruptivo em muitos aspectos, ainda engatinha na inclusão de verdade de pessoas diversas

Ao receber essas premiações, me sinto energizada a abrir mais portas, criar mais oportunidades e trazer cada vez mais pessoas que ainda não se sentem representadas. Meu trabalho pela diversidade consiste, muitas vezes, em ações silenciosas e desafiadoras demais, mas conquistar espaços é algo recompensador.

Já para o ecossistema de tecnologia catarinense, acredito que essas conquistas são um lembrete da urgência de incluirmos mais perspectivas diversas, é onde a inovação acontece de verdade, com uma chuva de ideias de diferentes culturas. Se queremos um ecossistema  mais forte, precisamos começar a acolher, treinar e valorizar as diferenças.

"As premiações reforçam a importância de trazer comunidades diversas para dentro dos ambientes de inovação e tecnologia"
“As premiações reforçam a importância de trazer comunidades diversas para dentro dos ambientes de inovação e tecnologia”, resume Thiara. / Foto: Divulgação ABStartups

SC Inova: Como começou sua jornada no ecossistema e como você cria suas conexões e vence barreiras em prol de seu propósito?

Uma transição de carreira aliada a necessidade de mudar de vida me colocaram dentro da ACATE em 2018, de lá para cá, meu maior objetivo foi estender a mão para muitas pessoas empreendedoras, hubs de inovação e centros de tecnologia, fomentando as oportunidades que muitas vezes não chegam de forma prática e criando eventos com propósito, isso se tornou um movimento tão intenso que hoje eu me sinto em casa em qualquer hub, polo de tecnologia ou centro de inovação em toda Santa Catarina. Para ter dado muito certo, do jeito que deu, o objetivo sempre foi impulsionar pessoas, sem interesses econômicos, muitas vezes, eu mesma investia, para ver resultados futuros. 

Entre minhas maiores conquistas, sem dúvidas, foi formalizar minha produtora de eventos, a Vanthi Eventos, com meu sócio Vanderson Neri, com apoio integral de mentoria, de consultoria e de investimento do Thiago Schutz, da Silva Schutz Advogados. 

Mas tiveram conquistas de espaços importantes como ter me tornado embaixadora da Ventiur Aceleradora, líder de Comunidade INOVATIVA 2023, ter sido gestora do Projeto 1K+ do Startup Summit 2023, por dois anos consecutivos fui articuladora do Road Show do INOVA STARTUPS, o programa de investimento do SEBRAE STARTUPS, nos anos de 2023 e 2024, me tornei Diretora de Operação do Comitê Latino Americano de Eventos de Inovação e conquistei o cargo de CEO do CWB STARTUPS 2025.

SC Inova: Que ecossistema de inovação você gostaria de ver no futuro próximo?

Thiara Galdino: Um ecossistema que não use mais a pauta de diversidade e inclusão como cota, mas como necessidade obrigatória de evolução. E eu sei que o caminho é longo, mas minha melhor visão, é ter ambientes em que cada pessoa, independentemente de sua origem, raça, identidade de gênero, orientação sexual ou condição socioeconômica, tenha acesso às mesmas oportunidades para criar, contribuir e prosperar, mas essa frase clichê, só vai fazer sentido, se nossos olhares neste momento, se tornarem treinados, para que um dia possamos nos sentir tão diferentes nos nossos ecossistemas, que o normal se torne: ter tanta diversidade que tenha representatividade do máximo de pessoas diferentes.

Eu vislumbro ecossistemas que reconheçam a diversidade de pessoas como um acelerador da inovação e que o foco seja o impacto social, ambiental e cultural.

Um ecossistema onde empresas, startups e iniciativas governamentais tenham uma maturidade das necessidades globais, mas com olhares nas suas raízes locais, fortalecendo cada vez mais a riqueza cultural das comunidades com foco em soluções que mudem a nossa realidade mundial para melhor.

Vejo diversos hubs de inovação hiper conectados, funcionando como pontes entre regiões, países e continentes, criando uma verdadeira democracia de recursos, conhecimentos, troca de experiências e colaborações, uma verdadeira rede de apoio consistente.

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