O que diz Caiado e Mabel sobre a cassação da chapa

Por Bruno Goulart e João Reynol

Durante a coletiva de imprensa para anunciar o próximo secretário municipal de saúde, jornalistas e os futuros gestores foram pegos de surpresa e alguns ficaram em choque com a decisão do TRE (Tribunal de Justiça Regional Eleitoral) para cassar a chapa eleita de Sandro Mabel (União Brasil) e Cláudia Lira (Avante). Além disso, a juíza Maria Umbelina determinou a inelegibilidade por oito anos para o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) por abuso de poder político. 

De acordo com o documento obtido pelo Jornal O HOJE, a Justiça alega que Caiado teria abusado do poder político ao sediar eventos da campanha no Palácio das Esmeraldas e atrelar o candidato escolhido em eventos do governo estadual. Com isso, o TRE também afirma que a chapa eleita teria sido diretamente beneficiada e por isso embasam para a cassação do prefeito eleito e a sua vice.

Outro ponto que a justiça alega são jantares em portas fechadas entre a chapa eleita, o governador, líderes políticos e representantes do Estado no Palácio das Esmeraldas. “O bem imóvel utilizado pelo investigado Ronaldo Caiado para a realização dos eventos constitui bem público de uso especial nos termos do artigo 99, inciso II, do Código Civil Brasileiro. As imagens dos vídeos que instruem a inicial demonstram que o ambiente estava preparado para a oferta de alimentos e bebidas aos convidados e, contava inclusive com decoração”, informa o trecho do texto.

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A situação gerou tanto incômodo, que o governador reuniu a imprensa na tarde desta quarta-feira (11), no Palácio das Esmeraldas, para comentar a decisão que o declarou inelegível por abuso de poder político nas eleições de 2024.

Na ocasião, Caiado explicou que os jantares realizados na sede do governo goiano nos dias 7 e 9 de outubro tiveram como principal motivação o “colapso” na saúde pública de Goiânia. O governador confirmou que convidou vereadores eleitos e suplentes para comparecer ao Palácio das Esmeraldas, mas destacou que o objetivo do encontro era tratar de um “assunto extremamente delicado” naquele momento. Ele mencionou as crises enfrentadas pela capital, como problemas no sistema de saúde, acúmulo de lixo, aumento dos casos de dengue, atrasos nos pagamentos aos hospitais e a falta de merenda nas escolas.

“A reunião existiu, mas não foi para fazer campanha eleitoral. Foi uma reunião fechada, motivada pela preocupação com o caos em Goiânia. Não há nenhuma ilegalidade em discutir problemas tão graves”, declarou o governador dizendo que considera a decisão da justiça “exagerada”, mas que a respeita.

“Outros também fizeram”

Caiado também comparou sua conduta à de outros políticos, mencionando eventos semelhantes realizados por ex-governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) e Zé Eliton (PSB), além de ex-presidentes como Dilma Rousseff (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Todos fizeram reuniões em residências oficiais. O Lula fez gravações no Palácio da Alvorada e pediu votos para o Boulos (PSOL). Isso não pode ser visto como exclusividade minha”, argumentou.

Serei candidato

Durante a coletiva, o governador aproveitou para confirmar que pretende lançar oficialmente sua pré-candidatura à Presidência da República no início de 2025. “Depois do Carnaval, entre março e maio, estarei lançando minha candidatura pela União Brasil. Tenho participado de diversos eventos nacionais”, anunciou.

Novas eleições em Goiânia

Aproveitando o momento de fragilidade do governador, o deputado federal Gustavo Gayer (PL), opositor de Caiado, o criticou em um vídeo nas redes sociais. Gayer, que apoiou Fred Rodrigues (PL) na eleição para a prefeitura de Goiânia contra Mabel, afirmou que novas eleições municipais devem acontecer entre março e abril, em Goiânia.

“Agora [Caiado] está inelegível. As evidências são demais e o TRE vai provar isso. E, provavelmente, entre março e abril teremos novas eleições em Goiânia”, afirmou. O parlamentar  ainda disse que, com o novo pleito, Fred Rodrigues será o próximo prefeito da capital.

Gayer ainda deferiu críticas e alegações criminosas ante ao chefe do executivo estadual que o chama de ‘mini-ditador de Goiás. “Tudo mostra que Ronaldo Caiado usou a máquina pública para eleger o seu candidato.”

Além disso, o deputado ainda questionou a sua posição política como alinhado à direita por apoiar a decisão de Flávio Dino ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ser ‘amigo’, como assim fala, do ministro Alexandre de Moraes. Enquanto isso, o deputado estadual e candidato escolhido de Jair Bolsonaro, Fred Rodrigues (PL), também compactou com as afirmações de Gayer e ainda afirmou que Caiado e Mabel desrespeitam o cidadão goianiense durante a eleição. “Trataram o governo como propriedade particular para ganhar a qualquer custo.”

“Fico firme no meu mandato”, afirma Mabel

Após a notícia que abalou a política goiana, nesta terça-feira (10), o prefeito eleito Sandro Mabel pediu uma reunião de emergência com advogados logo antes de falar com a imprensa. De início, Mabel afirmou, no fim da coletiva, que a decisão é ‘desproporcional’, mas que isso ficará para os advogados resolverem. Contudo, ressaltou que a sua posição não será impactada e que ‘fica firme’ diante do mandato. “Decisão de Justiça é da Justiça, mas do nosso entendimento é desproporcional uma vez que esse evento tem a ver com a campanha propriamente dita”.

Mabel ainda relatou que segue com as reuniões normalmente para que dialogue com os representantes a fim de solucionar a crise da saúde e fazer as mudanças que havia proposto. “Eu sei o que eu quero e eu vou fazer, fui eleito para fazer isso”, afirma.

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