Como diferentes flores viraram símbolos na comunidade LGBTQIA+

As flores têm uma linguagem própria e vasta, comunicando sentimentos que vão do amor ao desdém.

Ao longo da história, as comunidades LGBTQ também usaram a linguagem sutil das flores para transmitir solidariedade ou identidade pessoal, tudo por meio de algo tão simples quanto uma flor presa à lapela.

Muitas dessas flores têm conexões profundas com ícones queer ou ecoam em outros símbolos queer.

Embora as flores sempre tenham carregado algum simbolismo em diferentes épocas e culturas, a linguagem das flores se tornou um passatempo popular durante a era vitoriana, quando a comunicação social era fortemente codificada – especialmente quando se tratava de romance.

Faz sentido, então, que as comunidades queer encontrem beleza e pertencimento ao continuar essa tradição interessante.

Lavanda

Os tons roxos têm sido associados às comunidades LGBTQ desde a época de Safo (mais sobre ela depois), mas a lavanda entrou totalmente no léxico gay no final do século 19.

Por que essa tonalidade específica? Alguns supõem que é porque é uma mistura de rosa e azul. Outros historiadores apontam que a cor está ligada à efeminação.

A lavanda era uma cor da moda na Europa à época e acabou se tornando sinônimo de uma apreciação pela arte e pela beleza, gosto que era visto como pouco masculino em certos círculos.

A cor lavanda viu outro impulso na visibilidade queer quando foi vestida por participantes de uma marcha do “poder gay” na cidade de Nova York em 1969, um mês após os protestos de Stonewall.

Nesse mesmo ano, Betty Friedan, líder da Organização Nacional para Mulheres, criticou a filiação lésbica, que ela pensou que seria uma ameaça ao feminismo.

Ela chamou essa ameaça imaginária de “ameaça lavanda” – um termo pitoresco (em mais de uma maneira) que ativistas lésbicas adotaram imediatamente como seu.

O termo “lavanda” costumava ser uma forma discreta de descrever algo gay.

Os “casamentos lavanda”, por exemplo, termo usado em inglês para se referir ao casamento entre um homem e uma mulher em que pelo menos um deles é homossexual, foram notados entre as celebridades em meados do século 20.

Nessas uniões, o casamento era um estratagema intencional para afastar questões públicas sobre sexualidade.

Violeta

As violetas estão intimamente ligadas com a tradição de Safo, a famosa poetisa da antiguidade grega.

Dela, recebemos as palavras “sáfica” e “lésbica”, em referência à sua casa na Ilha de Lesbos. Em um de seus poemas, carregados de referências eróticas às mulheres, ela escreve:

“Você colocou muitas coroas de violetas e rosas (…) juntas ao meu lado, e em volta do seu pescoço delicado você colocou muitas guirlandas feitas de flores.”

Seu exuberante simbolismo acerca das violetas e outras flores da mesma cor persistiu ao longo dos anos, com representações de Safo muitas vezes mostrando a poetisa adornada com flores roxas.

Como a lavanda, as violetas emergiram novamente como um símbolo queer na virada do século 20, graças a grupos de mulheres em Paris que supervisionaram o ressurgimento do interesse pelo trabalho de Safo.

Entre essas “lesbos de Paris”, estava uma poetisa britânica chamada Renée Vivien, que se baseou fortemente no simbolismo das violetas em seu trabalho e em sua estética pessoal, tanto como uma homenagem a Safo quanto a uma de seus amantes.

Em 1926, uma peça do dramaturgo francês Edouard Bourdet tornou a ligação ainda mais pública.

A história de “A prisioneira” apresenta uma mulher, noiva de um homem, que está secretamente em um relacionamento com outra mulher.

Na peça, seu amante lhe dá vários presentes de violetas. A conexão tornou a flor fora de moda em alguns círculos, mas homens e mulheres gays e seus apoiadores assistiram à peça e prenderam violetas em suas roupas em uma demonstração de apoio.

Amor-perfeito

“Pansy”, nome das flores amor-perfeito em inglês, é amplamente usado no idioma como um termo pejorativo para o homem gay, querendo dizer fraqueza e efeminação. (Na realidade, as flores de amor-perfeito são bastante resistentes!)

Na década de 1930, o movimento “Pansy Craze”, nos Estados Unidos, descrevia um estilo de vida crescente de boemia queer, caracterizado por festas com artistas drag e um ar de extravagância.

Este movimento é considerado o início da cultura da vida noturna gay.

O termo também é uma boa ilustração de como comunidades marginalizadas às vezes retomam palavras usadas contra elas.

O “Pansy Project”, um movimento iniciado pelo ativista LGBTQ Paul Harfleet, planta amores-perfeitos em locais de abuso homofóbico e transfóbico.

Rosa

A rosa é o símbolo floral definitivo do amor, e isso inclui, também, o amor queer. A rosa era a flor de Eros, o deus greco-romano da paixão e do amor erótico.

Na história japonesa, a rosa foi associada a homens gays. A palavra japonesa para rosa é pronunciada “bara” e experimentou um ressurgimento na mídia queer nas décadas de 1960 e 1970.

A primeira revista gay produzida comercialmente no Japão, impressa pela primeira vez em 1971, foi chamada de “Barazoku”. ou “tribo rosa”.

Rosas, especialmente em várias cores ou “tingidas” com tons de arco-íris, são uma flor popular usada nas paradas do Orgulho Gay.

Cravo verde

O cravo verde parece uma flor estranha para se escolher como símbolo, mas o homem que a popularizou era considerado bastante estranho também.

O escritor irlandês Oscar Wilde, conhecido por seus interesses românticos por homens, usou cravos verdes para criar um rebuliço na abertura de sua peça de 1892, “O leque de lady Windermere”.

Wilde pediu aos atores e alguns de seus fãs que usassem as flores, mas não explicou o motivo.

A história sugere que ele levou essa tendência de Paris, onde havia rumores de que os cravos verdes eram um sinal de afiliação entre os gays.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Como diferentes flores viraram símbolos na comunidade LGBTQIA+ no site CNN Brasil.

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