Veja como funcionou a operação que prendeu Braga Netto

O general Walter Braga Netto foi preso na manhã deste sábado (14) pela Polícia Federal (PF) sob a suspeita de interferir nas investigações sobre a trama golpista no ano de 2022. Braga Netto foi ministro da Defesa e da Casa Civil, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele também foi vice na chapa do ex-presidente na eleição de 2022.Investigações conduzidas pela Polícia Federal mostraram que o general da reserva participou de um núcleo de pessoas responsáveis por incitar militares e promoverem a um golpe de Estado. A corporação também alegou que Braga Netto teria tentado interferir nas investigações quando tentou obter dados sigilosos do acordo de colaboração de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.Ainda segundo as investigações, Braga Netto entregou recursos para a organização e execução do plano de matar em 2022 o presidente eleito, Lula (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o próprio Moraes.Veja como funcionou a operação que prendeu Braga Netto:1) Interferência nas investigaçõesSegundo a PF, Braga Netto teria atuado, “de forma reiterada e destacada”, para impedir as investigações. O general da reserva estava tentando obter acesso a informações sigilosas da delação de Mauro Cid.As suspeitas relacionadas à tentativa de interferir nas investigações vêm sendo acumuladas desde setembro de 2023, quando o tenente-coronel Mauro Cid teve homologado seu acordo de colaboração premiada no STF.O próprio Cid relatou, em depoimento, que Braga Netto procurou diretamente seu pai, o general Mauro Lourena Cid, para pedir detalhes do que ele havia falado na colaboração premiada.”Isso aconteceu logo depois da minha soltura [em setembro de 2023], quanto eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado”, disse Cid em depoimento à PF.”Fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado.”As provas de tais ações, segundo a polícia, teriam sido encontradas no celular do pai de Mauro Cid.2) Novo depoimento de CidA decisão de prisão é fundamentada em novos documentos encontrados pela PF e em revelações feitas por Mauro Cid em depoimento prestado no dia 21 de novembro.Em uma versão anterior apresentada à PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro havia dito que o encontro de militares das Forças Especiais com Braga Netto em novembro de 2022 ocorreu porque os militares queriam tirar fotos e cumprimentar o general.Já o termo de audiência do depoimento de Cid ao Supremo, realizado em novembro, diz que o tenente-coronel levou os militares ao apartamento de Braga Netto para falar sobre a “indignação com a situação do país e a necessidade de ações concretas”.As investigações da PF, portanto, apontam que o plano de golpe envolvendo a morte de Lula teria sido discutido na casa do general em Brasília.3) Pagamento em sacola de vinho e “pessoal do agronegócio”Segundo a nova versão dada na delação de Mauro Cid, o então major Rafael de Oliveira se encontrou com Braga Netto dias depois de reunião com militares na casa do general da reserva.Na ocasião, Braga Netto teria entregado a Oliveira dinheiro em espécie, guardado em uma “sacola de vinho”, para a “realização da operação”. Os valores, de acordo com a delação de Cid, teriam sido obtidos com o “pessoal do agronegócio”.O trecho do termo de depoimento de Cid no STF não deixa claro se o dinheiro havia sido repassado com o objetivo de financiar o plano de assassinar autoridades. Em trechos anteriores da delação, Mauro Cid disse que o tenente-coronel Rafael de Oliveira pediu R$ 100 mil para levar bolsonaristas de outras regiões do país ao acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.Quer mais notícias de política? Acesse o canal do DOL no WhatsAppAs conclusões da Polícia Federal e de Alexandre de Moraes, porém, são de que os valores foram utilizados para viabilizar o plano de executar autoridades.Moraes ressalta na decisão que há “fortes indícios e substanciais provas” de que Braga Netto “contribuiu, em grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente” para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado cuja consumação incluía o plano de detenção e possível execução do próprio Moraes, além de Lula e Alckmin.4) Documento com assessorA Polícia Federal ainda apreendeu na sede do PL (Partido Liberal) em fevereiro, em mesa usada pelo coronel Peregrino, um documento com perguntas e respostas sobre a delação. Segundo os investigadores, esses elementos indicam uma tentativa de Braga Netto e Peregrino conseguirem detalhes sigilosos sobre o acordo de colaboração de Mauro Cid.”O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho”, apontou a PF em seu relatório final.Também sobre a mesa de Peregrino foi encontrada, segundo o relatório, uma folha preenchida à mão com o título “operação 142”, um fluxograma do que seria um golpe de Estado e a frase “Lula não sobe a rampa”.O coronel da reserva, diferente de Braga Netto, não foi indiciado no relatório final da PF sobre a tentativa de golpe de estado.5) “Não houve qualquer obstrução”A defesa do general da reserva Walter Braga Netto negou, em nota divulgada na tarde deste sábado (14), que ele tenha obstruído as investigações sobre a trama golpista de 2022.Os advogados do general dizem que irão se manifestar nos autos após ter “plena ciência dos fatos que ensejaram a decisão”.”Com a crença na observância do devido processo legal, teremos a oportunidade de comprovar que não houve qualquer obstrução as investigações”, diz a o texto da defesa, liderada por Luís Henrique Cesar Prata.
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