Operação da PF preocupa gabinetes em Brasília

A Operação Overclean, conduzida pela Polícia Federal (PF), ganhou destaque nacional ao revelar um esquema de desvio milionário de recursos públicos por meio de contratos fraudulentos e emendas parlamentares. A operação, que se desenrola em várias frentes, expôs uma complexa rede de corrupção envolvendo políticos, servidores públicos e empresários em diferentes estados brasileiros.

Em Salvador, a PF identificou fraudes em contratos de empresas que atuavam na coleta de resíduos sólidos. O esquema consistia no superfaturamento e na manipulação de licitações, com parte dos recursos desviados sendo usada para pagamento de propinas. Na última segunda-feira, 16, alguns investigados começaram a ser ouvidos pelas autoridades, enquanto outros permanecem em prisão preventiva.

Um dos desdobramentos da operação envolve a investigação de pessoas próximas ao senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), favorito a presidir o Senado Federal a partir de 2025. A PF pretende ouvir a chefe de gabinete do parlamentar, Ana Paula Magalhães, sobre uma possível participação no desvio de verbas de emendas destinadas a municípios da região Norte. A investigação tem como foco contratos de pavimentação urbana e aquisição de equipamentos que foram superfaturados ou nunca executados. Entretanto, a servidora e o senador não são investigados.

O caso mais emblemático ocorreu com o vereador Francisco Nascimento (União Brasil-BA) que, durante uma ação policial, tentou descartar R$ 250 mil em espécie jogando o dinheiro pela janela de sua residência. Ele foi preso em flagrante e está sendo investigado como um dos beneficiários de um esquema que utilizava emendas parlamentares individuais para superfaturar contratos de fornecimento de máquinas agrícolas em prefeituras do Nordeste.

As várias ramificações da Operação Overclean têm como ponto comum o uso de emendas parlamentares individuais, um mecanismo que teria sido utilizado para fins ilícitos, já que, anteriormente às regras impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os recursos eram pouquíssimos rastreáveis. 

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Delações premiadas

José Marcos Moura, empresário do setor de serviços de coleta de lixo e limpeza urbana, está preso desde o dia 10 de dezembro em Salvador. O empresário possui contratos vigentes com diversas prefeituras e está sendo investigado por, possivelmente, ter atuado com servidores mediante o pagamento de propina. Moura recebeu uma proposta de acordo para colaborar com as investigações da PF, de acordo com Igor Gadelha, do portal Metrópoles. 

Francisco Nascimento, vereador eleito por Campo Formoso, também recebeu proposta para colaborar com as investigações. Francisquinho, como é conhecido, é primo do deputado federal Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara dos Deputados. Em Brasília, a possibilidade dos mais de 15 presos cederem à pressão da PF e aceitarem o acordo de delação premiada, tem atormentado o sono de membros dos gabinetes da capital federal.

Goiás

As investigações já chegaram em Goiás. Fábio Netto, procurador da empresa Villetech, é investigado por, supostamente, integrar a organização criminosa na cidade de Goiás e em Senador Canedo.

Vale ressaltar que Davinópolis, município do interior do Estado, foi a cidade mais beneficiada proporcionalmente por emendas parlamentares no Brasil em 2024. Foram aproximadamente R$ 2.745,40 por habitante, para o município que tem 1.901 moradores, segundo o IBGE. 

Com isso, o pequeno município goiano recebeu cerca de R$ 5,2 milhões. A maior parte desse valor foi paga pelo deputado federal Glaustin da Fokus (Podemos), que destinou por volta de R$ 4,5 milhões – 86,5% do total recebido pelo município.

Em 2022, Glaustin foi o candidato a deputado federal mais bem votado no município, com 582 votos. Naquele ano, inclusive, o prefeito de Davinópolis, se filiou ao Partido Social Cristão (PSC) – legenda que se fundiu ao Podemos – a convite do parlamentar. (Especial para O Hoje)

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