Problemas de visão comprometem o aprendizado e o desenvolvimento infantil

Com a chegada da metade do mês de janeiro e o início do ano letivo à vista, pais e responsáveis já se preparam para organizar a compra dos materiais escolares, uniformes e outras demandas. Mas, uma etapa que nem sempre ganha atenção suficiente, mas que é fundamental, é a saúde dos olhos das crianças e adolescentes que deve ser uma prioridade nos preparativos para a volta às aulas. 

Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), aproximadamente 23 milhões de crianças em idade escolar no Brasil enfrentam dificuldades visuais relacionadas a problemas de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. Se não forem tratados, esses problemas podem afetar não apenas o desempenho acadêmico, mas também a interação social e a autoestima dos pequenos.

Isso se deve ao fato de que o sentido da visão tem um impacto direto na forma como o cérebro capta e interpreta as informações visuais. Levando em conta que aproximadamente 80% das informações obtidas no ambiente escolar são visuais, atividades como a leitura podem se tornar bastante desconfortáveis ou até mesmo difíceis para aqueles que não possuem uma boa saúde ocular. É na vida escolar que as habilidades visuais são mais exigidas.

Dificuldade em ler e copiar o que o professor escreveu no quadro, queda no rendimento escolar e queixa de dores de cabeça ao final da aula são alertas importantes que precisam de mais atenção.

O Dr. Icaro Calafiori, oftalmologista, explica que muitos sinais não são possíveis de diagnosticar só com uma avaliação, ele ressalta que os pais devem ficar atentos e ao notarem, procurarem ajuda médica o mais rápido possível. 

Existem algumas alterações que ela enxerga de um olho e não enxerga do outro, que a gente chama de vista preguiçosa […] a ambliopia. O que pode causar isso? Desde o olho torto, que é o estrabismo, até mesmo um grau. Por exemplo, a criança não tem nada de grau no olho e tem um grau muito alto no outro. Esse olho com grau muito alto, a vista acaba não se desenvolvendo e pode levar a problema de não desenvolver a visão e a pessoa ficar com aquela visão ruim”.

Icaro explica que o diagnóstico de doenças oftalmológicas em crianças é muito complicado, já que elas não sabem identificar os sintomas e, por isso, não costumam reclamar. Desta forma, é fundamental uma avaliação logo após o nascimento, como o teste do olhinho.

Que é possível detectar se a criança não possui nenhuma alteração, que é chamada de congênita, ou seja, uma catarata que já nasceu com ela, ou alguma alteração na córnea e na retina. Em casos mais graves, até tumores, é possível ter no diagnóstico.

“Mas é principalmente também para avaliar em crianças que são prematuras, porque existe a retinopatia de prematuridade, que é quando a retina não terminou o desenvolvimento dela, então a gente precisa estar acompanhando até o término desse desenvolvimento”, diz.

O especialista destaca a importância do acompanhamento precoce, garantindo o aprendizado e a qualidade de vida das crianças. “Essa avaliação quando nasce, avaliação até os seis meses, é quando a gente consegue pegar um diagnóstico precoce em relação a estrabismo, questão do olhinho torto, e depois, a partir do momento que ela entrar na escola, de ano em ano é importante essa avaliação, para poder diagnosticar o mais rápido possível alterações de grau e tratar”, continua.

O especialista também aconselha uma avaliação médica durante a fase dos 3, 4 anos. “Uma das coisas que, infelizmente, a gente acaba percebendo também, é que se tem muitos déficit de atenção ou dificuldade de aprendizado, às vezes não é por alterações neurológicas, psicológicas ali, são porque às vezes a pessoa não está enxergando, é por isso que é importante essa consulta de rotina com o oftalmologista”, explica.

Pesquisas mostram que as dificuldades visuais estão ligadas à evasão e à repetência escolar. Iniciativas como o Projeto Olhar Brasil, promovido pelos Ministérios da Saúde e da Educação, visam identificar e corrigir problemas de refração em alunos da rede pública. Esse programa oferece triagens visuais, consultas oftalmológicas e óculos corretivos para crianças em instituições que participam do Programa Saúde na Escola (PSE). Em São Paulo e Belo Horizonte, programas locais semelhantes ampliam o acesso a esses serviços, potencializando o impacto na educação e na qualidade de vida.

Os principais problemas oculares na infância e juventude

Conforme o artigo intitulado “Diretrizes Brasileiras sobre avaliação oftalmológica de crianças saudáveis menores de 5 anos: exames recomendados e frequência”, publicado em 2021 no jornal Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, até 69% das dificuldades visuais na infância são causadas por alterações refracionais. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca a miopia como uma das maiores preocupações, classificando-a como um dos problemas de saúde pública que mais cresce em escala global. Segundo dados da OMS, cerca de 1% das crianças têm miopia até os cinco anos. Essa porcentagem aumenta para 8% ao atingir a faixa etária de 10 anos e chega a 15% aos 15 anos.

Calafiori destaca que a principal causa da miopia é o excesso de telas, ou seja, o excesso de visão de perto por horas ininterruptas. Quanto mais a criança utilizar a visão para perto, mais aumenta a chance de evoluir uma miopia.

“O conselho é de tempo em tempo ir tomar água para intercalar essa visão de perto com a visão de longe. E o astigmatismo, a principal causa é o coçar o olho. Então, deve-se evitar coçar esse olho para não piorar. Tanto a miopia quanto o astigmatismo, tem dificuldade para poder enxergar, tanto de longe, no caso de miopia, quanto o astigmatismo, que muda a forma, ou seja, dificuldade tanto para longe quanto para perto, isso pode atrapalhar na criança ”, afirma.

No Brasil, o CBO estima que 30% do público infantil em idade escolar têm problemas refrativos – ratificando os dados internacionais, a miopia é um dos mais comuns – porém, apesar disso, 80% nunca fizeram uma avaliação visual. 

Uma simples correção de erros de refração pode resolver muitos problemas de maneira rápida e fácil, já que eles podem ser amenizados com o uso de óculos e lentes especiais que são formatadas conforme o grau de distorção da visão do paciente, de modo a ‘corrigir’ estes desvios. “A maneira mais correta de amenizar esses erros de refração é o uso do óculos”, continua. 

Sinais de alerta para a saúde ocular infantil: 

Dores de cabeça frequentes: Podem ser indicativos de esforço visual excessivo ou dificuldade em focar objetos.

Aproximar-se de telas ou livros: Crianças que precisam chegar muito perto para enxergar podem estar com problemas de refração, como miopia.

Esfregar os olhos constantemente: Esse hábito pode indicar desconforto ocular ou alergias que afetam a visão.

Evitar leituras ou tarefas visuais: A dificuldade em concluir essas atividades pode ser sinal de baixa visão.

Fonte: CBO

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