Cessar-fogo entra em vigor em Gaza após 15 meses de guerra

O cessar-fogo acordado entre Israel e o grupo terrorista Hamas começou a vigorar na manhã deste domingo (19). A trégua estava prevista para começar às 8h30 no horário local (3h30 em Brasília), mas atrasou, pois, segundo alegou o governo de Israel, houve demora na divulgação dos nomes das reféns a serem liberadas pelo Hamas, retardando o início da ação para 11h15 (6h15 de Brasília).Romi Gonen, 24, Doron Steinbrecher e Emily Damar, de idades ainda não confirmadas, são as primeiras reféns liberadas pelo acordo de cessar-fogo. Em troca de cada uma, 30 palestinos mantidos em prisões israelenses devem ser libertados. Segundo a agência de notícias Reuters a liberação deve ocorrer às 11h do horário de Brasília.Pelos termos do acordo, o Hamas informará ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) um ponto de encontro dentro de Gaza e a organização irá até o local para encontrar os reféns, informou a Reuters.VEJA TAMBÉMTerritório de Israel é atacado por grupo Houthis, do IêmenMetade dos americanos apoia deportação de imigrantes ilegaisCaminhão-tanque explode e mata mais de 60 na NigériaMomentos depois do início da vigência do acordo, Gideon Saar, ministro das Relações Exteriores de Israel, afirmou que Israel está comprometido em atingir seus objetivos na guerra de Gaza, incluindo o retorno de reféns e o desmantelamento do governo e das capacidades militares do Hamas.No domingo, cerca de 200 caminhões de ajuda humanitária, incluindo 20 transportando combustível, começaram a chegar no domingo à passagem de Kerem Shalom, controlada por Israel. Segundo a ONU, já há veículos que ingressaram em Gaza.O entendimento, mediado por Egito, Qatar e Estados Unidos, suspende uma guerra iniciada após um mega-ataque do grupo terrorista contra Israel de outubro de 2023 matar cerca de 1.200 pessoas —outras 250 foram sequestradas e levadas para Gaza.A ofensiva militar de Israel, por sua vez, resultou na morte de quase 47 mil pessoas em Gaza segundo autoridades ligadas ao Hamas, além de ter forçado o deslocamento da maioria da população do território palestino.Milhares de palestinos deslocados pelo conflito, carregando tendas, roupas e pertences pessoais em caminhões, carroças e a pé começaram a retornar para casa no domingo, principalmente na parte norte do território.As horas antes do início do cessar-fogo foram marcadas por tensão. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que o acordo só passaria a valer com a divulgação dos nomes das reféns liberadas, enquanto o Hamas admitiu atraso na liberação da lista por “razões técnicas”.Segundo a Al Jazeera, os motivos para o atraso podem estar relacionados à forma como os integrantes do Hamas se comunicam, isto é, evitando meios de comunicação que possam estar sujeitos à vigilância israelense, atrasando decisões relacionadas aos nomes que integrarão a lista.No início da manhã, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, disse que os militares israelenses continuariam os ataques na Faixa de Gaza até que o Hamas entregasse a lista.No período de atraso do início do cessar-fogo, Israel realizou incursões militares nas regiões central e norte de Gaza, matando ao menos 19 palestinos e deixando 36 feridos em um ataque de drones, segundo a Reuters.Segundo o relato de médicos, tanques dispararam contra a área de Zeitoun e um ataque aéreo e disparos de tanques também atingiram a cidade de Beit Hanoun, no norte, fazendo com que moradores que haviam retornado devido ao cessar-fogo fugissem.Forças israelenses começaram a se retirar de áreas em Rafah para o corredor de Filadélfia, zona-tampão ao longo da fronteira entre o Egito e Gaza, de acordo com publicações de mídia pró-Hamas no início do domingo.Se mantido, o cessar-fogo pode reduzir as tensões no Oriente Médio, uma vez que a guerra em Gaza se espalhou e passou a envolver outros atores na região, como o libanês Hezbollah e os rebeldes houthis do Iêmen —além do fiador de ambos os grupos, o Irã.Também pavimenta o caminho para um aumento na ajuda humanitária para a população de Gaza. Agentes da OMS (Organização Mundial da Saúde) disseram que, pelos termos do acordo, o número de caminhões com suprimentos que entram em Gaza diariamente deve subir de uma média de 40 a 50 para de 500 a 600.Durante a primeira fase do acordo, com previsão de durar seis semanas, o Hamas concordou em libertar 33 reféns israelenses, incluindo todas as mulheres, crianças e homens acima de 50 anos. Israel diz que ainda há 98 reféns sendo mantidos em Gaza. Desse total, 94 foram sequestrados no 7 de Outubro e 4 estão na faixa desde 2014.Em contrapartida, o governo de Israel pode libertar até 1.904 palestinos detidos em suas prisões, sendo que 737 deles foram acusados ou condenados por ameaças à segurança nacional israelense. O número total em qualquer uma das fases vai depender do ritmo de devolução dos reféns —nesta primeira etapa, cada sequestrado será trocado por, em média, 19 prisioneiros.A cúpula do poder israelense superou divergências e aprovou o acordo com o Hamas na sexta-feira (17). Horas antes, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, acusou o grupo de tentar incluir alguns pontos de última hora no entendimento. O grupo terrorista negou, mas o imbróglio adiou a reunião dele com seu gabinete de segurança, etapa que precederia a votação dos ministros. Foi a primeira crise em torno da trégua, anunciada na quarta (15).Mesmo após sua aprovação pelo gabinete israelense, o futuro do acordo é incerto.Neste sábado (18), Netanyahu disse que seu país tinha o direito de reiniciar os combates caso a segunda etapa do pacto não fosse cumprida. “Se precisarmos voltar a lutar, faremos isso de forma renovada e contundente”, declarou. “O presidente [eleito dos EUA] Trump e o presidente Biden deram apoio total ao direito de Israel de retornar ao combate se concluir que as negociações da fase B são inúteis.”A base da ultradireita religiosa em Israel é contra o acordo, que considera um risco à segurança nacional. Ao menos 30 dos palestinos que devem ser soltos cumprem prisão perpétua por matar judeus. Entre eles estão Zakaria Zubeidi, ex-comandante das Brigadas Al-Aqsa, braço armado do partido Fatah, que controla a Autoridade Palestina; os membros do Jihad Islâmico Iyad Jradat e Ahmed Dahiri; e Mahmud Abu Varda, que cumpre 48 sentenças vitalícias por planejar ataques terroristas.Quer ler mais notícias do Mundo? Acesse o nosso canal no WhatsAppAssim, a notícia do cessar-fogo em Gaza provocou forte reação na ultradireita que apoia Netanyahu. O maior expoente do grupo, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, afirmou que os membros de seu partido que integram o governo renunciariam neste domingo, e pediu que seu colega na pasta das Finanças, Bezalel Smotrich, faça o mesmo. Neste domingo, seu partido informou que ele e outros dois ministros do renunciaram ao gabinete.Os enfrentamentos em Gaza não cessaram desde o anúncio inicial do acordo, na quarta-feira (15), e autoridades de saúde locais, ligadas ao Hamas, afirmaram que só nesses dias que antecederam a efetivação do acordo, mais de 120 palestinos morreram.Neste sábado, bombardeios tinham atingido regiões no centro e no sul da faixa, e tanques do Estado judeu, disparado contra a Cidade de Gaza, antiga capital hoje reduzida a ruínas, no norte.
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