Falta de segurança em unidades de saúde gera medo entre médicos e pacientes

É lamentável quando chegamos a uma unidade de saúde e não encontramos segurança. O medo é constante entre médicos e pacientes, que vivem com receio do que pode acontecer na unidade. Recentemente, tivemos dois casos chocantes que evidenciam a falta de segurança nas unidades básicas de saúde.

Em Morrinhos, um paciente internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Municipal de Morrinhos, no sul de Goiás, foi morto por um policial militar após fazer uma enfermeira refém e ameaçá-la durante um surto psicótico, segundo a Polícia Militar (PM). Um vídeo mostra o momento em que, ameaçada com um pedaço de vidro, a profissional de saúde consegue afastar o braço do paciente, que foi baleado logo depois, e escapar.

O caso aconteceu no sábado (18). a Polícia Militar afirmou que protocolos de gerenciamento de crises foram aplicados para tentar liberar a enfermeira, mas que, mesmo diante das tentativas, foi necessário realizar um disparo contra o paciente para resguardar a vida da refém.

Outro caso ocorreu em dezembro de 2024, quando dois funcionários da Maternidade Célia Câmara, em Goiânia, foram presos pela PMGO na noite de sexta-feira, dia 06/12. A corporação informou que as detenções ocorreram por desobediência. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde-GO), a confusão, que foi filmada, começou após o marido de uma gestante, classificada como de ‘menor gravidade’, exigir atendimento prioritário.

A presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Roberta Rios, comenta  a falta de segurança nas unidades de saúde de Goiânia e alertou para o aumento de episódios de violência contra profissionais da área. Segundo ela, há mais de três anos os guardas municipais deixaram de atuar nesses locais, incluindo Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Centros de Atenção Integral à Saúde (CAIs) e outros postos de atendimento.

“Nós já encaminhamos diversos ofícios à Secretaria Municipal de Saúde cobrando providências, e a promessa era de que os guardas municipais retornassem, inclusive com a oferta de horas extras para suprir essa necessidade. No entanto, até agora nada mudou”, afirmou Roberta Rios.

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) teve sua frota reduzida após a realocação de guardas para outras funções, como a vigilância em praças e escolas. Com isso, algumas unidades ficam desguarnecidas em relação à segurança. Essa mudança ocorreu durante a gestão do ex-prefeito de Goiânia, Rogério Cruz.

A presidente afirmou que a única forma de segurança disponível nas unidades de saúde é um sistema semelhante ao “botão do pânico”, utilizado em casos de medidas protetivas, para acionar emergências em situações de violência.

Roberta destacou que os casos de agressão a profissionais de saúde são frequentes e citou episódios recentes no CAIS de Campinas e no CAIS Cândida de Morais. “Infelizmente, esses casos são crescentes. Existe uma responsabilidade do poder executivo, que retirou a segurança das unidades e, de certa forma, contribui para essa situação ao incentivar uma visão negativa sobre os servidores públicos.”

Segundo a presidente do sindicato, a gestão municipal tem culpado os servidores pelo caos na saúde, o que gera uma relação de animosidade entre a população e os profissionais. “Quando o governo coloca no noticiário que há uma ‘máfia de atestados’ sem apresentar dados concretos, ele acaba estimulando a população a enxergar os servidores como vilões. O servidor trabalha em condições extremamente precárias, sem insumos básicos como luvas, máscaras, seringas e medicamentos essenciais, e ainda é responsabilizado pelo caos na saúde.”

Ela ressaltou que a violência enfrentada pelos profissionais não é apenas física, mas também psicológica e verbal. “Recepcionistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros profissionais da linha de frente sofrem diariamente com ameaças e agressões devido à insatisfação dos pacientes com a demora no atendimento. Essa é uma demanda urgente que já foi notificada ao Ministério Público, ao Ministério Público do Trabalho e a outros órgãos, mas até agora não tivemos solução”, concluiu.

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