Por que Gusttavo Lima incomoda o bolsonarismo?

A declaração do cantor sertanejo Gusttavo Lima sobre sua intenção de disputar a presidência da República em 2026 pegou muitos de surpresa, especialmente o núcleo bolsonarista, que vê no artista uma ameaça à sua hegemonia no espectro da direita brasileira. Apesar de ser uma figura conhecida e admirada por milhões de brasileiros, a possível candidatura de Lima expõe fissuras no movimento bolsonarista e revela por que sua entrada no cenário político incomoda tanto os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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Gusttavo Lima é um dos nomes mais populares do sertanejo brasileiro, com uma carreira consolidada e uma base de fãs que atravessa fronteiras. Sua influência não se limita ao mundo da música: ele é uma figura querida no agronegócio, setor que tem grande peso político e econômico no país, e mantém conexões com a classe artística, incluindo colegas do meio sertanejo. Essa popularidade é um trunfo que o coloca em vantagem em uma eventual disputa eleitoral, já que ele não precisaria construir uma imagem do zero, como outros possíveis candidatos.

Enquanto figuras como o governador Ronaldo Caiado (UB) ou o coach Pablo Marçal ainda lutam por reconhecimento nacional, Lima já possui uma projeção que rivaliza até mesmo com a de Lula (PT) e Bolsonaro.

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Uma pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta segunda-feira (3), reforça o potencial de Gusttavo Lima como candidato. Em um eventual segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o cantor aparece com 35% das intenções de voto, contra 41% do petista. A diferença de 6 pontos percentuais é a menor entre todos os cenários testados, superando até mesmo o governador de Goiás, que tem a maior diferença em relação a Lula.

Ameaça à hegemonia bolsonarista

O bolsonarismo se consolidou como a principal força da direita brasileira nos últimos anos, com Jair Bolsonaro como seu líder incontestável. No entanto, a inelegibilidade do ex-presidente, devido às condenações no TSE, abre espaço para que outras figuras surjam como alternativas. Gusttavo Lima, com sua popularidade e carisma, representa uma dessas alternativas, mas sua entrada no jogo político é vista como uma rebelião contra o núcleo bolsonarista.

O especialista em Marketing Político e mestrando em Comunicação pela UFG, Felipe Fulquim avalia que a possível candidatura do cantor à presidência da República em 2026 traz elementos que podem incomodar o bolsonarismo. Fulquim destaca que Lima é uma figura pública conhecida nacional e internacionalmente, com forte apelo no agronegócio e na classe artística, o que lhe confere uma base eleitoral significativa. “Ele tem influência sobre votos da direita, do agro e até entre colegas do sertanejo. Isso é um trunfo que poucos candidatos têm”, afirma.

No entanto, Fulquim ressalta que, apesar de sua popularidade, Lima precisará se adaptar ao jogo político, que é “muito diferente de um espetáculo musical”. O especialista explica que o cantor terá que cumprir ritos como filiação partidária, formação de alianças e construção de uma plataforma política sólida. “Ele precisa fazer uma virada de chave, aproveitando o capital social que tem como artista, mas entendendo que a política exige estratégia e construção de uma persona política”, diz.

Fulquim também aponta que a expertise de Lima em redes sociais e sua história de superação são pontos fortes, mas ele enfrentará desafios, como o escrutínio sobre seu histórico e a necessidade de se sair bem em debates e embates políticos. “Ele já começa com vantagem por ser conhecido, mas a política é um jogo de provocação e brigas, como um Big Brother. Como ele se sairá nesse cenário é uma grande expectativa”, conclui. Para Fulquim, Lima é um “bom candidato” com potencial, mas precisará se preparar para os desafios que virão.

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