Mesmo com aumento de 65% nos transplantes, duas mil pessoas aguardam na fila de órgãos

Receber a notícia de que foi contemplado com um órgão para transplantes é um momento de renascimento. Para muitas pessoas, é a esperança de continuar vivendo, superando desafios de saúde que pareciam impossíveis. É o caso de Zilda, uma dona de casa que transformou sua vida após passar por um transplante de rim. Em 2001, Zilda começou a sentir falta de ar e inchaços. 

Inicialmente ela pensou que fosse um problema cardíaco, mas após exames detalhados, foi encaminhada a um nefrologista, que diagnosticou insuficiência renal crônica. “Em 14 dias, já precisei iniciar a hemodiálise. Foi muito difícil porque minha pressão oscilava muito, e eu não conseguia eliminar líquidos naturalmente”, relembra.

Ela passou um ano e nove meses em hemodiálise até realizar o transplante, que foi possível graças à sua sobrinha, Lúcia, doadora viva. Em 2003, realizou o procedimento na Santa Casa e, desde então, vive uma vida com qualidade e sem intercorrências. “Graças a Deus, nunca tive rejeição. Faço acompanhamento de dois em dois meses e levo uma vida normal”, conta.

Zilda destaca que a causa de sua insuficiência renal foi a nefrite, uma doença silenciosa agravada pelo uso inadequado de medicamentos. “Eu me automedicava por dores nas costas e acabei comprometendo meus rins”, alerta, ressaltando a importância do cuidado médico.

A história de João Paulo, que é jornalista, também teve sua vida marcada pelos transplantes. Aos 15 anos, foi diagnosticado com glomerulonefrite, que evoluiu para insuficiência renal. Sua mãe foi a doadora compatível, e o transplante ocorreu, proporcionando 21 anos de estabilidade.

“Transplante é um tratamento, não uma cura definitiva”, explica João Paulo. Após 21 anos de estabilidade com o rim doado por sua mãe, ele enfrentou a perda da funcionalidade do enxerto no final de 2023, marcando o início de uma nova batalha. “Foi um momento difícil, mas também uma oportunidade de aprender e crescer”, reflete. 

Desde então, ele voltou à hemodiálise, adaptando sua rotina ao tratamento enquanto realiza os exames necessários para um novo transplante. Agora, com sua irmã compatível como doadora, João Paulo mantém a esperança. “É um desafio, mas cada etapa é um passo para recomeçar e viver com mais gratidão pela segunda chance que está por vir.” A oportunidade de ser transplantado passa por diversos fatores, mas dizer que houve um crescimento no número de doadores isso quer dizer que cada vez mais pessoas e familiares estão se atentando para salvar outras vidas.

Assim é o caso do estado de Goiás, que nos últimos cinco anos apresentou um notável crescimento no número de transplantes de órgãos, com 3.414 procedimentos realizados nesse período. Em 2024, o Estado atingiu um marco histórico com 114 doadores efetivos, permitindo a realização de 891 transplantes. Esse avanço é atribuído a campanhas de conscientização, aprimoramento de práticas médicas e treinamentos nas unidades de saúde para a correta notificação de casos de morte encefálica, um passo essencial para viabilizar o processo de doação.

Katiuscia Freitas, gerente da Central Estadual de Transplantes, destaca a importância do consentimento familiar. “Trabalhamos para que as pessoas manifestem aos familiares o desejo de doar, promovendo diálogos conscientes sobre o tema”, explica. Apesar do aumento de 18% nas notificações de morte encefálica, o desafio de sensibilizar as famílias permanece.

O Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG) consolidou-se como o principal centro transplantador de Goiás, sendo responsável por 98% dos procedimentos. Em 2024, o HGG ampliou sua atuação, iniciando transplantes de pâncreas e medula óssea autóloga, com destaque para o aumento de 102% nos transplantes de medula em comparação a 2023.

Goiás realiza transplantes de rins, fígado, pâncreas, córneas, medula óssea e tecido músculo-esquelético. Atualmente, cerca de 2 mil pessoas aguardam na fila por um órgão. “Nossa meta para 2025 é aumentar o número de doadores e beneficiar ainda mais pessoas com a chance de recomeçar suas vidas”, afirma Katiuscia Freitas.

Sistema Único de Saúde realiza 96% dos transplantes

A nível nacional, os transplantes de órgãos têm avançado consideravelmente, embora ainda haja desafios a serem superados. No primeiro semestre de 2024, o Brasil bateu um recorde com 14.352 transplantes realizados, superando o mesmo período de 2023. Esse crescimento é reflexo de campanhas de conscientização mais eficazes e de avanços nas tecnologias médicas, proporcionando uma nova chance de vida para milhares de pessoas.

Em 2023, o transplante de rim foi o segundo órgão mais transplantado no país, com mais de 10 mil procedimentos, mas ainda abaixo da demanda crescente. No entanto, a fila de espera por órgãos continua a ser um obstáculo significativo, com mais de 53 mil pacientes aguardando, sendo 32.862 adultos e 335 pediátricos na lista de espera por um transplante de rim até o final de 2023.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável por cerca de 96% dos transplantes realizados no país, desempenhando um papel fundamental no financiamento e na implementação do processo, garantindo acesso a esse tratamento vital para uma parcela significativa da população. 

No entanto, as disparidades regionais continuam sendo um desafio. Enquanto grandes centros urbanos como São Paulo e Brasília apresentam números expressivos de transplantes, em algumas regiões do Norte e Nordeste a falta de infraestrutura e de doadores é mais notável, o que gera desigualdade no acesso ao tratamento.

O futuro dos transplantes no Brasil depende da ampliação da rede de doadores, o que exige um esforço contínuo de educação e conscientização. A criação de programas de incentivo à doação de órgãos e o apoio às famílias em momentos delicados são essenciais para aumentar o número de doadores. 

O uso crescente de tecnologias, como a preservação de órgãos, e melhorias na compatibilidade entre doadores e receptores também são áreas promissoras, que podem aumentar o sucesso dos transplantes e reduzir as filas de espera, permitindo que mais pessoas tenham uma segunda chance de viver.

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