Pesquisa revela papel dos povos tradicionais na preservação ambiental no Brasil

A confluência de três biomas — Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga — entre Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo abriga um dos mais importantes “Refúgios Bioculturais” do Brasil. O conceito, analisado pelo pesquisador Rodrigo Martins dos Santos, relaciona a biodiversidade local à presença de povos tradicionais, como indígenas e quilombolas, que atuam como agentes da preservação ambiental. Segundo sua tese de doutorado, o desmatamento nessas áreas é quatro vezes menor do que em outras regiões.

O estudo, baseado na atualização de mapas etnolinguísticos do século XX, documentou 186 etnias que existiam antes da chegada dos europeus e identificou 34 refúgios indígenas e 14 de comunidades tradicionais. A análise apontou uma relação direta entre a conservação da biodiversidade e a resistência cultural desses povos.

Além do impacto ambiental, a pesquisa trouxe contribuições para a linguística ao mapear a distribuição das línguas indígenas nos diferentes biomas. Famílias linguísticas como Puri, Kariri e Jê mostraram relações diretas com ambientes específicos, enquanto o Tupi-Guarani se destacou pela ampla disseminação, possivelmente influenciando sua escolha como língua franca no Brasil colonial.

Os resultados reforçam a importância da demarcação e proteção de territórios tradicionais como estratégia de preservação. A pesquisa também gerou mapas detalhados sobre a progressiva desnaturação do território brasileiro desde o século XVI.

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