O amor depois dos 60: afetividade, desafios e benefícios na terceira idade

O amor na terceira idade é um tema que tem ganhado cada vez mais atenção de pesquisadores, mas ainda enfrenta preconceitos e estereótipos enraizados. A ideia de que o envelhecimento está associado à solidão ou à perda do interesse em relacionamentos amorosos e sexuais persiste, apesar das evidências científicas que comprovam os benefícios da afetividade para a saúde e a qualidade de vida dos idosos.

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, intitulado Envelhecimento, amor e sexualidade: utopia ou realidade?, destaca que o amor e a sexualidade na velhice continuam sendo temas negligenciados. O artigo ressalta que, embora o desejo e a necessidade de afeto não desapareçam com o tempo, a sociedade ainda impõe barreiras que dificultam a vivência plena desses sentimentos. Segundo os pesquisadores, superar esse tabu é importante para garantir o bem-estar dos idosos.

Além dos desafios sociais, os relacionamentos na terceira idade trazem impactos positivos para a saúde mental. Um artigo publicado em junho de 2024 pelo Centro de Estudos e Inclusão Campinas aponta que o amor nessa fase ajuda a afastar sentimentos de solidão, ansiedade e depressão. A companhia de um parceiro ou parceira permite que os idosos se sintam mais seguros emocionalmente, o que melhora a autoestima e contribui para um envelhecimento mais saudável.

A dissertação Relação amorosa na terceira idade, disponível no repositório da Fiocruz, reforça que, para muitos idosos, o vínculo afetivo é ainda mais relevante do que a atividade sexual. O estudo também traz um olhar para a diversidade dentro da velhice, destacando os desafios enfrentados por idosos LGBTQIA+, que muitas vezes sofrem com o medo da rejeição familiar e a falta de espaços seguros para expressar sua afetividade.

Do ponto de vista físico, os benefícios dos relacionamentos na terceira idade também são evidentes. Segundo um artigo do Instituto de Longevidade, atualizado em outubro de 2024, manter um romance estável reduz os níveis de estresse e ansiedade, fortalece o sistema imunológico e até mesmo melhora a cognição. A troca de carinho e o apoio mútuo dentro de um relacionamento podem ter um impacto direto na prevenção de doenças e na longevidade.

Apesar disso, o amor na terceira idade ainda é visto com estranhamento, especialmente quando envolve demonstrações públicas de afeto ou casamentos tardios. Muitas famílias encaram o desejo de um idoso por um novo relacionamento como algo desnecessário, enquanto instituições de saúde e lares para idosos raramente consideram a afetividade como um aspecto essencial para o bem-estar dos residentes.

A falta de informação e o preconceito também resultam em uma baixa adesão dos idosos a cuidados relacionados à saúde sexual. Muitos evitam buscar orientação médica sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, acreditando que esses temas não dizem respeito à sua realidade. Especialistas defendem que a educação sexual na terceira idade deve ser incentivada, garantindo que os idosos possam viver sua afetividade com mais segurança e liberdade.

Outro fator importante é a reconstrução da vida amorosa após a viuvez ou o divórcio. Muitos idosos encontram dificuldades para se abrir a um novo relacionamento depois de longos anos em uma união estável. Além do receio de julgamentos, questões financeiras e patrimoniais também pesam na decisão de iniciar um novo compromisso. No entanto, pesquisas indicam que aqueles que se permitem viver um novo amor relatam mais satisfação com a vida e maior motivação para cuidar da própria saúde.

A afetividade na terceira idade não deve ser vista como um privilégio ou uma exceção, mas sim como um direito. Com o aumento da expectativa de vida, cada vez mais idosos terão a chance de viver essa fase com plenitude. Para isso, énecessário derrubar os tabus que cercam o tema e garantir que o amor, em todas as suas formas, continue sendo valorizado em todas as idades.

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