A LEITURA NO ESPAÇO ESCOLAR?

“Ah…..!!! O livro!!! Um senhor da terceira idade que povoa prateleiras empoeiradas de bibliotecas, com a boca amarelada, talvez com alguns dentes faltando, esperando a morte chegar.” Não! Não é uma paródia da canção de Raul Seixas (Ouro de tolo – 1973). É uma realidade que precisa urgentemente ser modificada, renovada!

Da mesma maneira que a chamada “terceira idade” foi recentemente atualizada para “melhor idade” é imperativo que sua atualização seja incentivada, apoiada, patrocinada e fomentada!

As novas gerações mergulhadas no advento da popularização da internet se afastam cada vez mais dos livros impressos e até mesmo dos digitais. Preferem mensagens curtas de ortografia duvidosa e recheadas de emoticons, emojis, gifs e outros termos que ainda tento aprender. Livros? São grandes e enfadonhos! Assim declaram com naturalidade e consideram desperdício de tempo. Mas a culpa não é da internet. A internet socializou, democratizou e expandiu exponencialmente o acesso às informações (de todo tipo).

A culpa é da dificuldade do ser humano em acompanhar as mudanças de uma geração a qual uma geração anterior tem a missão de educar!

Este senhor, o livro, está sim em sua melhor idade, mas somente será descoberto, ou redescoberto, com a compreensão de sua importância. Gerações anteriores aceitavam ordens e determinações com facilidade, fosse por respeito ou temor, cumpriam suas obrigações. Atualmente questionam, encaram e afrontam. Nem sempre por falta de respeito, mas porque exigem motivos, querem justificativas que possam ser compreendidas para assumirem determinados comportamentos.

Ler um livro precisa ser um ato de prazer! Impor leituras sem antes despertar o interesse e sem apresentar o motivo pelo qual se está lendo, tornou-se inaceitável.

O brilhante livro “Como um romance”, de Daniel Pennac, habilmente traduzido por Leny Werneck, desperta uma mescla de emoções, em que ora nos vemos na personagem estudante/leitor, ora na figura do professor e, pasmem, ora como se fôssemos o próprio livro!

Pennac permite que transformemos o livro em uma personagem viva e nos ensina a celebrar sua vida e chorar sua morte. Também nos mostra a possibilidade de “conversar” com o livro e transformar o objeto em real companheiro.

Considerando a vasta experiencia do autor como professor, é possível identificar suas propostas de ensino inseridas em um contexto agradável e de leitura rápida, porém sem jamais ser superficial. Seus questionamentos são profundos!

  • “E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse, de repente, partilhar sua própria felicidade de ler?”;
  • “O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque se sabe mortal. Ele vive em grupo porque é gregário, mas lê porque se sabe só.”;
  • “A questão não é se tenho tempo para ler ou não (tempo que, aliás, ninguém me dará), mas se me ofereço ou não a felicidade de ser leitor.”.

Não podemos obrigar ninguém a ler, e principalmente, não devemos querer que alguém leia algo por pura obrigação.

Em termos práticos, o investimento no aculturamento familiar é um grande exemplo de incentivo. Envolver famílias em projetos de leitura, seja por pequenas premiações ou pelas possibilidades de progresso oferecidas pelo conhecimento despertado com a leitura. Escolher opções literárias dentro da realidade de cada círculo trabalhado, e falo em opções para não ter leitura específica determinada, mas opções que despertem curiosidade e interesse.

E, retornando à grande vilã do início do texto, a internet, transformá-la na maior aliada é uma missão! Não só a internet, mas a tecnologia em geral! Ebooks baratearam o custo dos livros e já encontramos muitas opções interativas, que misturam a leitura de qualidade com jogos, passatempos e outras ferramentas que podem ser usadas para o incentivo. É preciso começar! Tirar o velho do asilo e levá-lo ao parque respirar novamente o ar puro, sentir o aroma da vida ainda presente e aspirar a modernidade que deverá fazê-lo mais imortal ainda.

Saulo Semann

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