Icesp é o hospital que mais atende tumores avançados em SP – 15/02/2025 – Equilíbrio e Saúde


Em consulta com a dentista para acerto do aparelho ortodôntico, a advogada Erika Costa de Santana descobriu que tinha um cisto na boca. Logo depois, uma tomografia revelou que, na verdade, tratava-se de um tumor que já ocupava toda a mandíbula.

No Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – Octavio Frias de Oliveira), ela passou por uma cirurgia de 14 horas, na qual foram retirados o tumor e a mandíbula (junto com os dentes), que foi recriada com ajuda da tecnologia 3D, usando enxertos de osso e de músculo da perna e placa de titânio.

“No início foi muito difícil. O tumor tinha comido toda a mandíbula e estava subindo para o maxilar. Achei que nunca mais fosse falar, mas as sessões com a fonoaudióloga e o apoio do meu marido me ajudaram muito. Quando percebi, já estava toda tagarela, falando que nem uma gralha”, conta Erika, 43.

Quase dois anos depois, a advogada ainda está em tratamento. Duas vezes por mês, ela retorna ao hospital para exames e consultas com uma equipe multidisciplinar e ainda deve passar por mais cirurgias.

O câncer de Erica, que está dentro do grupo de tumores de cabeça e pescoço, é um exemplo de atendimento no Icesp, a instituição pública paulista que cuida dos casos de câncer mais graves e mais raros no estado de São Paulo, segundo dados da Fundação Oncocentro de São Paulo.

Quase seis em cada dez dos tumores ali tratados (57%) estão em estágios avançados (3 e 4). Nos outros hospitais oncológicos que atendem o SUS (Sistema Único de Saúde) paulista, essas taxas variam entre 14% e 39%.

William Nahas, presidente do conselho diretor do Icesp, afirma que a gravidade dos quadros clínicos que chegam à instituição têm um impacto direto na complexidade dos tratamentos oferecidos, que demandam mais recursos do ponto de vista operacional e financeiro.

“Recebemos doentes diferentes em relação aos atendidos por alguns hospitais que captam [por meio de ações de prevenção, por exemplo]. Nossos pacientes são encaminhados pela Cross [central paulista de regulação de oferta de serviços de saúde], que vincula a complexidade do doente a uma instituição de excelência.”

Maria Del Pilar Estevez, diretora do corpo clínico do Icesp, lembra que desde a sua inauguração, há 16 anos, o hospital é dedicado ao tratamento e não a ações de rastreamento [como mutirões de mamografia] e de diagnóstico.

“Além da complexidade, atendemos grupos que nem todos os hospitais atendem, por exemplo, os que têm tumores de cabeça e pescoço. São casos em que os pacientes têm muitas complicações durante o tratamento.”



Além da complexidade, atendemos grupos que nem todos os hospitais atendem, por exemplo, os que têm tumores de cabeça e pescoço. São casos em que os pacientes têm muitas complicações durante o tratamento

A advogada Érica, por exemplo, sofreu rejeição de duas placas usadas para a reconstrução da mandíbula e aguarda agora o momento de testar a terceira para, enfim, seguir com o tratamento e ter de volta os tão sonhados dentes da arcada inferior.

Um estudo que analisou dados de quase 600 mil de pacientes oncológicos do sistema norte-americano de saúde Medicare (destinado aos idosos) mostra que um câncer de próstata no estágio 1 pode custar de US$ 7.640 a US$ 17.378 no primeiro ano de tratamento [R$ 43.600 a R$ 99.300]. Já em estágio 4, o custo varia entre US$ 58.783 e US$ 92.344 [R$ 335.900 a R$ 527.800].

Joyce Chacon Fernandes, diretora executiva do Icesp, explica que se um pequeno tumor de cabeça e pescoço é diagnosticado em um exame clínico na atenção primária, o procedimento é mais simples. O nódulo é extraído e a pessoa passa a fazer um acompanhamento ambulatorial.

“Mas o paciente que chega aqui, em geral, é alcoolista, tabagista e vai procurar atendimento em um estágio muito tardio. Esse perfil de paciente pode precisar 30 sessões de laser, 30 sessões de radioterapia, a cirurgia pode levar até 16 horas, ele fica mais tempo na UTI e internado. Depois, ainda precisa fazer quimioterapia.”

Maria Estevez, da diretoria clínica, lembra que o custo maior desse paciente, especialmente no primeiro ano de tratamento, ocorre porque o tratamento envolve várias áreas, como a cirúrgica, a radioterapia e a de exames. “É um custo que não se dilui ao longo do tempo, mesmo considerando pacientes com expectativa de vida curta.”

Além da assistência direta, o Icesp tem sido peça-chave na política paulista de câncer. Seus especialistas ajudaram, por exemplo, na criação de novos protocolos para que casos de alta suspeição de câncer ganhem mais celeridade no diagnóstico e no acesso a tratamentos no SUS paulista.

“Hoje em dia, não se exige mais a biopsias de alguns tipos de câncer. Apenas com a imagem esse paciente já ingressa no serviço e isso acelera o atendimento”, diz Fernandes.

A instituição também atuou em treinamentos de profissionais da atenção primária para capacitá-los na identificação de situações em que devem suspeitar de um câncer. “E esse paciente tem que ter uma via rápida dentro do sistema. Não pode ficar disputando vaga com exames de rotina”, reforça Estevez.

Quando o paciente alcança o critério de cura do câncer, após cinco anos sem recidiva, o Icesp o encaminha para ser seguido com profissionais da atenção primária, com protocolos bem definidos de acompanhamento.

“Ele sabe para onde vai e quem o recebe sabe o fazer. Passamos uma orientação por escrito: esse paciente precisa fazer uma mamografia anual, uma endoscopia. Também é garantido o retorno dele para o Icesp, caso tenha uma recidiva [do tumor]”, explica Estevez.

Muitos manuais de conduta clínica do Icesp e da estrutura de atendimento são hoje replicados em outras instituições públicas do país. “O que a gente faz aqui para melhorar, agilizar e humanizar o atendimento é sempre implementado com a perspectiva do SUS”, diz.

O Icesp e o Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) também aguardam aprovação de um acordo de cooperação técnica apresentado ao Ministério da Saúde com objetivo de desenvolver pareceres sobre medicamentos oncológicos de alto custo, muitos deles demandados por pacientes por meio de ações judiciais.

“A ideia é mostrar o quão valioso cada medicamento é na perspectiva de cura ou de controle do câncer, e em que etapa do desenvolvimento da doença ele valeria a pena ser ministrado ao paciente”, explica Arnaldo Hossepian Júnior, diretor da Fundação Faculdade de Medicina.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde



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