As novas frentes do crime organizado – 20/02/2025 – Opinião


O poder público brasileiro precisa ficar mais atento à reconfiguração dos negócios do crime organizado. Apesar de o tráfico de drogas ilícitas ainda ser uma atividade rentável, e geradora de violência, facções têm atuado cada vez mais na comercialização de outros produtos, seja por meio do contrabando ou para lavagem de dinheiro.

Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que, em 2022, esses grupos criminosos faturaram R$ 146,8 bilhões no mercado de combustíveis, ouro, cigarros e bebidas —o que representa 42% de sua receita total, de R$ 348,1 bilhões. Tal montante excedeu em quase dez vezes a cifra obtida com cocaína, projetada em R$ 15,2 bilhões (4% do total).

A maior fonte de receitas são os crimes cibernéticos e roubos de celulares, que renderam R$ 186,1 bilhões —53% do acumulado.

A diversificação dos negócios das facções não é novidade, mas trata-se do primeiro estudo dedicado a mensurar a inserção do crime na economia formal.

Além da alta demanda por esses produtos, facções têm invadido outros setores devido a penas mais leves previstas para infrações como contrabando, fraude e sonegação. Ademais, são formas de esconder o dinheiro que ganham ilegalmente.

Por óbvio, as perdas para os cofres públicos são significativas. De acordo com o estudo, cerca de R$ 72 bilhões deixaram de ser arrecadados em 2022 devido ao volume estimado de bebidas contrabandeadas e falsificadas; no caso da venda ilegal de combustíveis, em torno de R$ 23 bilhões.

Com faturamento nababesco, as organizações expandem seu poder e raio de ação, elevando indicadores de violência, não apenas nos grandes centros urbanos.

O relatório aponta ganhos de R$ 18,2 bilhões no comércio de ouro. A associação entre o tráfico e o garimpo fez com que, em 2022, a taxa de homicídios na Amazônia Legal (33,8 por 100 mil habitantes) fosse 45% maior do que a média nacional (23,3).

Membros do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC) já estão atuando em 178 dos 772 municípios da região, impactando a vida de 59% da população local.

O cenário revela que, para combater facções, não bastam ações teatrais de policiamento ostensivo, com frequência violentas e sem resultado efetivo.

Governos nas três esferas precisam implementar investigação com inteligência e tecnologia para destrinchar teias econômicas. É imprescindível que o caminho do dinheiro seja traçado, e as fontes que jorram recursos ao crime sejam cortadas pela raiz.

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