Golpe vitorioso de Bolsonaro seria pior que a ditadura – 21/02/2025 – Gustavo Alonso


Na última terça-feira (18), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi finalmente denunciado pela PGR (Procuradoria-geral da República) sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado. Defensor da ditadura militar, pode parecer que, se o golpe de Bolsonaro fosse vitorioso, viveríamos um período de terror como o vivido entre 1964 e 1985. Mas não nos enganemos: seria ainda pior.

Mesmo numa ditadura há setores e alas de diferentes matizes. Quase sempre os mais empedernidos e radicalizados são aqueles que operam nas sombras, nos porões e calabouços. São aqueles agentes da repressão, responsáveis diretos pela tortura e desaparecimento de opositores. Quando Bolsonaro dedicou seu voto pró-impeachment de Dilma Rousseff ao coronel Brilhante Ustra, estava louvando esta ala radical.

Como percebeu o jornalista Ayrton Centeno em artigo de 2020, embora Bolsonaro louve a ditadura, nunca demonstrou grandes afeições pelos generais presidentes. Ele não tem nada a ver com essa alta cúpula.

Não à toa Geisel chamou Bolsonaro de “mau militar” na entrevista que deu aos historiadores Maria Celina D’Araújo e Celso Castro que foi publicada em livro em 1997. Geisel rememorava os anos 80, quando os ditadores penduravam as chuteiras e um radicalizado Bolsonaro planejou colocar bombas na Vila Militar, na Academia das Agulhas Negras e na adutora do Guandu, no Rio de Janeiro. Expulso do exército, o capitão fazia parte dessa turma que estava disposta a tudo para não largar o osso.

A ditadura era muito diversa do que defende Bolsonaro. A política econômica da ditadura, por exemplo, insere-se na longa história de amor e ódio que o Brasil tem com o desenvolvimentismo. Herdeira da visão estatizante de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, a ditadura abraçou o intervencionismo na economia. Cabia ao Estado promover o desenvolvimento e arrancar o país a fórceps da miséria rural. A diferença é que a ditadura queria fazê-lo sem participação democrática.

Pois Bolsonaro é a negação dessa história. Depois de expulso do exército, tornou-se mero sindicalista de militares radicais sem expressão no regime democrático. Deixavam ele falar justamente pois não era ouvido por quase ninguém. O ex-capitão cresceu politicamente nos anos 2010, quando se escorou no liberalismo que crescia na sociedade. Quando virou presidente, escolheu como ministro da economia um liberal radical, Paulo Guedes, tão ineficaz quanto distante do desenvolvimentismo.

Bronco e ignorante, Bolsonaro catalisa seu ódio às universidades e à educação como um todo. Nada mais distante da ditadura. Embora controlasse o saber e criasse disciplinas como “moral e cívica” para disseminar sua visão de mundo, a ditadura militar não era contra a educação. Pelo contrário, no período ditatorial expandiu-se o ensino universitário de forma impressionante, algo que só foi feito na mesma magnitude, décadas mais tarde, nos primeiros mandatos de Lula. Se Bolsonaro aceita deseducados terraplanistas e apeladores de ETs entre seus correligionários, a ditadura jamais flertou com tamanha barbaridade.

A ditadura tinha política externa independente. Em momentos cruciais, quando da construção das usinas nucleares nacionais, por exemplo, houve choques com os americanos. Bolsonaro, por sua vez, é mero lambe-botas dos EUA. Embora levante a bandeira brasileira enganando as massas, abdica de qualquer autonomia nacional na prática.

A ditadura foi um período terrível de nossa história. Um golpe vitorioso de Bolsonaro seria ainda pior.


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