Plano Safra: agro fala em risco de inflação de alimentos – 21/02/2025 – Mercado


Entidades do agronegócio saíram em campanha nesta sexta-feira (21) contra a suspensão de linhas de crédito subsidiadas do Plano Safra 2024/2025. Na visão das associações, a medida ameaça planos de investimentos dos produtores, além de trazer risco de novas pressões sobre a inflação dos alimentos.

Após a reação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo Lula (PT) vai editar uma medida provisória até segunda (24) abrindo crédito extraordinário para cobrir as linhas suspensas. O valor não foi especificado, mas, segundo o chefe da pasta, será “algo em torno de R$ 4 bilhões”.

Em nota, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) declarou nesta sexta que o setor não pode ser prejudicado pelos entraves no Orçamento. Conforme a entidade, o impasse ocorre em um momento em que agricultores já se preparavam para financiar a safra de inverno e já haviam adquirido parte dos insumos necessários.

“A CNA entende as dificuldades orçamentárias, porém sugere que o governo reveja a decisão e garanta os recursos prometidos, dentro do planejado, garantindo a competitividade e a sustentabilidade do setor agropecuário.”

A suspensão havia sido confirmada na quinta (20) por falta de recursos no Orçamento para bancar a equalização das taxas de juros em um momento de alta da Selic.

A suspensão atinge todas as linhas de crédito, com exceção das ações de custeio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).

Segundo o governo, a paralisação ocorreu porque a LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2025 ainda não foi aprovada.

“Essa limitação de crédito subsidiado vai atingir diretamente os agricultores em mais um ano de safras recordes, pois acarretará uma perda de produtividade no campo e consequentemente um aumento no preço dos alimentos, que serão repassados aos consumidores, além de provocar uma perda da competitividade no mercado internacional”, afirmou a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio).

A Orplana (Organização das Associações de Produtores de Cana de Açúcar do Brasil) reforçou o coro.

“A suspensão comprometerá os planos de investimento dos produtores rurais, afetando a geração de empregos, inibição de investimentos e a descarbonização do Brasil”, disse José Guilherme Nogueira, CEO da entidade, também em nota.

O agronegócio é um nicho no qual o presidente Lula enfrenta resistências.

“O impacto [da suspensão] não se limita apenas ao campo. A falta de crédito pode refletir diretamente no abastecimento interno, influenciando o preço dos alimentos e pressionando a inflação”, disse a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho) de Mato Grosso.

A carestia da comida virou dor de cabeça para o governo, que fala em buscar medidas para contê-la.

Economistas, porém, veem pouco espaço para ações eficazes, já que a elevação dos preços esteve associada a fatores como problemas climáticos e dólar alto em meio a incertezas fiscais.

Para Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, a suspensão do Plano Safra não tem impacto imediato na inflação dos alimentos, mas poderia causar pressões de médio ou longo prazo.

“Se o custo de produção é elevado, acaba sendo repassado para o preço”, diz. “No Brasil, a gente sabe como o peso do subsídio é negativo, mas o subsídio agrícola comparado a outros mundo afora é extremamente pequeno [no país].”

“Os subsídios do Plano Safra estão dentro do Orçamento, então é uma discussão que também deveria ser feita com o Congresso, mas está vindo de maneira unilateral pelo Executivo. Vai colocar mais apreensão também na relação com o Congresso, especialmente com a Frente Parlamentar da Agropecuária”, completa.

Fernando Iglesias, coordenador do departamento de análises da consultoria Safras & Mercado, diz que já está caro produzir no Brasil devido ao ciclo de aumento dos juros.

Se a suspensão de linhas do Plano Safra não for derrubada em breve, poderá gerar uma pressão adicional nos custos de produção, com reflexos mais à frente nos preços dos alimentos, segundo o analista.

“É um desafio a mais.”

Para o professor Rodolfo Coelho Prates, da PUC-PR e da Univille, a paralisação poderia gerar desarranjo na cadeia produtiva.

“O pessoal não deixa de plantar, mas planta menos. É uma atividade que precisa de crédito.”



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