O estilo “cacofônico” do prefeito de Goiânia

O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), tem chamado atenção nas redes sociais por sua postura “combativa” e “rude” durante fiscalizações na cidade. Nos últimos dias, vídeos viralizaram mostrando o gestor abordando trabalhadores de forma agressiva, como no caso de um dono de distribuidora de bebidas, que foi ameaçado por supostamente não manter a calçada limpa. “Te multo uma vez e te fecho na segunda”, disparou o prefeito ao comerciante.

Outro episódio, no mesmo dia, envolveu um vendedor de abacaxi, que ouviu do prefeito a mesma coisa. “Se não ensacar isso aqui, prendo seu caminhão”. Embora sejam válidas campanhas de reeducação, a estratégia de Mabel, tem gerado críticas quanto a abordagem com uma enxurrada de comentários negativos nas postagens.

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O HOJE conversou com dois especialistas para avaliar a comunicação do prefeito. O cientista político Guilherme Carvalho considera a comunicação de Mabel “cacofônica”, ou seja, desorganizada e sem um enquadramento claro. Para ele, embora a comunicação agressiva possa surtir efeitos positivos no eleitorado a curto prazo, ela tende a criar rejeição a médio e longo prazo se não for acompanhada de ações efetivas. “Ele precisa entregar resultados. Não adianta focar no varejo, ameaçando comerciantes e trabalhadores, se os problemas maiores estão na prefeitura, como os super salários e os rombos administrativos. O que ele está fazendo para cortar gastos, como prometeu? Ele precisa mostrar medidas efetivas”, afirma Carvalho.

Já o cientista político Lehninger Mota, disse à reportagem que Mabel captou o anseio da população por um gestor “arrojado e eficiente”, mas agora corre o risco de confundir a imagem de um administrador competente com a de alguém mal-educado e ríspido. “Existe um desejo afoito de mostrar serviço, mas essa energia está sendo gasta de forma equivocada. Ameaçar multas, fechar estabelecimentos e prender veículos não é o que a população espera de um prefeito”, analisa Mota. Ele ressalta que a população espera diálogo e orientação, não intimidações que geram mal-estar.

Bons exemplos

Enquanto Mabel adota um tom agressivo, outros prefeitos, como o de Sorocaba Rodrigo Manga (Republicanos), têm viralizado com uma comunicação descontraída e próxima da comunidade. Manga, reeleito com 73% dos votos válidos no primeiro turno, consegue transmitir a imagem de um gestor que trabalha sem perder a conexão com os cidadãos, em contraste com a postura de Mabel, que tem exposto, desnecessariamente, trabalhadores muitas vezes em situações de vulnerabilidade. Imagine estar no seu trabalho e, de repente, o prefeito chegar com uma equipe enorme, criando um clima de confronto? A pergunta que fica é: será que Mabel teria a mesma postura ao lidar com cidadãos de maior poder aquisitivo?

A população espera campanhas educativas e diálogo, que promovam a conscientização sem gerar constrangimento. A comunicação agressiva pode até viralizar, mas, como alerta Lehninger Mota, “muita energia está sendo gasta com movimentos errados”. E, assim, o desafio para Mabel será equilibrar a imagem de um bom gestor com a de um líder que sabe ouvir e educar, sem precisar intimidar. Apesar de a intenção do prefeito ser mostrar trabalho e preocupação com a limpeza da cidade, a forma como ele tem conduzido essas ações pode gerar mais resistência do que adesão. 

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