Gleisi na articulação mantém chave do cofre com Lula – 01/03/2025 – Poder


A decisão do presidente Lula (PT) de entregar a articulação política do governo à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deixa o partido na gerência do cofre de emendas, estabelece postura mais incisiva na relação com o Congresso e mira a construção de palanques regionais para 2026.

O movimento é um balde de gelo para políticos do centrão, mercado financeiro e integrantes da equipe econômica, ao deixar claro que a reforma ministerial não terá a abrangência e direção por eles desejadas.

As mudanças nos ministérios, na visão desses atores, seriam a chance de um chacoalhão no governo, com a saída de Rui Costa da Casa Civil e a “despetização” do Palácio do Planalto. A expectativa cresceu quando Lula despencou nas pesquisas de popularidade. Mas o presidente resolveu ir no sentido contrário.

O novo momento das emendas parlamentares, com mais transparência sobre os autores, dificultará a gestão de maiorias pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

No modelo anterior, da emenda de relator e depois de comissão, Arthur Lira (PP-AL), pela Câmara, e Alcolumbre, no Senado, distribuíam recursos bilionários para aliados. Quanto mais fiéis, maior o volume de verbas. Até a oposição entrava no bolo para pegar mais leve num projeto ou outro, sempre na surdina.

Como o plenário não tinha certeza de quem recebia e quanto, Lira e Alcolumbre manejavam habilmente a construção de maiorias. Com a transparência, a divisão tende a ser mais equânime. O controle de quem vai se beneficiar mais ou menos terá que ocorrer “na boca do caixa” –a SRI (Secretaria de Relações Institucionais), que negocia pelo governo.

Motta tentava emplacar na função o aliado Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB na Câmara. Faria uma dobradinha como a que foi firmada entre Lira e Alcolumbre com o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira no governo Jair Bolsonaro (PL). O que os dois combinavam no Congresso ele viabilizava no Executivo. Aprovaram até PECs (Propostas de Emenda à Constituição) sem grande debate.

Agora, Lula deixa com o governo, nas mãos da petista Gleisi, o controle de quem sairá beneficiado na liberação das emendas não impositivas. A fidelidade terá de ser ao Executivo. Ainda falta saber se dará certo com um governo hoje impopular e dependente de um Congresso com maioria de centro-direita.

A pauta legislativa mais importante para o governo Lula, com vistas a 2026, é cumprir a promessa de ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda. Aí entra outra missão de Gleisi: fazer o embate público com o Congresso para pressionar pela aprovação dos projetos, algo que Alexandre Padilha evitava, mesmo quando era atacado por Lira.

O Congresso ainda não diz claramente, mas já torce o bico para a compensação sugerida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad: taxar quem ganha mais de R$ 50 mil por mês com uma alíquota mínima de 10% sobre a renda. A cobrança afetará profissionais liberais que fogem da carga tributária mais alta ao receberem como pessoas jurídicas, a exemplo de médicos, advogados e alguns artistas.

Poderia-se pensar em pressão popular, mas o problema é que o PT e Lula há muito não reúnem multidões nas ruas e, exceto no caso da escala 6×1, a direita atropela a esquerda nas redes sociais —arena que o centrão toma por base para avaliar o custo de suas ações hoje em dia.

Gleisi também chega ao governo para conciliar a agenda legislativa com a negociação sobre os palanques da próxima eleição. O presidente nem sequer tem candidato ao governo em São Paulo e faltam nomes fortes para o Senado nos maiores estados.

A atual presidente do PT está em atrito com o favorito de Lula para substitui-la no partido, Edinho Silva. Trabalha para colocar alguém de sua confiança no cargo, e ambos agora precisarão se entender para evitar novos embates –que, na área econômica, já estão contratados com Haddad.

Ao alocar Gleisi na articulação política e não na Secretaria-Geral da Presidência, Lula lhe concede um protagonismo que reacende disputas internas em torno de sua sucessão, seja para 2026 ou 2030. Ela disputará diariamente com Haddad e Rui Costa quem mais influenciará o presidente.



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