Prisões devem incentivar trabalho de detentos evangélicos – 01/03/2025 – Cotidiano


Na semana passada, o Washington Times noticiou uma iniciativa liderada por grupos evangélicos nos Estados Unidos que busca a reabilitação de presos por meio da educação e da fé. Como sociólogo e documentarista, pesquisei o trabalho de ministérios cristãos dentro das prisões brasileiras. É hora de considerar seriamente formas de aprofundar essas parcerias.

Em janeiro, membros da Near Life Church dos EUA colocaram as mãos sobre três estudantes de teologia em um gesto de bênção e oraram para que Deus os guiasse em sua missão no presídio de East Meridian. A prática de enviar missionários remonta a quase 2.000 anos, mas essa cena teve um diferencial: a Near Life Church está localizada dentro da Penitenciária Estadual do Mississippi, e os três seminaristas são presos cumprindo pena de prisão perpétua.

Condenados por homicídio, os três missionários participaram de um seminário teológico dentro da prisão e, após a formatura, se ofereceram para serem transferidos para um presídio a três horas de distância, onde passaram a atuar junto aos detentos, levando assistência religiosa e apoio à unidade.

Darius, um dos participantes, passou mais de 25 anos preso. Quando questionado sobre por que escolheu se transferir para East Meridian —conhecido como “O Zoológico” devido ao histórico de violência e caos— ele respondeu:

“Fui condenado por um crime que cometi. Fui agressivo, mentiroso e manipulador. Fiz tudo pensando apenas em mim. Mas quando conheci Cristo, minha vida passou por uma mudança radical. O seminário me ensinou que a vida não é só sobre você. Causei muita dor e sofrimento. Agora, quero criar um impacto positivo na vida dos outros.”

O programa que ajudou Darius a mudar sua perspectiva é um curso de graduação de quatro anos, credenciado oficialmente, e baseado no ensino cristão. As aulas são ministradas dentro da prisão por professores voluntários, e os graduados recebem um diploma universitário. O programa aceita detentos de todas as crenças, e os estudantes vivem juntos em um bloco específico durante os estudos. Após a formatura, voluntários são enviados para atuar como pastores, conselheiros para dependentes químicos, tutores e missionários dentro do próprio sistema prisional.

A lógica por trás da iniciativa é que presos que transformam suas vidas dentro da prisão estão em uma posição única para alcançar seus companheiros de cela, muitas vezes chegando onde agentes penitenciários e ministérios religiosos externos não conseguem. Muitos, como Darius, passam por conversões religiosas profundas e buscam viver com propósito, dignidade e significado. Alguns jamais deixarão a prisão, mas querem que suas vidas tenham impacto tanto para Deus quanto para aqueles ao seu redor.

Atualmente, em parceria com o Center for Faith and the Common Good da Universidade Pepperdine, estou conduzindo um estudo de longo prazo sobre o seminário prisional no Mississippi. Apesar das diferenças culturais, há semelhanças notáveis entre esses seminários e as igrejas evangélicas lideradas por detentos dentro do sistema penitenciário do Rio de Janeiro, que pesquisei anteriormente. Prisões nos EUA e no Brasil enfrentam desafios semelhantes, como violência de gangues, tráfico de drogas, corrupção e falta de recursos. No entanto, em meio a esses desafios, igrejas lideradas por detentos atuam nos corredores das prisões e tentam transformar vidas.

O seminário prisional no Mississippi é apenas um exemplo de programas religiosos que buscam transformar o sistema prisional de dentro para fora, capacitando os próprios detentos a servirem uns aos outros. Essas iniciativas reconhecem que as prisões do mundo enfrentam problemas imensos, mas algumas das soluções podem estar dentro delas. Detentos que adotam uma postura socialmente positiva e voltada ao próximo têm grande potencial para transformar os presídios onde vivem.



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